sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Lula abre 20% do BB à participação estrangeira

Patrícia Duarte
DEU EM O GLOBO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto dando sinal verde para que o Banco do Brasil (BB) eleve para 20% a fatia de capital estrangeiro na instituição. Hoje, o limite é de 12,5%, mas a participação efetiva dos estrangeiros é de 11%. Uma das estratégias do BB para atrair o investidor no exterior é lançar, em até 45 dias, American Depositary Receipts (ADRs), papéis negociados na Bolsa de Nova York, lastreados em ações ON (com direito a voto) do banco. Mais tarde, o banco poderá fazer nova emissão de ações. Se os estrangeiros atingirem o limite de 20%, será possível movimentar R$ 6,8 bilhões em papéis do banco. Há duas semanas, O GLOBO revelou os planos do BB de comprar bancos no exterior, inclusive nos EUA, para crescer.

BB para gringo comprar

Lula autoriza participação maior de investidores estrangeiros no banco, que lançará papéis em NY

OBanco do Brasil (BB) recebeu ontem autorização do governo para aumentar, de 12,5% para 20%, a participação de investidores estrangeiros em seu capital. Hoje, esses acionistas respondem por 11% do total e, se a fatia chegar ao teto, serão movimentados cerca de R$6,8 bilhões (considerando o valor das ações de ontem). O novo teto, na prática, também abre caminho para uma eventual capitalização da instituição financeira no futuro - ou seja, emissão de novas ações para levantar dinheiro no mercado. A estatal também teve o sinal verde para lançar American Depositary Receipts (ADRs), papéis negociados na Bolsa de Nova York, lastreados em ações ordinárias (ON, com direito a voto) do banco.

- O mercado de capitais é muito globalizado e ter um limite pequeno (para estrangeiros) não era bom. A medida vai aumentar a liquidez dos nossos papéis - afirmou o o gerente de relações com investidores do BB, Marco Geovanne Tobias.

Esta foi a segunda vez que o governo ampliou a margem dos investidores de fora. A primeira foi em 2006, quando passou de menos de 7% para 12,5%. Com os avais, concedidos em decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BB conseguirá cumprir a meta de colocar em circulação no mercado 25% de seu capital - o chamado "free float". A exigência faz parte do processo de entrada no Novo Mercado, segmento da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) onde só são negociadas ações de empresas com práticas de gestão transparente e de proteção ao acionista minoritário. Hoje, apenas 21,7% do capital do banco são negociados na Bolsa e o limite mínimo deve ser atingido até junho de 2011.

Segundo Geovanne, a emissão de ADRs Nível 1, ou seja, com base nas ações que já estão sendo negociadas no país, deverá ser concluída em um prazo de 30 a 45 dias. Qualquer investidor poderá trocar a sua ação do BB por uma ADR e, eventualmente, vendê-la para um investidor de fora. Um banco estrangeiro já foi contratado para concretizar a operação, mas o nome não foi revelado. Neste caso, como será uma espécie de troca, não haverá aumento da parcela de ações do banco em circulação. Geovanne não fez previsões de quantos papéis poderão ser negociados, mas lembrou que o volume de ADRs de outros concorrentes, como Itaú Unibanco, já é duas vezes maior do que o de suas ações no mercado doméstico.

Nova oferta seguirá modelo da anterior

Em um segundo momento, haverá uma terceira oferta pública de ações, com o objetivo de atingir os 25% do capital do banco negociados no mercado. Tobias adiantou que não há uma data marcada para a operação, mas afirmou que ela poderá acontecer também por meio de ADRs. O modelo da oferta de ações deve ser o mesmo das últimas duas realizadas pelo BB, em 2006 e em 2007: foram vendidos papéis que estavam nas mãos do governo e houve rateio entre funcionários do próprio banco, pequenos investidores e investidores estrangeiros que atuam no mercado brasileiro. Se houver emissão de ações - possibilidade que o BB não descarta - o valor arrecadado com a venda entraria diretamente no caixa do banco. O movimento acontece na direção contrária da capitalização da Petrobras, a fim de obter mais recursos para explorar a camada de pré-sal, em que o governo pretende aumentar sua participação na estatal.

O BB pode ter que aumentar capital porque seu índice de Basileia (indicador internacional que mede a solvência dos bancos) em junho estava em 15,3% - para analistas, perto demais do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central (BC).

As decisões vão ao encontro da estratégia de internacionalização do BB. No dia 30 de agosto, O GLOBO revelou que o banco pretende comprar instituições financeiras no exterior, inclusive nos EUA. Além disso, planeja abrir agências em cidades como Nova York.

As mudanças foram bem recebidas pelo mercado. As ações do banco subiram 1,20% ontem, dia em que o Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 0,28%. Para Daniella Marques, sócia da Oren Investimentos, o anúncio foi positivo, pois a oferta de ADRs dá maior visibilidade à empresa e mais liquidez (facilidade de negociação) às ações. Muitos investidores, como grandes fundos americanos, só aplicam em ações cotadas em dólar. O analista Fernando Salazar, da Fator Corretora, divulgou relatório também considerando a operação positiva para a instituição e reiterando a recomendação de "atraente" (compra) para as ações do BB.

A corretora Ativa divulgou análise no mesmo sentido.

Colaborou: Felipe Frisch

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