DEU NO PORTA DO PPS
A recusa do Presidente Luís Inácio Lula da Silva em visitar, em Jerusalém, o túmulo de Theodor Hertzl - fundador do movimento sionista, criador do Estado de Israel - acabou se transformando em incidente diplomático.
A negativa tem como agravante a decisão de visitar e depositar flores no túmulo de Yasser Arafat em Ramallah, cidade que abriga o atual governo palestino. Esta atitude desbalanceada desencadeou uma reação de parte do Ministro das Relações Exteriores de Israel, que se recusou a comparecer à cerimônia no Parlamento Israelense na qual o presidente brasileiro discursou.
Se a boa diplomacia aconselha cumprir protocolos, o incidente permite interpretações de questões delicadas numa região em conflito por muitas décadas, num momento particularmente difícil.
O representante maior de um país que pretende ser um grande protagonista mundial - e pleiteia uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU - não pode se dar ao luxo de cometer tais falhas, sob pena de inviabilizar seu papel de mediador.
Trata-se, portanto, de mais um equívoco cometido pelos responsáveis pela política externa brasileira em nome de interesses ideológicos, rompendo a tradição brasileira ditada pelo Itamaraty de uma política externa de Estado e não de governo.
No caso em pauta, não se pode esquecer do papel desempenhado por Oswaldo Aranha na presidência da II Assembléia Geral da ONU, realizada em novembro de 1947, que decidiu pela partilha da Palestina, o que deu ensejo à criação do Estado de Israel.
Em menos de um ano ocorreram vários episódios: o primeiro deles em Honduras, quando o presidente deposto, Manuel Zelaya se instalou na embaixada brasileira sem ter solicitado o status de asilado político. Sem contar o desprezo pela flagrante violação de direitos humanos no Irã e em Cuba, contradizendo a própria Constituição Brasileira.
Agora, o governo do Brasil diferencia os papéis exercidos por Hertzl e Arafat para os seus respectivos povos. Como muitos outros ícones de outras nações, eles são figuras controversas. Mas ambos são líderes de movimentos de libertação nacional e mitos fundadores das duas nações.
Tanto o sionismo como a OLP constituem grandes frentes nacionais com forças políticas de todas as cores. Em ambos estão representados os campos da paz e da guerra. Considerar o sionismo como entidade monolítica, portadora de uma ideologia racista é um grave erro histórico. No momento da partilha da Palestina e da criação do Estado de Israel, os grupos sionistas majoritários apostavam na paz e eram de centro-esquerda.
O quadro político do movimento sionista sofreu modificações a partir dos desdobramentos da Guerra Fria, mas nada impede que, na nova conjuntura internacional, possa ser o protagonista de uma paz negociada, justa e duradoura para todos os povos.
Uma paz duradoura que será fundada na criação de um Estado Palestino independente ao lado do Estado de Israel, com suas capitais em Jerusalém, como almejam todas as forças do campo da paz na região.
Dar status de movimento de libertação nacional à OLP enquanto se rotula o sionismo de colonialista ou imperialista é uma atitude unilateral que só auxilia as forças mais retrógradas e conservadoras que existem atualmente no Estado de Israel, bem como aos belicistas que se recusam a reconhecer a legitimidade desse Estado.
Mais ainda, a condenação do sionismo - ainda que velada e simbolizada por tratamentos distintos para os próceres dos dois povos - fortalece as idéias anti-semitas, cuja máscara se transforma ao longo dos séculos e hoje vem travestida pelo anti-sionismo.
O discurso retórico é desnecessário. Num mundo onde o simbólico é cada vez mais importante, certas decisões, aparentemente inconseqüentes, podem ter significados da maior magnitude. O gesto do Presidente Lula diz muito. Neste caso, não favorece a paz, mas só alimenta o conflito.
* é secretária de Relações Internacionais do PPS
A recusa do Presidente Luís Inácio Lula da Silva em visitar, em Jerusalém, o túmulo de Theodor Hertzl - fundador do movimento sionista, criador do Estado de Israel - acabou se transformando em incidente diplomático.
A negativa tem como agravante a decisão de visitar e depositar flores no túmulo de Yasser Arafat em Ramallah, cidade que abriga o atual governo palestino. Esta atitude desbalanceada desencadeou uma reação de parte do Ministro das Relações Exteriores de Israel, que se recusou a comparecer à cerimônia no Parlamento Israelense na qual o presidente brasileiro discursou.
Se a boa diplomacia aconselha cumprir protocolos, o incidente permite interpretações de questões delicadas numa região em conflito por muitas décadas, num momento particularmente difícil.
O representante maior de um país que pretende ser um grande protagonista mundial - e pleiteia uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU - não pode se dar ao luxo de cometer tais falhas, sob pena de inviabilizar seu papel de mediador.
Trata-se, portanto, de mais um equívoco cometido pelos responsáveis pela política externa brasileira em nome de interesses ideológicos, rompendo a tradição brasileira ditada pelo Itamaraty de uma política externa de Estado e não de governo.
No caso em pauta, não se pode esquecer do papel desempenhado por Oswaldo Aranha na presidência da II Assembléia Geral da ONU, realizada em novembro de 1947, que decidiu pela partilha da Palestina, o que deu ensejo à criação do Estado de Israel.
Em menos de um ano ocorreram vários episódios: o primeiro deles em Honduras, quando o presidente deposto, Manuel Zelaya se instalou na embaixada brasileira sem ter solicitado o status de asilado político. Sem contar o desprezo pela flagrante violação de direitos humanos no Irã e em Cuba, contradizendo a própria Constituição Brasileira.
Agora, o governo do Brasil diferencia os papéis exercidos por Hertzl e Arafat para os seus respectivos povos. Como muitos outros ícones de outras nações, eles são figuras controversas. Mas ambos são líderes de movimentos de libertação nacional e mitos fundadores das duas nações.
Tanto o sionismo como a OLP constituem grandes frentes nacionais com forças políticas de todas as cores. Em ambos estão representados os campos da paz e da guerra. Considerar o sionismo como entidade monolítica, portadora de uma ideologia racista é um grave erro histórico. No momento da partilha da Palestina e da criação do Estado de Israel, os grupos sionistas majoritários apostavam na paz e eram de centro-esquerda.
O quadro político do movimento sionista sofreu modificações a partir dos desdobramentos da Guerra Fria, mas nada impede que, na nova conjuntura internacional, possa ser o protagonista de uma paz negociada, justa e duradoura para todos os povos.
Uma paz duradoura que será fundada na criação de um Estado Palestino independente ao lado do Estado de Israel, com suas capitais em Jerusalém, como almejam todas as forças do campo da paz na região.
Dar status de movimento de libertação nacional à OLP enquanto se rotula o sionismo de colonialista ou imperialista é uma atitude unilateral que só auxilia as forças mais retrógradas e conservadoras que existem atualmente no Estado de Israel, bem como aos belicistas que se recusam a reconhecer a legitimidade desse Estado.
Mais ainda, a condenação do sionismo - ainda que velada e simbolizada por tratamentos distintos para os próceres dos dois povos - fortalece as idéias anti-semitas, cuja máscara se transforma ao longo dos séculos e hoje vem travestida pelo anti-sionismo.
O discurso retórico é desnecessário. Num mundo onde o simbólico é cada vez mais importante, certas decisões, aparentemente inconseqüentes, podem ter significados da maior magnitude. O gesto do Presidente Lula diz muito. Neste caso, não favorece a paz, mas só alimenta o conflito.
* é secretária de Relações Internacionais do PPS
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