Yoshiaki Nakano
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O que deveria preocupar as autoridades econômicas não é a inflação, mas a possível formação de novas bolhas
A IMENSA rede de socorro, sem precedentes na história, lançada pelos governos de todo o mundo sobre o sistema financeiro, evitou seu colapso total. Da mesma forma, a rápida reação deles, injetando recursos fiscais para sustentar a demanda agregada, evitou a Depressão. Mais rapidamente do que todos esperavam, as economias já começam a esboçar uma reação.
Ainda assim, as desenvolvidas deverão sofrer, neste ano, contração de mais de 4% nos seus PIBs. Em 2010, os países da zona do euro, agora mais otimistas, esperam crescimento pífio de 0,2%; e o desemprego deverá continuar aumentando. Ninguém espera resultados muito melhores para os EUA. O que não sabemos ainda é se a recuperação terá formato de U, com base achatada e prolongada, ou W ou WWW, como ocorreu com o Japão depois da crise financeira que explodiu no final de 1989. Tudo dependerá se os governos serão capazes de enfrentar alguns desafios que já se colocam.
O principal desafio será a nova regulação e controles que deverão ser impostos sobre o sistema financeiro. Bolhas e crises só prosperam se houver expansão excessiva de crédito. Na atual crise, a expansão excessiva de crédito não veio do sistema bancário tradicional -instituições que captam depósitos e fazem empréstimos limitados e sob controle dos bancos centrais. Essas instituições perderam espaço nas últimas décadas: enquanto em 1980 respondiam por cerca de 55% do total de ativos do sistema, em 2005 sua participação havia caído para 24%.
A forte e descontrolada expansão de liquidez e crédito veio de novos instrumentos e novas instituições introduzidas exatamente para contornar a regulação adotada depois da crise de 1930. Operações de mercado com a securitização financiadas no mercado de moeda tiveram um papel preponderante. Diversos tipos de fundo, as corretoras e as distribuidoras desenvolveram capacidade ilimitada de gerar crédito através de operações puramente especulativas. Os próprios bancos tradicionais desenvolveram operações não registradas nos seus balanços, endividando-se no curtíssimo prazo para financiar compras de ativos mais rentáveis de longo prazo, inclusive os títulos lastreados em hipotecas "subprime". Esse imenso "sistema bancário paralelo" é que deverá ser um dos focos da nova regulação.
Enquanto isso, esse "sistema bancário paralelo" continua com suas operações especulativas e tudo indica que já criou novas minibolhas que poderão trazer novas instabilidades financeiras. Como explicar o boom das Bolsas de alguns países emergentes, o petróleo a mais de US$ 70 o barril e a recuperação do preço de algumas outras commodities em plena recessão mundial? A operação de salvamento do sistema financeiro levou os bancos centrais a injetar trilhões de dólares, a uma taxa de juros próxima a zero, portanto municiando esse sistema com recursos a custos próximos de zero para especular, inflando os preços de alguns ativos. O que deveria preocupar as autoridades, devido à excessiva expansão monetária em resposta à crise, não é a inflação, mas a formação de novas bolhas -portanto de novas crises dentro da crise.
Yoshiaki Nakano , 65, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O que deveria preocupar as autoridades econômicas não é a inflação, mas a possível formação de novas bolhas
A IMENSA rede de socorro, sem precedentes na história, lançada pelos governos de todo o mundo sobre o sistema financeiro, evitou seu colapso total. Da mesma forma, a rápida reação deles, injetando recursos fiscais para sustentar a demanda agregada, evitou a Depressão. Mais rapidamente do que todos esperavam, as economias já começam a esboçar uma reação.
Ainda assim, as desenvolvidas deverão sofrer, neste ano, contração de mais de 4% nos seus PIBs. Em 2010, os países da zona do euro, agora mais otimistas, esperam crescimento pífio de 0,2%; e o desemprego deverá continuar aumentando. Ninguém espera resultados muito melhores para os EUA. O que não sabemos ainda é se a recuperação terá formato de U, com base achatada e prolongada, ou W ou WWW, como ocorreu com o Japão depois da crise financeira que explodiu no final de 1989. Tudo dependerá se os governos serão capazes de enfrentar alguns desafios que já se colocam.
O principal desafio será a nova regulação e controles que deverão ser impostos sobre o sistema financeiro. Bolhas e crises só prosperam se houver expansão excessiva de crédito. Na atual crise, a expansão excessiva de crédito não veio do sistema bancário tradicional -instituições que captam depósitos e fazem empréstimos limitados e sob controle dos bancos centrais. Essas instituições perderam espaço nas últimas décadas: enquanto em 1980 respondiam por cerca de 55% do total de ativos do sistema, em 2005 sua participação havia caído para 24%.
A forte e descontrolada expansão de liquidez e crédito veio de novos instrumentos e novas instituições introduzidas exatamente para contornar a regulação adotada depois da crise de 1930. Operações de mercado com a securitização financiadas no mercado de moeda tiveram um papel preponderante. Diversos tipos de fundo, as corretoras e as distribuidoras desenvolveram capacidade ilimitada de gerar crédito através de operações puramente especulativas. Os próprios bancos tradicionais desenvolveram operações não registradas nos seus balanços, endividando-se no curtíssimo prazo para financiar compras de ativos mais rentáveis de longo prazo, inclusive os títulos lastreados em hipotecas "subprime". Esse imenso "sistema bancário paralelo" é que deverá ser um dos focos da nova regulação.
Enquanto isso, esse "sistema bancário paralelo" continua com suas operações especulativas e tudo indica que já criou novas minibolhas que poderão trazer novas instabilidades financeiras. Como explicar o boom das Bolsas de alguns países emergentes, o petróleo a mais de US$ 70 o barril e a recuperação do preço de algumas outras commodities em plena recessão mundial? A operação de salvamento do sistema financeiro levou os bancos centrais a injetar trilhões de dólares, a uma taxa de juros próxima a zero, portanto municiando esse sistema com recursos a custos próximos de zero para especular, inflando os preços de alguns ativos. O que deveria preocupar as autoridades, devido à excessiva expansão monetária em resposta à crise, não é a inflação, mas a formação de novas bolhas -portanto de novas crises dentro da crise.
Yoshiaki Nakano , 65, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).
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