Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Os dois partidos preferidos do eleitor paulista, PT e PSDB, mantêm a centralidade na política nacional mais pela polarização que o eleitor do Estado faz a partir deles - o eleitor define-se ideologicamente a partir da imagem que tem dessas legendas - do que pelo perfil de ambos. Desde a virada do milênio, as seções paulistas desses partidos vivem intensas crises internas porque vitórias estaduais são o primeiro passo da disputa nacional. As lideranças consolidadas pelo eleitorado tendem também a não abrir caminho para renovação.
A posição do PSDB, de partido há muito tempo no poder estadual, tornou-o demais atrativo para lideranças mais conservadoras que estavam abrigadas em partidos que perderam força e eleitorado, como o PMDB e o antigo PP de Paulo Maluf. Militantes antigos queixam-se da queda de qualidade de seus quadros. O destino trouxe de volta para o Estado líderes petistas de maior peso que se desgastaram no primeiro governo de Lula, mas hoje eles pendem muito mais a adequar o diretório paulista ao projeto de continuidade do PT no poder federal do que propriamente de adequação das necessidades nacionais às disputas paulistas.
PT e PSDB polarizam o eleitorado do Estado desde que o ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf (PRP) saiu do mapa das eleições majoritárias, posição consolidada quando ele se refugiou no mandato de deputado federal, em 2006. Parte do eleitorado malufista foi absorvida pelos tucanos - o voto que por conceito era antipetista - e pouco Maluf levou consigo em alianças com o PT.
O eleitor paulista tem mantido um certo padrão de voto: o governo do Estado está há 27 anos nas mãos do PSDB, duas das três cadeiras no Senado ficam com o PT e, na Câmara dos Deputados, os dois partidos paulistas têm as duas maiores bancadas do Estado - são 18 representantes do PSDB e 14 do PT. Na prefeitura da capital se revezam petistas e antipetistas - nas últimas eleições municipais venceu a disputa o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, como o candidato antipetista, da mesma forma que Maluf ganhou em 1992 contra o PT e o seu sucessor, Celso Pitta, em 1996.
A candidatura vitoriosa de José Serra à prefeitura, em 2004, foi o momento em que a capital conseguiu realizar de forma mais completa o voto antipetista num representante tucano, sem que ocorresse perda de votos conservadores, claramente antipetistas, para uma legenda mais à direita no espectro partidário. Em 2008, o candidato tucano Geraldo Alckmin sangrou sua candidatura para Gilberto Kassab (DEM), que conseguiu a seu favor um perfil de eleitorado conservador, antipetista, antes dirigido a Maluf, e o eleitor tucano e o antipetismo menos conservador, os dois últimos vindos das mãos de Serra, de quem o candidato do Democratas era vice na prefeitura.
Polarizados nas eleições do Estado com mais eleitores, os dois partidos ainda conservam um grande poder na política nacional. O PT ainda tem uma forte concentração das decisões nacionais nas mãos dos representantes paulistas. Seu presidente é Ricardo Berzoini, deputado federal por São Paulo, e sua Executiva Nacional é fortemente paulista. O PSDB "despaulistizou" a direção nacional ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso, mas não o poder. A candidatura do paulista José Serra à Presidência mobiliza grande parcela do tucanato nacional desde 2002, quando ele perdeu a eleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, quando Lula disputou a reeleição, a briga pela legenda tucana à eleição nacional não saiu do Estado: o ex-governador Geraldo Alckmin foi o candidato, depois de ganhar uma queda-de-braço com o governador José Serra, que então se candidatou ao governo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se resguarda para as grandes decisões nacionais, também irradia daqui a sua influência para o resto do país.
Da mesma forma que São Paulo, no início da década de 80, produziu as novas lideranças políticas que iriam arejar a política nacional que saía da ditadura, é no Estado que, hoje, as lideranças antigas nacionais são mais arraigadas. A renovação está se produzindo primeiramente fora de São Paulo e começa a acontecer aqui de forma tardia e com mais dificuldades. Primeiramente, porque lideranças estaduais consolidadas tendem a não ceder espaço para novos personagens.
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Os dois partidos preferidos do eleitor paulista, PT e PSDB, mantêm a centralidade na política nacional mais pela polarização que o eleitor do Estado faz a partir deles - o eleitor define-se ideologicamente a partir da imagem que tem dessas legendas - do que pelo perfil de ambos. Desde a virada do milênio, as seções paulistas desses partidos vivem intensas crises internas porque vitórias estaduais são o primeiro passo da disputa nacional. As lideranças consolidadas pelo eleitorado tendem também a não abrir caminho para renovação.
A posição do PSDB, de partido há muito tempo no poder estadual, tornou-o demais atrativo para lideranças mais conservadoras que estavam abrigadas em partidos que perderam força e eleitorado, como o PMDB e o antigo PP de Paulo Maluf. Militantes antigos queixam-se da queda de qualidade de seus quadros. O destino trouxe de volta para o Estado líderes petistas de maior peso que se desgastaram no primeiro governo de Lula, mas hoje eles pendem muito mais a adequar o diretório paulista ao projeto de continuidade do PT no poder federal do que propriamente de adequação das necessidades nacionais às disputas paulistas.
PT e PSDB polarizam o eleitorado do Estado desde que o ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf (PRP) saiu do mapa das eleições majoritárias, posição consolidada quando ele se refugiou no mandato de deputado federal, em 2006. Parte do eleitorado malufista foi absorvida pelos tucanos - o voto que por conceito era antipetista - e pouco Maluf levou consigo em alianças com o PT.
O eleitor paulista tem mantido um certo padrão de voto: o governo do Estado está há 27 anos nas mãos do PSDB, duas das três cadeiras no Senado ficam com o PT e, na Câmara dos Deputados, os dois partidos paulistas têm as duas maiores bancadas do Estado - são 18 representantes do PSDB e 14 do PT. Na prefeitura da capital se revezam petistas e antipetistas - nas últimas eleições municipais venceu a disputa o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, como o candidato antipetista, da mesma forma que Maluf ganhou em 1992 contra o PT e o seu sucessor, Celso Pitta, em 1996.
A candidatura vitoriosa de José Serra à prefeitura, em 2004, foi o momento em que a capital conseguiu realizar de forma mais completa o voto antipetista num representante tucano, sem que ocorresse perda de votos conservadores, claramente antipetistas, para uma legenda mais à direita no espectro partidário. Em 2008, o candidato tucano Geraldo Alckmin sangrou sua candidatura para Gilberto Kassab (DEM), que conseguiu a seu favor um perfil de eleitorado conservador, antipetista, antes dirigido a Maluf, e o eleitor tucano e o antipetismo menos conservador, os dois últimos vindos das mãos de Serra, de quem o candidato do Democratas era vice na prefeitura.
Polarizados nas eleições do Estado com mais eleitores, os dois partidos ainda conservam um grande poder na política nacional. O PT ainda tem uma forte concentração das decisões nacionais nas mãos dos representantes paulistas. Seu presidente é Ricardo Berzoini, deputado federal por São Paulo, e sua Executiva Nacional é fortemente paulista. O PSDB "despaulistizou" a direção nacional ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso, mas não o poder. A candidatura do paulista José Serra à Presidência mobiliza grande parcela do tucanato nacional desde 2002, quando ele perdeu a eleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, quando Lula disputou a reeleição, a briga pela legenda tucana à eleição nacional não saiu do Estado: o ex-governador Geraldo Alckmin foi o candidato, depois de ganhar uma queda-de-braço com o governador José Serra, que então se candidatou ao governo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se resguarda para as grandes decisões nacionais, também irradia daqui a sua influência para o resto do país.
Da mesma forma que São Paulo, no início da década de 80, produziu as novas lideranças políticas que iriam arejar a política nacional que saía da ditadura, é no Estado que, hoje, as lideranças antigas nacionais são mais arraigadas. A renovação está se produzindo primeiramente fora de São Paulo e começa a acontecer aqui de forma tardia e com mais dificuldades. Primeiramente, porque lideranças estaduais consolidadas tendem a não ceder espaço para novos personagens.
Isso ocorre nos dois partidos. No PSDB, é mais acentuada a dificuldade de depuração de quadros de qualidade ruim que tendem a se amontoar num partido quando ele vira opção de poder - e foi o PSDB o grande atrativo para ex-quercistas e pemedebistas que abandonaram a legenda pemedebista esvaziada pela polarização eleitoral entre os tucanos e o PT. No PT esse efeito foi menor porque o partido tem mecanismos de controle interno que não foram desmontados depois que este alcançou o poder federal - e que, se não facilitam a vida dos que chegam de fora, pelo menos dá instrumentos para que as direções os submetam aos interesses de maiorias partidárias.
Se o trânsito das novas lideranças é difícil no PT e no PSDB paulista, também se tornam mais complicadas as disputas internas entre as velhas lideranças. No caso do PT, a luta interna entre os grupos, mesmo depois de 2005, em algum momento pode ser interrompida pela ação de um grupo majoritário. As próprias prévias eleitorais são regras para enquadramento de minorias. Nas eleições, esses mecanismos garantem coesão no palanque, mesmo que as divisões voltem a se manifestar no dia seguinte ao pleito. No PSDB, as disputas são enquadradas em articulações de lideranças que dificilmente conseguem garantir uma mínima coesão eleitoral. Não existem compromissos sólidos dos grupos derrotados em disputa com os grupos vitoriosos, nem se observa uma coesão partidária posterior a uma grande disputa interna pela legenda para cargos majoritários.
Pelos dados colocados na mesa até agora, o PT e o PSDB paulistas vão fazer valer a tradição e se aproximam das eleições rachados. O PT tem mais chances de ir unido para o palanque estadual do grupo vitorioso, mesmo que rache novamente logo em seguida. Qualquer que seja o grupo vitorioso no PSDB paulista, não há chances de unidade nem para as eleições.
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras
Se o trânsito das novas lideranças é difícil no PT e no PSDB paulista, também se tornam mais complicadas as disputas internas entre as velhas lideranças. No caso do PT, a luta interna entre os grupos, mesmo depois de 2005, em algum momento pode ser interrompida pela ação de um grupo majoritário. As próprias prévias eleitorais são regras para enquadramento de minorias. Nas eleições, esses mecanismos garantem coesão no palanque, mesmo que as divisões voltem a se manifestar no dia seguinte ao pleito. No PSDB, as disputas são enquadradas em articulações de lideranças que dificilmente conseguem garantir uma mínima coesão eleitoral. Não existem compromissos sólidos dos grupos derrotados em disputa com os grupos vitoriosos, nem se observa uma coesão partidária posterior a uma grande disputa interna pela legenda para cargos majoritários.
Pelos dados colocados na mesa até agora, o PT e o PSDB paulistas vão fazer valer a tradição e se aproximam das eleições rachados. O PT tem mais chances de ir unido para o palanque estadual do grupo vitorioso, mesmo que rache novamente logo em seguida. Qualquer que seja o grupo vitorioso no PSDB paulista, não há chances de unidade nem para as eleições.
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras
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