Fabiano Maisonnave
Enviado Especial a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Presidente deposto afirma que, se não for restituído em uma semana, "fica sem valor nem efeito o calendário eleitoral"
A 2 quadras da Embaixada do Brasil, que abriga Zelaya, manifestantes são alvo de bombas de gás diante da representação americana
Descontente com o formato das negociações iniciadas ontem, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou que o diálogo começou com "maus presságios" e que não reconhecerá as eleições de 29 de novembro caso não seja restituído ao cargo dentro de uma semana.
"Estamos todos de acordo de que, se não houver restituição (...) até 15 de outubro, por falta de validade, por falta de credibilidade, de confiança das comunidades nacional e internacional, fica sem valor nem efeito o calendário eleitoral elaborado", disse Zelaya, em entrevista coletiva no jardim da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado com cerca de 50 familiares, assessores e seguidores há 18 dias.
Apesar do tom de unidade que quis dar, o ultimato de Zelaya não foi consenso entre os que o apoiam. O candidato presidencial independente de esquerda Carlos H. Reyes disse à Folha que ainda fará uma avaliação à parte sobre se participará ou não das eleições.
"Como sindicalista, não costumo usar prazo. Depois não funciona, e aí fazemos o que com ele?", disse, por telefone, 1 dos 2 candidatos presidenciais que apoiam a volta de Zelaya, de um total de 6.
O presidente deposto também tem demonstrado irritação com a forma na qual as negociações foram traçadas pela OEA -em que não se prevê um acordo definitivo até hoje, como era a sua expectativa.
Anteontem à noite, atravessou a sala da embaixada onde ficam os jornalistas dizendo, em alto e bom som, que o diálogo era uma "farsa total".
"Manipulação"
"O diálogo está começando com maus presságios, com a repressão, fechamento de meios de comunicação e ainda pela manipulação até do programa que está sendo implementado", afirmou Zelaya, também na coletiva, pela manhã.
A reclamação fez representantes diplomáticos anteciparem a visita a ele na embaixada de hoje (como inicialmente previsto) para a noite de ontem.
Sobre a posição dos EUA, considerados por Zelaya e diplomatas como o país que mais pode pressionar o governo interino, o presidente deposto voltou a dizer que o Departamento de Estado atua à revelia das determinações de Barack Obama, favoráveis a ele.
Enquanto o diálogo se instalava num hotel de luxo em Tegucigalpa, manifestantes pró-Zelaya entraram em choque com a polícia em pelo menos dois lugares da capital hondurenha. Na primeira delas, cerca de 200 manifestantes se reuniram diante da embaixada americana, que fica a duas quadras da representação brasileira.
O gás lacrimogêneo usado pela polícia chegou até o prédio brasileiro por volta das 11h20 (horário local). Várias pessoas tiveram irritação leve nos olhos, o que levou o médico de plantão a distribuir máscaras de gás aos 66 "moradores", entre os quais assessores e apoiadores de Zelaya, jornalistas e um diplomata brasileiro.
Houve também choques na Universidade Pedagógica, tradicional ponto de encontro da "resistência", sem o registro de feridos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário