Elio Gaspari
DEU EM O GLOBO
A ministra Dilma Rousseff e seu comissariado de informações ainda não desfizeram a encrenca do dado falso de seu currículo.
Há um mês o repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que ela não tinha mestrado pela Universidade de Campinas. O banco de dados Lattes, que armazena os currículos de todos os acadêmicos brasileiros, informava que ela obtivera o título com uma disser tação intitulada “Modelo Energético do Estado do Rio Grande do Sul”. Essa titulação estava listada também nas páginas da Casa Civil e da Petrobras, cujo Conselho de Administração ela preside. Entre seus méritos universitários havia ainda o de “doutoranda” da Unicamp em economia monetária e financeira.
Exposto o vexame, sucederam-se explicações: ela frequentara os dois cursos, mas não apresentara as devidas dissertações. Pena, porque são requisito essencial para a obtenção dos títulos. A condição de doutorando só existe enquanto a pessoa faz o curso.
Dilma Rousseff deixou de ser doutoranda em 2000, quando sua matrícula foi cancelada.
A ministra eximiu-se de responsabilidade pelo texto do Lattes, e o erro mostrado no currículo da Casa Civil chegou a ser atribuído a algum servidor desavisado.
Tudo bem, Dilma Rousseff seria a única pessoa que jamais leu o próprio currículo.
O Planalto pode botar o que quiser nas biografias dos companheiros, mas a Instrução 367 da CVM determina que as assembleias gerais das empresas de capital aberto, como a Petrobras, coletem os currículos de seus conselheiros e define como “infração de natureza gave” a prestação de “informações ou esclarecimentos falsos”. Não se pode ver no mestrado inexistente da ministra um risco para os acionistas da empresa.
Nesse aspecto, está mais para insignificância.
O relatório que a Petrobras preparou em 2007 para a Security Exchange Commission, a CVM americana, incorporou a condição de “doutoranda” da ministra. Como essa expressão não existe no vocabulário inglês, algum tradutor honesto informou que “atualmente ela está buscando um grau de doutora em economia monetária e financeira na Unicamp.” A mágica virou comédia.
Atualmente a Petrobras exibe uma nova versão do currículo. Informa que ela “foi aluna de mestrado e doutorado em ciências econômicas pela Unicamp, onde concluiu os respectivos créditos”. Blá-blá-blá.
Foi aluna buscando um título que não obteve.
A ministra Rousseff é candidata à Presidência da República, pessoa de quem se esperam exemplos de conduta.
Admitindo-se que nada teve a ver com os currículos maquiados e astuciosos, resulta que desprezou o caminho mais simples: bastaria jogar detergente na titulação, esquecendo a Unicamp e dispensando acrobacias.
Ela continuaria economista diplomada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o que não é pouca coisa.
O governo governou, e a banca pagou
Quando o governo trabalha, as coisas melhoram. Há três anos começou uma negociação com a banca para que ela lhe pagasse algum dinheiro pela manipulação de folha de 26,6 milhões de benefícios do INSS. A Viúva pagava R$ 250 milhões pelo serviço.
A reação inicial dos plutocratas foi classificar a ideia como absurda.
Passou o tempo, aceitaram um acordo e pararam de cobrar. Em seguida, o governo anunciou que leiloaria a manipulação dos novos benefícios da Previdência. Alguns banqueiros ameaçaram boicotar o leilão, e o governo respondeu avisando que o Banco do Brasil e a Caixa compareceriam.
Para o bem de todos e felicidade geral da nação, realizou-se o leilão, e a banca compareceu. A simples decisão de fazer o certo resultou numa economia de R$ 250 milhões anuais e num embolso adicional de algo como R$ 35 milhões a partir de 2010.
Descarrilhamento
O governador José Serra não é um admirador da ideia da construção do trem-bala ligando o Rio a São Paulo e Campinas.
DEU EM O GLOBO
A ministra Dilma Rousseff e seu comissariado de informações ainda não desfizeram a encrenca do dado falso de seu currículo.
Há um mês o repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que ela não tinha mestrado pela Universidade de Campinas. O banco de dados Lattes, que armazena os currículos de todos os acadêmicos brasileiros, informava que ela obtivera o título com uma disser tação intitulada “Modelo Energético do Estado do Rio Grande do Sul”. Essa titulação estava listada também nas páginas da Casa Civil e da Petrobras, cujo Conselho de Administração ela preside. Entre seus méritos universitários havia ainda o de “doutoranda” da Unicamp em economia monetária e financeira.
Exposto o vexame, sucederam-se explicações: ela frequentara os dois cursos, mas não apresentara as devidas dissertações. Pena, porque são requisito essencial para a obtenção dos títulos. A condição de doutorando só existe enquanto a pessoa faz o curso.
Dilma Rousseff deixou de ser doutoranda em 2000, quando sua matrícula foi cancelada.
A ministra eximiu-se de responsabilidade pelo texto do Lattes, e o erro mostrado no currículo da Casa Civil chegou a ser atribuído a algum servidor desavisado.
Tudo bem, Dilma Rousseff seria a única pessoa que jamais leu o próprio currículo.
O Planalto pode botar o que quiser nas biografias dos companheiros, mas a Instrução 367 da CVM determina que as assembleias gerais das empresas de capital aberto, como a Petrobras, coletem os currículos de seus conselheiros e define como “infração de natureza gave” a prestação de “informações ou esclarecimentos falsos”. Não se pode ver no mestrado inexistente da ministra um risco para os acionistas da empresa.
Nesse aspecto, está mais para insignificância.
O relatório que a Petrobras preparou em 2007 para a Security Exchange Commission, a CVM americana, incorporou a condição de “doutoranda” da ministra. Como essa expressão não existe no vocabulário inglês, algum tradutor honesto informou que “atualmente ela está buscando um grau de doutora em economia monetária e financeira na Unicamp.” A mágica virou comédia.
Atualmente a Petrobras exibe uma nova versão do currículo. Informa que ela “foi aluna de mestrado e doutorado em ciências econômicas pela Unicamp, onde concluiu os respectivos créditos”. Blá-blá-blá.
Foi aluna buscando um título que não obteve.
A ministra Rousseff é candidata à Presidência da República, pessoa de quem se esperam exemplos de conduta.
Admitindo-se que nada teve a ver com os currículos maquiados e astuciosos, resulta que desprezou o caminho mais simples: bastaria jogar detergente na titulação, esquecendo a Unicamp e dispensando acrobacias.
Ela continuaria economista diplomada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o que não é pouca coisa.
O governo governou, e a banca pagou
Quando o governo trabalha, as coisas melhoram. Há três anos começou uma negociação com a banca para que ela lhe pagasse algum dinheiro pela manipulação de folha de 26,6 milhões de benefícios do INSS. A Viúva pagava R$ 250 milhões pelo serviço.
A reação inicial dos plutocratas foi classificar a ideia como absurda.
Passou o tempo, aceitaram um acordo e pararam de cobrar. Em seguida, o governo anunciou que leiloaria a manipulação dos novos benefícios da Previdência. Alguns banqueiros ameaçaram boicotar o leilão, e o governo respondeu avisando que o Banco do Brasil e a Caixa compareceriam.
Para o bem de todos e felicidade geral da nação, realizou-se o leilão, e a banca compareceu. A simples decisão de fazer o certo resultou numa economia de R$ 250 milhões anuais e num embolso adicional de algo como R$ 35 milhões a partir de 2010.
Descarrilhamento
O governador José Serra não é um admirador da ideia da construção do trem-bala ligando o Rio a São Paulo e Campinas.
Madame Natasha
Madame Natasha adora ônibus cheio. Ela decidiu conceder uma de suas bolsas de estudo ao secretário municipal de Transportes da cidade de São Paulo, Alexandre de Moraes.
O doutor deu uma entrevista e explicou que num determinado cruzamento da cidade a “temporização semafórica” é de dois minutos.
Madame acredita que Moraes criou o congestionamento vocabular.
Novo jornalismo
Zarpou da Califórnia com destino a uma zona de calmaria ao norte do Havaí um navio com a equipe do projeto Kaisei. Eles vão em busca do “Lençol de Lixo do Pacífico” uma área do tamanho do estado do Amazonas, transformada em depósito de sujeira flutuante pelas correntes marítimas.
Na equipe viaja a repórter Lindsey Hoshaw, uma moça formada por Stanford que organizou um projeto de cobertura, colocou-o no sítio Spot.Us e pediu ajuda. Conseguiu seis mil dólares.
O “The New York Times” entrou no lance, oferecendo cerca de US$ 700 caso decida comprar fotografias. Se resolver publicar um texto, pagará mais. Também aderiram os fundadores do eBay e da CraigList, um megaportal de anúncios classificados.
O Spot.Us expõe projetos de reportagens relacionados com a área e os interesses de San Francisco. Aceita doações individuais que raramente chegam a cem dólares e devolve o dinheiro se o serviço não é entregue.
Salvo no caso de empresas jornalísticas, não recebe cheques com valor superior a 20% do custo do projeto.
Bolsa IPI
A Câmara aprovou por 206 votos a 162 a Bolsa IPI, que concede um refrigério tributário aos exportadores. Coisa de R$ 220 bilhões, segundo a Receita Federal. Há R$ 20 bilhões (dois Bolsa Família) de calotes inscritos na dívida ativa da União.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que pedirá a Nosso Guia que vete o mimo. Ele foi contrabandeado numa medida provisória que tratava do programa Minha Casa Minha Vida.
Numa perfeita maracutaia, os admiradores da Bolsa apressaramse para que a Câmara votasse antes de quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal deve começar o julgamento do pleito.
O PSDB, que tanto fala em porta de saída para o Bolsa Família do andar de baixo, deu 32 votos decisivos para a porta de entrada da Bolsa IPI do andar de cima.
Pior: a liderança tucana recomendou que se desse o presente (dez de seus deputados votaram contra). No PT, a liderança ficou contra e conseguiu 53 votos.
(Seis petistas votaram a favor.) É o velho tucanato com suas doenças crônicas: demofobia e plutofilia.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e acredita que o senador Romero Jucá, presidente da CPI da Petrobras, mostrou ao que veio. Ao dizer que a comissão não deve investigar ninharias de shows e festas juninas sobrefaturadas, acrescentou “ou uma plataforma P-51 não sei de onde”.
O idiota pensa que embaixo da P-51 só há água. Fez uma conta e concluiu que Jucá não sabe quanto custa uma festa ou sabe de algo sobre a plataforma. A P-51 custou US$ 1 bilhão, dinheiro suficiente para 50 mil noites juninas.
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