quinta-feira, 18 de junho de 2009

Para analistas, maior poder do BC americano é ponto alto do pacote

Cássia Almeida e Mariana Schreiber
DEU EM O GLOBO

EUA FECHAM O CERCO: Agência pró-consumidor também é considerada positiva

No Brasil, juro e controle do Banco Central inibiram operações arriscadas

O maior poder de intervenção do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) é considerado um dos pontos altos do pacote regulatório anunciado ontem pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Segundo economistas, o poder do Fed limitava-se aos bancos comerciais, o que impediu uma ação mais rápida na crise financeira que nasceu no berço americano. Aqui no Brasil, os juros altos e o controle maior exercido pelo Banco Central (BC) sobre os bancos inibiram o surgimento de operações financeiras mais complexas e arriscadas, o que permitiu que o setor se mantivesse sadio, mesmo com a quebradeira nos Estados Unidos e Europa:

- Os juros e os spreads (diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro e a taxa que cobram dos clientes) brasileiros sempre foram muito altos. Isso garantiu rentabilidade elevada aos bancos sem que eles precisassem inventar operações muito complexas - explicou Luís Miguel Santacreu, da Austin Rating.

Com o plano, o Fed poderá intervir em bancos de investimento, seguradoras e outras empresas não-bancárias que representarem risco para o sistema. O exemplo mais citado da limitação do Fed no auge da crise foi com a seguradora AIG. Com a queda do preço dos ativos em sua carteira, a seguradora foi salva pelo Tesouro Americano. O Fed nada fez, já que não tinha poder para intervir fora do ambiente dos bancos comerciais:

- Apesar de o Brasil ter uma estrutura diferente, não ser tão problemático, temos muito a aprender com essa nova regulação - afirmou Aloísio Araújo, economista da Fundação Getulio Vargas.

Outro fator que garantiu solidez ao sistema brasileiro foram as regras rígidas do BC. O BC brasileiro exige dos bancos, por exemplo, Índice de Basiléia (razão entre o patrimônio e o volume de empréstimos) mínimo de 11%, enquanto o nível recomendado internacionalmente é de 8%. No Brasil, a alavancagem dos bancos não ultrapassa seis vezes o seu patrimônio, enquanto nos EUA havia instituição emprestando 50 vezes mais do que tinha, afirma Santacreu.

Crédito ainda pouco robusto foi desestímulo a derivativos

Outro fator de resistência do sistema financeiro brasileiro foi a falta de robustez do crédito, diz Araújo. Ainda incipiente, não permitiu que produtos financeiros mais complexos, como derivativos de crédito e hipotecários, fossem desenvolvidos.

Outro ponto alto do pacote regulatório foi a agência pró-consumidor. Segundo Araújo, uma parte da crise financeira deve-se também a fraudes. E um controle maior dos contratos dos produtos financeiros, principalmente cartões de crédito, é bem-vindo. No Brasil, não há quem fiscalize ou regule a ação das administradoras:

- Os cartões de crédito estão numa zona cinzenta no Brasil. Ninguém fiscaliza taxas, cobrança de multas - critica Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central.

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