Recebida como candidata, senadora chora e critica políticos
Asenadora Marina Silva (AC) filiou-se ontem ao Partido Verde (PV) em ato com tom de comício e marcado pela atmosfera de sua provável candidatura presidencial. Marina, que chegou a chorar, pontuou o discurso de 40 minutos entre elogios ao seu passado no PT e críticas veladas às políticas e aos personagens do governo federal, embora tenha evitado citar nomes. Numa metáfora sobre uma árvore amazônica em torno da qual nada consegue nascer, ela atacou a forma de fazer política no país.
- Ninguém deve querer ser líder de tudo e querer ser líder do resto. Isso não dá certo. No Brasil, isso está destruindo a política - disse ela.
Perguntada em seguida se o recado tinha endereço certo, saiu pela tangente.
- Não, não tem. Esse pode ser um recado até para mim mesma - disse, rindo.
Aos cerca de mil filiados do PV presentes, Marina procurou fazer uma defesa da incorporação das questões ambientais nas diferentes esferas de governo. Lembrou a amizade e trabalho ao lado do ambientalista Chico Mendes, assassinado no Acre em 1988, e citou Nelson Mandela e Martin Luther King. Uma das convidadas era a filha de Chico Mendes, Elenira. Mas foi o tom político que deu contorno ao discurso, principalmente nas queixas sobre diferenças ideológicas que levam à falta de ética na política.
- Em cima de princípios éticos e valores morais duradouros, podemos fazer alianças pontuais porque não somos obrigados a pensar da mesma forma e do mesmo jeito. Não somos sacos de estopa. Somos pessoas diferentes, com desejos diferentes, com interesses diferentes. Não é errado ter diferentes interesses. O erro é quando alguém, de forma ilegítima, faz seu interesse se sobrepor aos demais - disse Marina, sem citar nomes.
No discurso, ela evitou falar em candidatura presidencial, mas deixou escapar que o processo eleitoral está batendo à sua porta.
- Estamos aqui porque temos ideais, porque temos uma visão de mundo. Não apenas para ganhar uma eleição de deputado, vereador, senador, presidente da República - afirmou a senadora.
Marina, a certa altura, citou o escritor Guimarães Rosa para homenagear o PT.
- "Será que você seria capaz de se esquecer de mim e assim mesmo depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?" Essa é a homenagem que faço para meu passado. Vou continuar gostando de todas aquelas pessoas que construíram aquela história - disse.
Depois, citou Santo Agostinho para agradecer as boas-vindas ao PV.
- "Tarde vos amei, beleza tão antiga e tão nova. Tarde vos amei. É que estava dentro de mim e eu estava fora de mim" - declamou, aplaudida de pé pelos convidados, entre eles o ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o ex-ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, ambos do PV. Zequinha disse que PT e PSDB já estão de olho no "efeito Marina":
- Vamos qualificar a discussão política, que não ficará mais polarizada entre dois candidatos.
Marina também comentou um suposto embate com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata petista à Presidência.
- A sociedade tem visões diferentes sobre essa questão do desenvolvimento sustentável, e isso ocorre também dentro do governo. Não vou me colocar de vítima da ministra Dilma - destacou ela, para quem a tese de que sua candidatura beneficiaria o candidato tucano à Presidência só funciona entre os que não pensam na agenda ambiental como prioridade de governo.
Para a senadora, quando ela era ministra do Meio Ambiente, "o que não tinha consenso (entre ela e Dilma) seguia para o presidente Lula arbitrar. Quando era ministra, até fizemos algumas coisas juntas".
Antes da chegada de Marina ao bufê Rosa Rosarium, no bairro de Pinheiros, a organização do evento exibiu vídeo mostrando a empolgação de militantes verdes pelo Brasil com a filiação da senadora ao partido.
Muito aplaudido no discurso, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) - derrotado na eleição de 2008 para a prefeitura do Rio - reconheceu que o PV poderia ter crescido mais, "mas agora começa a se abrir uma nova oportunidade". Em seguida, fez duras críticas ao momento atual na política:
- Esse tema (a ética na política) é importante porque nós temos no Brasil hoje um governo moralmente frouxo, um Congresso apodrecido e um Supremo Tribunal Federal em princípio de decomposição com a decisão tomada nesta semana - em referência ao arquivamento da acusação contra o ex-ministro Antônio Palocci, acusado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa.
O Hino Nacional acabara de ser tocado quando Marina entrou. A senadora chegou à mesa de autoridades com a ajuda de um cordão de isolamento, formado por seguranças e pelas mulheres de dirigentes do partido. O público gritava: "Brasil, urgente, Marina presidente", enquanto ela acenava. Na primeira fila, os filhos, sobrinhos e os sogros de Marina acompanharam a cerimônia. A direção do partido não informou quanto gastou na festa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário