DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Aos 30 anos de sua fundação, o PT realiza todas as previsões da ciência social sobre a estrutura e o funcionamento das grandes organizações. No caso dos partidos, foi Robert Michels quem traçou essa rota.
Burocratizado, previsível, com abissal espaço entre suas elites e a massa, mesmo a hoje fracamente militante. Prestou uma excelente contribuição à democratização nacional, e continuará sendo um dos dois principais partidos políticos no Brasil. Mas não ampliou a democratização nem a republicanização do Estado.
De partido ideológico, transitou rapidamente para "partido-ônibus" e deste para "partido paraestatal". O partido paraestatal se define como uma organização ambígua, que realiza tarefas que o Estado lhe delega.
No caso do PT, o Estado lhe delega as funções de legitimação na massa popular, e o Bolsa Família é seu maior instrumento.
A mídia e a oposição, em geral, acusam o PT de aparelhamento do Estado. O fenômeno real é o oposto: é o Estado quem aparelha os partidos, embora esse aparelhamento venha coberto de deliciosos chantillys de bons salários, influência nas licitações e descaradamente na corrupção desenfreada.
Por isso, o PT já não é um partido da transformação. Na periferia subdesenvolvida, um partido patrimonialista, na versão machadiana/schwartziana da cultura do favor.
O pós-Lula não conhecerá grandes mudanças no rol dos partidos. O PT é o que mais sofrerá com uma magra dieta não governamental, se sua até agora pretensa candidata não se eleger: tensões internas ou a luta pelo espólio pós-Lula podem aproximá-lo do peronismo sem Perón. Se Dilma se eleger, a luta interna pelo controle de um governo sem personalidade e força partidária própria será também muito feroz.
A luta será para saber quem ocupa os cargos-chave, já que o próprio Lula tem a vocação de eminência parda, mas dirigirá Dilma de muito perto. Se os deuses favorecerem o atual governador de São Paulo, então será a vez de o tucanato voltar a engordar, e tratar de desfazer os trunfos lulistas.
Mas a política real passará longe dos partidos, como já acontece, e o Banco Central e as outras instituições serão os verdadeiros eixos da política.
Por último, convém frisar que o PT não tem nenhuma contribuição para a ampliação tanto da participação popular nas decisões mais importantes, como não melhorou a musculatura institucional do Estado.
Desde Vargas, o último grande reformador do Estado, ele segue o mesmo. FHC tentou introduzir um semiliberalismo via agências reguladoras, mas não foi muito longe; Lula, nem tentar tentou. E La Nave Va
Francisco De Oliveira,76, é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Aos 30 anos de sua fundação, o PT realiza todas as previsões da ciência social sobre a estrutura e o funcionamento das grandes organizações. No caso dos partidos, foi Robert Michels quem traçou essa rota.
Burocratizado, previsível, com abissal espaço entre suas elites e a massa, mesmo a hoje fracamente militante. Prestou uma excelente contribuição à democratização nacional, e continuará sendo um dos dois principais partidos políticos no Brasil. Mas não ampliou a democratização nem a republicanização do Estado.
De partido ideológico, transitou rapidamente para "partido-ônibus" e deste para "partido paraestatal". O partido paraestatal se define como uma organização ambígua, que realiza tarefas que o Estado lhe delega.
No caso do PT, o Estado lhe delega as funções de legitimação na massa popular, e o Bolsa Família é seu maior instrumento.
A mídia e a oposição, em geral, acusam o PT de aparelhamento do Estado. O fenômeno real é o oposto: é o Estado quem aparelha os partidos, embora esse aparelhamento venha coberto de deliciosos chantillys de bons salários, influência nas licitações e descaradamente na corrupção desenfreada.
Por isso, o PT já não é um partido da transformação. Na periferia subdesenvolvida, um partido patrimonialista, na versão machadiana/schwartziana da cultura do favor.
O pós-Lula não conhecerá grandes mudanças no rol dos partidos. O PT é o que mais sofrerá com uma magra dieta não governamental, se sua até agora pretensa candidata não se eleger: tensões internas ou a luta pelo espólio pós-Lula podem aproximá-lo do peronismo sem Perón. Se Dilma se eleger, a luta interna pelo controle de um governo sem personalidade e força partidária própria será também muito feroz.
A luta será para saber quem ocupa os cargos-chave, já que o próprio Lula tem a vocação de eminência parda, mas dirigirá Dilma de muito perto. Se os deuses favorecerem o atual governador de São Paulo, então será a vez de o tucanato voltar a engordar, e tratar de desfazer os trunfos lulistas.
Mas a política real passará longe dos partidos, como já acontece, e o Banco Central e as outras instituições serão os verdadeiros eixos da política.
Por último, convém frisar que o PT não tem nenhuma contribuição para a ampliação tanto da participação popular nas decisões mais importantes, como não melhorou a musculatura institucional do Estado.
Desde Vargas, o último grande reformador do Estado, ele segue o mesmo. FHC tentou introduzir um semiliberalismo via agências reguladoras, mas não foi muito longe; Lula, nem tentar tentou. E La Nave Va
Francisco De Oliveira,76, é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
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