quinta-feira, 2 de abril de 2009

Pessimismo com angu de caroço

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Trimestre se foi com baixa de 17% na indústria, de 20% na exportação, crédito parado e sangria no emprego formal

"ALGUMAS DAS últimas notícias econômicas têm sido ligeiramente melhores do que o esperado, o que decerto aconteceria em algum momento (na média, enfim, metade das notícias deveria ser melhor do que o esperado). Na maior parte dos casos, mostra que as coisas estão piorando mais devagar, mas não seria surpreendente que nós víssemos uma alta na produção industrial dentro de alguns meses, com o fim de um ciclo de queima de estoques."

Não se trata do Brasil. Isto é Paul Krugman, o Nobel de Economia. "[Se a indústria crescer nos EUA] isso não significará que o pior já passou. Houve uma pausa no início de 1931, e muitas pessoas passaram a respirar melhor. Estavam erradas. Até agora, não há nada que indique uma virada fundamental neste ano, ou no próximo, ou, aliás, até onde a vista alcança", completa Krugman.

Pode-se dizer que Krugman está ainda mais despeitado que de costume porque, por exemplo, a equipe econômica de Barack Obama não fez um pacote fiscal tão grande quanto o Nobel gostaria e é adepta de uma opinião oposta à dele no que diz respeito ao conserto da lambança financeira.

Mas alguém tem bons dados e informações para dizer que Krugman está mais errado do que o resto? Cartas para a Redação.

Descendo de nível e ao sul do Equador, vê-se torcida como a espezinhada por Krugman, e não só no governo e no mercado financeiro, ansioso por um tutu. Uma ala mais amena dos comentaristas econômicos se apega a migalhas de boas notícias, pois pessimismo é impopular.Decerto há os que tripudiam sobre Lula devido à história da "marolinha". Trata-se de viúvas do tucanato, as mesmas que baixavam a bola da crise antes que a bola de neve nos chegasse às fuças. Na sua versão da "marolinha", diziam que os alertas eram "catastrofismos" da turma "anticapitalista", de "heterodoxos", que se tratava de "coisa passageira", "crise normal do capitalismo", "breve hiato" no período de maior "prosperidade da história" (o que, aliás, é mentira) e outras palermices.

As análises relevantes ainda são um angu de caroço. Gente importante, informada e experimentada do "establishment" não se entende sobre o que se passa ou o que fazer. Vide o sururu do G20 (ou no "G4", o que interessa: EUA, China, Alemanha e Japão). Ou economistas de peso a dizer isso e seu contrário. Ou previsões diariamente furadas pelo ruído alto nos dados econômicos.

O nosso primeiro trimestre passou em branco no que diz respeito à "recuperação". Um ou outro indicador despiorou. Mas a produção industrial de fevereiro ficou 17% abaixo do que era em fevereiro de 2008. O estoque de crédito cresceu a 0,15% ao mês no primeiro bimestre, contra 2,3% na média de janeiro a setembro de 2008, antes da crise (ritmo insustentável, mas muito maior). O valor das exportações no trimestre inicial deste ano foi 20% inferior ao do início de 2008. De outubro de 2008 a fevereiro de 2009, o mercado formal deixou de criar 1 milhão de empregos (na comparação com o período anterior idêntico). O governo quase não tem como gastar mais sem fazer besteira maior. Inflação e déficit externo se comportaram, mas isso se deveu ao corretivo amargo da estagnação.

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