DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /Caderno 2
Raia no horizonte a revolução dos pelegos
Lula deu um show de bola na entrevista ao “Estadão”. Show de bola e com duas frases sinceras e corajosas: “Se eu tivesse ganho a eleição em 89, com a cabeça que eu tinha na época, ou teria de fazer uma revolução ou caía no dia seguinte...” A outra frase foi sobre o programa do PT que estava saindo do forno: “No congresso do PT aparecem mais de 20 teses.
É como uma feira de produtos ideológicos — as pessoas compram e vendem o que querem”. Brilhante entrevista... (Muitos idiotas acham que minha missão na vida é criticar o Lula. Mas eu sou livre para elogiar também) Claro que a entrevista serve para amenizar o chorrilho de burrices e alucinações que o programa do PT nos jogou em cima. Mas prova que, além de ter mantido a política econômica de FH (Lula aprendeu muito com seu ídolo intelectual...), seu outro mérito foi impedir a loucura dos bolchevistas e jacobinos de plantão.
Mas, se Dilma for eleita, teremos saudades de Lula. Quem vai mandar no país será o Zé Dirceu (sempre esse homem fatal...). O programa do PT não é apenas assustador como futuro para um Brasil moderno: é prova de que cabeça de comuna não muda. Nada do que se passou nos últimos 20 anos foi assimilado por essa gente. Estão ali todos os erros passados que cismam em instalar.
Sei do que falo. Conheci pessoalmente muitos comunas de hoje.Eu devo ter assistido a umas mil horas de reuniões de esquerda em minha vida. Fui comunista de carteirinha no PCB, de onde saí para um grupo “independente”, mais moderno, cognominado, claro, pelos velhos “pecebões” de pequeno-burguês e “revisionista”.
E confesso que tenho até saudades das noites de meus vinte anos românticos. Fumávamos muito, sérios, malvestidos, “duros”, planejando instalar o socialismo no país, sem armas, sem apoio sindical ou militar, tudo na base do desejo.
Ninguém precisava estudar, pois a verdade estava do nosso lado. A ideologia mecânica justifica a ignorância. Para nós, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada Jacques, supervisor de nossa “base”: “O marxismo supera a morte, pois, uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa.
Ele só existe como espécie. E não morre!”. E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...
Eu olhava meus companheiros e pensava: “Como vamos conquistar o poder fumando mata-ratos, reunidos neste quarto e sala imundo? Como vamos dominar o Brasil sem uma reles Beretta?” Mas ficava quieto, com medo de ser chamado de “vacilante”.
Era delicioso sentir-se importante, era bom conspirar contra tudo, desde o papai reaça até a expulsão do imperialismo ianque. Tudo nos parecia claro, os oradores “surfavam” em ondas ideológicas com meia dúzia de palavras-chave sobre a tal “realidade brasileira”: burguesia nacional, imperialismo, latifúndio, proletariado, campesinato etc. Nossa tarefa de comunistas era nos infiltrar em todos os “nichos da sociedade” para, de dentro, conquistar o poder socialista.
Tínhamos de nos infiltrar em sindicatos, academias, universidades e — coisa que me deprimia especialmente — em “associações de bairro”, onde eu me via doutrinando donas de casa da Tijuca sobre as virtudes do marxismo.
Exatamente como este híbrido governo Lula/ PT está fazendo hoje — empregando (infiltrando) milhares de companheiros aguerridos e “puros” no aparelho do Estado.Parecia-nos perfeito o diagnóstico sobre o Brasil — os argumentos iam se organizando “dialeticamente” enquanto a madrugada embranquecia.
Até que chegava a hora fatal: “O que fazer?” E aí... ninguém sabia nada. Discutíamos infinitamente para chegar a uma certeza da qual partíamos. Esse é o drama das ideologias: chegar a uma conclusão que já existe desde o início.
E aí pintava o desespero. As acusações mútuas cresciam, com os xingamentos previstos na cartilha marxista: hesitantes ou radicais, ou sectários ou alienados ou provocadores ou obreiristas ou liberais ou o diabo a quatro. E eu, do meu canto neurótico, pensava: “Não ocorre a ninguém que há invejosos, ignorantes, mentirosos, ciumentos, paranoicos, babacas e, simplesmente, os “FDPs”? Por que ninguém via o óbvio? E hoje, com este programa do PT, vemos que a tribo dos “puros”, a plêiade dos “iluminados” de Lenin, aqueles que se sentem “acima” de todos nós (nós — os burgueses neoliberais de direita), está com chance de finalmente fazer o que Lula conseguiu adiar.
Não se trata mais da revolução da “justiça”, como eles achavam que pensavam durante a Guerra Fria. Agora eles partiram para uma outra fria guerra, uma guerra calculista e esperta, oculta pelos chavões dos anos 50. Vamos traduzir o que nos dita o programa do PT, recém-aprovado pelos mentores do “mensalão”, que eles chamam de “tentativa de golpe da direita”.
Quando o programa do PT diz “combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”, leia-se, como o velho Marco Aurélio Garcia deixou escapar: “eliminar o esterco da cultura internacional e controlar a mídia”. Eles têm o sonho de uma grande TV Brasil dominando tudo. Quando falam em “atualizar índices de produtividade no campo”, leia-se “dar força e impunidade ao MST nas invasões e ferrar a agroindústria”.
Quando falam em “apoio incondicional ao Programa Nacional de Direitos Humanos”, leia-se “fazer caber nas abstratas generalizações do texto todas as formas de controle social pelo Estado”.
Claro que os malandros mais pragmáticos do PT divulgam que o programa é apenas para dar pasto para a ala mais radical do partido...
Mentira...
Estão esperando a revolução. Só que é uma revolução para eles mesmos, que se consideram o povo. Dentro do Estado já há 200 mil contratados desde que o Lula tomou posse. O gasto com folha de pagamentos dobrou, de 2002 até hoje. O programa do PT não é para atemorizar tucanos. É um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os “sujeitos”, os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles chamam, a “massa atrasada”.
Raia no horizonte a revolução dos pelegos
Lula deu um show de bola na entrevista ao “Estadão”. Show de bola e com duas frases sinceras e corajosas: “Se eu tivesse ganho a eleição em 89, com a cabeça que eu tinha na época, ou teria de fazer uma revolução ou caía no dia seguinte...” A outra frase foi sobre o programa do PT que estava saindo do forno: “No congresso do PT aparecem mais de 20 teses.
É como uma feira de produtos ideológicos — as pessoas compram e vendem o que querem”. Brilhante entrevista... (Muitos idiotas acham que minha missão na vida é criticar o Lula. Mas eu sou livre para elogiar também) Claro que a entrevista serve para amenizar o chorrilho de burrices e alucinações que o programa do PT nos jogou em cima. Mas prova que, além de ter mantido a política econômica de FH (Lula aprendeu muito com seu ídolo intelectual...), seu outro mérito foi impedir a loucura dos bolchevistas e jacobinos de plantão.
Mas, se Dilma for eleita, teremos saudades de Lula. Quem vai mandar no país será o Zé Dirceu (sempre esse homem fatal...). O programa do PT não é apenas assustador como futuro para um Brasil moderno: é prova de que cabeça de comuna não muda. Nada do que se passou nos últimos 20 anos foi assimilado por essa gente. Estão ali todos os erros passados que cismam em instalar.
Sei do que falo. Conheci pessoalmente muitos comunas de hoje.Eu devo ter assistido a umas mil horas de reuniões de esquerda em minha vida. Fui comunista de carteirinha no PCB, de onde saí para um grupo “independente”, mais moderno, cognominado, claro, pelos velhos “pecebões” de pequeno-burguês e “revisionista”.
E confesso que tenho até saudades das noites de meus vinte anos românticos. Fumávamos muito, sérios, malvestidos, “duros”, planejando instalar o socialismo no país, sem armas, sem apoio sindical ou militar, tudo na base do desejo.
Ninguém precisava estudar, pois a verdade estava do nosso lado. A ideologia mecânica justifica a ignorância. Para nós, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada Jacques, supervisor de nossa “base”: “O marxismo supera a morte, pois, uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa.
Ele só existe como espécie. E não morre!”. E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...
Eu olhava meus companheiros e pensava: “Como vamos conquistar o poder fumando mata-ratos, reunidos neste quarto e sala imundo? Como vamos dominar o Brasil sem uma reles Beretta?” Mas ficava quieto, com medo de ser chamado de “vacilante”.
Era delicioso sentir-se importante, era bom conspirar contra tudo, desde o papai reaça até a expulsão do imperialismo ianque. Tudo nos parecia claro, os oradores “surfavam” em ondas ideológicas com meia dúzia de palavras-chave sobre a tal “realidade brasileira”: burguesia nacional, imperialismo, latifúndio, proletariado, campesinato etc. Nossa tarefa de comunistas era nos infiltrar em todos os “nichos da sociedade” para, de dentro, conquistar o poder socialista.
Tínhamos de nos infiltrar em sindicatos, academias, universidades e — coisa que me deprimia especialmente — em “associações de bairro”, onde eu me via doutrinando donas de casa da Tijuca sobre as virtudes do marxismo.
Exatamente como este híbrido governo Lula/ PT está fazendo hoje — empregando (infiltrando) milhares de companheiros aguerridos e “puros” no aparelho do Estado.Parecia-nos perfeito o diagnóstico sobre o Brasil — os argumentos iam se organizando “dialeticamente” enquanto a madrugada embranquecia.
Até que chegava a hora fatal: “O que fazer?” E aí... ninguém sabia nada. Discutíamos infinitamente para chegar a uma certeza da qual partíamos. Esse é o drama das ideologias: chegar a uma conclusão que já existe desde o início.
E aí pintava o desespero. As acusações mútuas cresciam, com os xingamentos previstos na cartilha marxista: hesitantes ou radicais, ou sectários ou alienados ou provocadores ou obreiristas ou liberais ou o diabo a quatro. E eu, do meu canto neurótico, pensava: “Não ocorre a ninguém que há invejosos, ignorantes, mentirosos, ciumentos, paranoicos, babacas e, simplesmente, os “FDPs”? Por que ninguém via o óbvio? E hoje, com este programa do PT, vemos que a tribo dos “puros”, a plêiade dos “iluminados” de Lenin, aqueles que se sentem “acima” de todos nós (nós — os burgueses neoliberais de direita), está com chance de finalmente fazer o que Lula conseguiu adiar.
Não se trata mais da revolução da “justiça”, como eles achavam que pensavam durante a Guerra Fria. Agora eles partiram para uma outra fria guerra, uma guerra calculista e esperta, oculta pelos chavões dos anos 50. Vamos traduzir o que nos dita o programa do PT, recém-aprovado pelos mentores do “mensalão”, que eles chamam de “tentativa de golpe da direita”.
Quando o programa do PT diz “combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”, leia-se, como o velho Marco Aurélio Garcia deixou escapar: “eliminar o esterco da cultura internacional e controlar a mídia”. Eles têm o sonho de uma grande TV Brasil dominando tudo. Quando falam em “atualizar índices de produtividade no campo”, leia-se “dar força e impunidade ao MST nas invasões e ferrar a agroindústria”.
Quando falam em “apoio incondicional ao Programa Nacional de Direitos Humanos”, leia-se “fazer caber nas abstratas generalizações do texto todas as formas de controle social pelo Estado”.
Claro que os malandros mais pragmáticos do PT divulgam que o programa é apenas para dar pasto para a ala mais radical do partido...
Mentira...
Estão esperando a revolução. Só que é uma revolução para eles mesmos, que se consideram o povo. Dentro do Estado já há 200 mil contratados desde que o Lula tomou posse. O gasto com folha de pagamentos dobrou, de 2002 até hoje. O programa do PT não é para atemorizar tucanos. É um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os “sujeitos”, os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles chamam, a “massa atrasada”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário