domingo, 9 de agosto de 2009

Surto de sinceridade

Juca Kfouri
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O presidente da CBF e sua filha foram de uma franqueza e transparência raras e, de fato, sensacionais!

RICARDO TEIXEIRA , que vinha alardeando que não haveria dinheiro público em estádios e plantando aqui e ali, mais ali do que aqui, notinhas para se distinguir do presidente do COB, Carlos Nuzman, um habitual tomador do nosso dinheiro, teve um acesso de sinceridade e disse aquilo que os chatos de plantão já vinham dizendo desde que se anunciou a candidatura brasileira à Copa de 2014: vão enfiar a mão no nosso dinheiro.

O país agradece ao cartola da CBF por tamanha transparência e sabe que a reação do ministro do Esporte, que insiste em dizer que não se dará um tostão da Viúva para os estádios, não passa de demagogia de quem, em breve, sairá do ministério para se candidatar à Câmara dos Deputados, ora pois não.

Ele, aliás, é até capaz de dizer que o dinheiro do BNDES não é público, descoberta típica de um membro do neo-PC do B.

Ao se equiparar ao colega do COB, até porque a matriz é a mesma, crias que são de João Havelange, Teixeira tira a máscara e, diferentemente do que se fez no Pan-2007, bota a faca no peito do governo desde já, sem essa de deixar para a última hora. Melhor assim.
Por falar em Havelange, Joana Havelange, neta dele, não filha como o sobrenome pode fazer supor, porque filha do presidente da CBF e do comitê organizador da Copa, do qual é secretária, foi também de uma sinceridade comovente ao dizer que a Fifa está muito feliz por não ter nenhum membro do governo no comitê. Não é verdadeiramente sensacional, para se aplaudir em pé?

Essa gente é assim mesmo.

Muito ciosa da sua privacidade, adepta da iniciativa privada desde que com o dinheiro de todos. Porque, afinal, trabalham pelo Brasil, são empreendedores capazes de, como no caso de Teixeira, se sacrificar patrioticamente por mais de 20 anos à causa pública, embora numa entidade privada, como faz sempre questão de ressaltar.

Ora, um membro do governo, sinônimo de política, essa coisa imunda como vemos na lavagem de roupa (está escrito "de roupa", não de dinheiro) suja entre os Sarney, Simon, Collor, Calheiros, Jereissati, todos farinhas do mesmo saco -como dizia o PT antigamente e não diz mais porque está no fundo, no meio e no topo dele, o saco-, mancharia o comitê, além de poder fiscalizá-lo, imagine a pretensão do bofe.

A palavra de ordem exigida é dê e não receba, nem recibo, porque estamos acima do bem e do mal e foram vocês mesmos, do governo, que nos deram tamanha dimensão.

E tratemos de mudar a missão do BNDES, assim como a Lei da Responsabilidade Fiscal e do Endividamento, para que os Estados possam atender às necessidades da Copa do Mundo, como se sabe, prioridade número um deste imenso paraíso chamado Patropi.

Se não bastasse, com pelo menos cinco anos de atraso, assim como foi para aceitar o campeonato de pontos corridos que o Estatuto do Torcedor, sabotado pela CBF e pelo Clube dos 13 desde sempre, enfiou-lhe goela abaixo, eis que Rico Terra agora também quer adequar o calendário brasileiro ao mundial, que muitos chamam de europeu.

Algo necessário, mas não suficiente, porque não é panaceia.

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