DEU EM O GLOBO
A ascensão de Dilma, imposta por Lula e capitaneada por Marco Aurélio Garcia, seria a afirmação de um fenômeno que vem ocorrendo desde os anos 1990: a substituição da liderança política e eleitoral pela burocracia partidária.
Essa imposição de uma tendência que vinha se desenhando teria sido beneficiada pela crise política que atingiu as principais lideranças partidárias em 2005, com o escândalo do mensalão, e pode fazer com que o partido venha a ter mais poder de pressão do que sempre teve sob o governo de Lula.
O cientista político Nelson Paes Leme considera o fato “significativo e inusitado” e receia que possamos ter em nossa história republicana, aí incluídos os dois grandes períodos autoritários do Estado Novo e do Golpe de 64/84, “pela primeira vez na Presidência da República, uma burocracia partidária, de viés socialista mais à esquerda, norteando os destinos do país. A classe política não está refletindo sobre o inusitado fenômeno”.
O sociólogo Rudá Ricci, do Fórum Brasil do Orçamento, que reúne entidades da sociedade civil na defesa das políticas sociais no Orçamento Público Federal, diz que o PT “foi capturado por um grupo político que reúne exmilitantes de esquerda organizada oriundos do PCB e dirigentes sindicais metalúrgicos e bancários, o setor mais controlador e autoritário do sindicalismo brasileiro”.
Exemplares desse grupo são os recentes presidentes do PT, Ricardo Berzoini e José Roberto Dutra. Berzoini, vindo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, só se elegeu deputado federal pela primeira vez em 1998.
Já José Eduardo Dutra foi presidente do Sindicato dos Mineiros do Estado de Sergipe (Sindimina) e dirigente nacional da Central Única dos Trabalhadores. Perdeu duas vezes a eleição para o governo de Sergipe, e entre as duas tentativas foi eleito senador. A última derrota, em 2006, levou-o à presidência da Petrobras.
Na análise do sociólogo mineiro, as tendências que ainda hoje compõem o PT poderiam ter dado origem a um partido de quadros, mas isto não ocorreu. “Elas foram absolutamente superadas e alijadas pela opção eleitoral da direção do partido”.
Esta cúpula, segundo Ricci, adotou “práticas estranhas à origem do partido, deixou de lado a utopia que gerava energia à militância e agiu de maneira rebaixada, pragmática, focada na vitória a qualquer custo”.
Ele ressalta que nos anos 1980 era preciso ser líder de massas para ter expressão pública no PT. “A partir de 94 não houve mais esta necessidade e identidade.
Muitos dirigentes passaram a ter sua legitimidade centrada na burocracia partidária e não em movimentos e representação de massas.
Hoje, muitos dirigentes nem reflexo da burocracia partidária o são. Vários são apenas parlamentares de expressão regional”.
O cientista político Nelson Paes Leme, depois de lembrar o fracasso da experiência soviética, diz que o aparelhamento do Estado pelo PT “tenderá a recrudescer com o fenômeno”.
Abro um parênteses no pensamento de Nelson Paes Leme para ressaltar que mais uma vez a ministra Dilma cometeu um ato falho em seu discurso. Em Copenhague, na reunião do clima, já havia dito que o meio ambiente é prejudicial ao desenvolvimento.
Agora, prometeu continuar “o reaparelhamento do Estado”, quando seu discurso defendia a “reconstrução” do Estado.
Para Paes Leme, quando Dilma e Marco Aurélio Garcia, seu principal coordenador de campanha e mentor, “falam no fortalecimento do Estado, estão falando para esse público interno da burocracia partidária onde ambos têm origem”.
Chama a atenção do cientista político que tanto Dilma quanto Marco Aurélio Garcia, “burocratas de partido que nunca se submeteram a voto popular”, poderão estar a partir da eleição deste ano “no poder central como novas lideranças, ditando novas diretrizes de política interna e externa do país”.
Para Nelson Paes Leme, o inusitado historicamente é exatamente a submissão das correntes com mandato à força da burocracia partidária emergente dentro do partido e do poder central da República.
Rudá Ricci, por sua vez, separa a direção partidária em três grupos: a) os que são tipicamente burocratas partidários; b) os indicados por correntes internas; c) os parlamentares.
“Neste último grupo, há casos do que denominamos na ciência política de ‘representantes delegados’ (termo utilizado por Bobbio). São representantes exclusivos de uma categoria social ou territorial”.
No caso, metalúrgicos, bancários, professores e ruralistas formam, para Ricci, um conjunto que ilustra esta situação: foram sindicalistas antes de parlamentares.
Mas ele destaca que “há casos petistas de parlamentares que se fizeram a partir da burocracia partidária, como o de Zé Dirceu”, hoje o mais importante líder petista, de volta ao Diretório Nacional do partido e na coordenação da campanha de Dilma Rousseff.
Rudá Ricci o considera “um típico representante do controle partidário dos anos 1990. Este é o tipo novo de representação que rompe com aquela dos anos 80, lideranças petistas que eram lideranças de movimentos de massa”.
Gestada na burocracia partidária e sem um histórico petista que imponha sua vontade ao partido, a candidatura Dilma estaria em um dilema: ao mesmo tempo em que é a candidata do lulismo para continuar seu governo pragmático e aliancista, Dilma teria que pagar um tributo ao petismo, que seria uma guinada à esquerda que já está se verificando na teoria do programa de governo oferecido pelo partido à candidata.
A ascensão de Dilma, imposta por Lula e capitaneada por Marco Aurélio Garcia, seria a afirmação de um fenômeno que vem ocorrendo desde os anos 1990: a substituição da liderança política e eleitoral pela burocracia partidária.
Essa imposição de uma tendência que vinha se desenhando teria sido beneficiada pela crise política que atingiu as principais lideranças partidárias em 2005, com o escândalo do mensalão, e pode fazer com que o partido venha a ter mais poder de pressão do que sempre teve sob o governo de Lula.
O cientista político Nelson Paes Leme considera o fato “significativo e inusitado” e receia que possamos ter em nossa história republicana, aí incluídos os dois grandes períodos autoritários do Estado Novo e do Golpe de 64/84, “pela primeira vez na Presidência da República, uma burocracia partidária, de viés socialista mais à esquerda, norteando os destinos do país. A classe política não está refletindo sobre o inusitado fenômeno”.
O sociólogo Rudá Ricci, do Fórum Brasil do Orçamento, que reúne entidades da sociedade civil na defesa das políticas sociais no Orçamento Público Federal, diz que o PT “foi capturado por um grupo político que reúne exmilitantes de esquerda organizada oriundos do PCB e dirigentes sindicais metalúrgicos e bancários, o setor mais controlador e autoritário do sindicalismo brasileiro”.
Exemplares desse grupo são os recentes presidentes do PT, Ricardo Berzoini e José Roberto Dutra. Berzoini, vindo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, só se elegeu deputado federal pela primeira vez em 1998.
Já José Eduardo Dutra foi presidente do Sindicato dos Mineiros do Estado de Sergipe (Sindimina) e dirigente nacional da Central Única dos Trabalhadores. Perdeu duas vezes a eleição para o governo de Sergipe, e entre as duas tentativas foi eleito senador. A última derrota, em 2006, levou-o à presidência da Petrobras.
Na análise do sociólogo mineiro, as tendências que ainda hoje compõem o PT poderiam ter dado origem a um partido de quadros, mas isto não ocorreu. “Elas foram absolutamente superadas e alijadas pela opção eleitoral da direção do partido”.
Esta cúpula, segundo Ricci, adotou “práticas estranhas à origem do partido, deixou de lado a utopia que gerava energia à militância e agiu de maneira rebaixada, pragmática, focada na vitória a qualquer custo”.
Ele ressalta que nos anos 1980 era preciso ser líder de massas para ter expressão pública no PT. “A partir de 94 não houve mais esta necessidade e identidade.
Muitos dirigentes passaram a ter sua legitimidade centrada na burocracia partidária e não em movimentos e representação de massas.
Hoje, muitos dirigentes nem reflexo da burocracia partidária o são. Vários são apenas parlamentares de expressão regional”.
O cientista político Nelson Paes Leme, depois de lembrar o fracasso da experiência soviética, diz que o aparelhamento do Estado pelo PT “tenderá a recrudescer com o fenômeno”.
Abro um parênteses no pensamento de Nelson Paes Leme para ressaltar que mais uma vez a ministra Dilma cometeu um ato falho em seu discurso. Em Copenhague, na reunião do clima, já havia dito que o meio ambiente é prejudicial ao desenvolvimento.
Agora, prometeu continuar “o reaparelhamento do Estado”, quando seu discurso defendia a “reconstrução” do Estado.
Para Paes Leme, quando Dilma e Marco Aurélio Garcia, seu principal coordenador de campanha e mentor, “falam no fortalecimento do Estado, estão falando para esse público interno da burocracia partidária onde ambos têm origem”.
Chama a atenção do cientista político que tanto Dilma quanto Marco Aurélio Garcia, “burocratas de partido que nunca se submeteram a voto popular”, poderão estar a partir da eleição deste ano “no poder central como novas lideranças, ditando novas diretrizes de política interna e externa do país”.
Para Nelson Paes Leme, o inusitado historicamente é exatamente a submissão das correntes com mandato à força da burocracia partidária emergente dentro do partido e do poder central da República.
Rudá Ricci, por sua vez, separa a direção partidária em três grupos: a) os que são tipicamente burocratas partidários; b) os indicados por correntes internas; c) os parlamentares.
“Neste último grupo, há casos do que denominamos na ciência política de ‘representantes delegados’ (termo utilizado por Bobbio). São representantes exclusivos de uma categoria social ou territorial”.
No caso, metalúrgicos, bancários, professores e ruralistas formam, para Ricci, um conjunto que ilustra esta situação: foram sindicalistas antes de parlamentares.
Mas ele destaca que “há casos petistas de parlamentares que se fizeram a partir da burocracia partidária, como o de Zé Dirceu”, hoje o mais importante líder petista, de volta ao Diretório Nacional do partido e na coordenação da campanha de Dilma Rousseff.
Rudá Ricci o considera “um típico representante do controle partidário dos anos 1990. Este é o tipo novo de representação que rompe com aquela dos anos 80, lideranças petistas que eram lideranças de movimentos de massa”.
Gestada na burocracia partidária e sem um histórico petista que imponha sua vontade ao partido, a candidatura Dilma estaria em um dilema: ao mesmo tempo em que é a candidata do lulismo para continuar seu governo pragmático e aliancista, Dilma teria que pagar um tributo ao petismo, que seria uma guinada à esquerda que já está se verificando na teoria do programa de governo oferecido pelo partido à candidata.
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