Daniel Bramatti
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
PT e PSDB devem adequar programas para se contrapor a ex-ministra, preveem ambientalistas
Não é apenas o PV que idetifica na provável candidatura da senadora Marina Silva (AC) a chance de colocar o meio ambiente no primeiro plano da campanha presidencial de 2010. No PT e no PSDB, vozes isoladas que empunham a bandeira da ecologia apostam na possibilidade de sair da sombra e influenciar a agenda de seus candidatos, diferentemente do que ocorreu na eleição passada.
"Marina vai puxar o debate sobre a questão ambiental, que sempre foi coadjuvante e superficial nas campanhas", disse Ricardo Trípoli (PSDB-SP), um dos coordenadores da Frente Parlamentar Ambientalista na Câmara dos Deputados. "Ela vai potencializar o debate e criar polêmica, o que é bom para todos nós", previu o deputado Pedro Wilson (PT-GO), outro coordenador do grupo. "Os candidatos não poderão tratar esse tema de forma secundária ou marginal", avaliou o petista Carlos Minc, sucessor da senadora acreana no Ministério do Meio Ambiente.
Para Eduardo Jorge (PV), secretário do Verde e do Meio Ambiente na Prefeitura de São Paulo, o rompimento de Marina com o PT não alterou apenas o cenário de 2010. "O ambiente só ganhou parte dos recursos do pré-sal quando a discussão estava nos 47 minutos do segundo tempo", observou, em referência ao fundo que o governo pretende alimentar com receitas da exploração do petróleo.
Organizações não governamentais têm avaliação semelhante. "Nenhum dos pré-candidatos tinha o meio ambiente no seu roteiro", disse Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace no Brasil. "A entrada da Marina no cenário provocou a emergência do tema. Se os presidenciáveis não adequarem seus planos de governo, não estarão à altura dos desafios do século 21."
Mas há quem veja no processo riscos de banalização do discurso ambiental. "Haverá candidato que, além de beijar criança, vai abraçar árvore", ironizou Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra. "Mas a falta de dever de casa cumprido vai gerar aquilo que já acontece com algumas empresas: maquiagem verde."
Veterano militante da causa ecológica, o deputado Fernando Gabeira (RJ), correligionário de Marina e também simpatizante da candidatura do tucano José Serra à Presidência, prevê que o chamado desenvolvimento sustentável estará presente nas campanhas de todos os candidatos. Ele admite que o termo é vago e permeável a discursos ambíguos. "Será preciso observar o conjunto do programa e a prática de cada um."
Smeraldi destacou uma mudança recente no discurso de Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT, a respeito do tema saneamento. Na última quarta-feira, ao anunciar obras em sete Estados, ela ressaltou a importância ambiental do Pantanal, da Baía de Todos os Santos, da Baía de Guanabara e dos rios do País. "Respeitar os mananciais é respeitar o meio ambiente", disse.
Dilma não demonstrava tanta sensibilidade com a questão quando Marina Silva estava no governo. A queda da então ministra do Meio Ambiente foi, em parte, atribuída a desentendimentos com a colega da Casa Civil sobre requisitos para licenciar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No confronto, Marina não teve o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nunca escondeu suas preferências no debate entre desenvolvimento e preservação. Em 2007, Lula acusou o Ibama de usar a preservação dos bagres do Rio Madeira como pretexto para não licenciar a obra da usina hidrelétrica de Jirau. Em junho passado, ele citou o episódio ao discursar no Paraná. "Quando resolvemos o problema da areia, me chega outro e diz que tinha muito bagre e que os bagrinhos não iam conseguir nadar, para represar lá nos Andes, aquele negócio todo. Eu me comprometi, quando deixar a Presidência, a comprar uma canoa, pegar os bagrinhos, colocar na canoa, levar do outro lado e trazê-los de volta."
Nem quando discursa em defesa do meio ambiente Lula deixa de lado o tom irônico em relação aos militantes da causa. Na semana passada, ao citar a importância do combate ao aquecimento global, declarou que "a questão climática não é mais uma discussão de malucos e jovens".
VOTOS
Militantes e especialistas ouvidos pelo Estado ressalvaram que o fator Marina não será o único a nortear as campanhas. Para eles, o discurso ambiental terá presença proporcional à percepção dos candidatos de que o tema encontra ressonância entre o eleitorado - em outras palavras, que rende votos.
Não há pesquisas sobre o apelo eleitoral do discurso pela sustentabilidade, segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope. Mas outros levantamentos mostram que a agenda verde está deixando os nichos e chegando a diversos segmentos da população. "Percebemos, por exemplo, uma maior disposição de comprar produtos cuja fabricação respeita o meio ambiente."
A preservação ambiental não costuma aparecer nos rankings de preocupação do eleitorado. Segundo a especialista, a população dá prioridade a assuntos ligados à sua sobrevivência imediata. "Mas isso não quer dizer que o tema não seja considerado importante. Só o discurso ambiental não é suficiente, mas o ambiente tende a estar no discurso de todos."
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