DEU EM O GLOBO
Ex-guerrilheiro assume Presidência do Uruguai pregando integração regional e aproximação dos EUA
Regina Alvarez
Enviada especial
MONTEVIDÉU. Aos 74 anos, José Mujica, ex-guerrilheiro tupamaro eleito presidente do Uruguai, tomou posse ontem prometendo uma política econômica ortodoxa, combinada com avanços na área social e ênfase na educação. O novo presidente uruguaio, que comandará o segundo governo de esquerda consecutivo no país, defendeu a integração regional, mas cobrou compromisso e reciprocidade de parceiros maiores e mais ricos, como Brasil e Argentina.
Sem gravata, Mujica fez questão de manter seu estilo informal na solenidade de posse no Palácio Legislativo. Ele recebeu o poder das mãos do presidente Tabaré Vázquez, numa praça no centro de Montevidéu com uma grande festa popular. Milhares de uruguaios lotaram ruas e avenidas empunhando bandeiras do Uruguai e da coligação Frente Ampla.
— É um dos dias mais felizes da minha vida. Pepe é minha revolução, há muitos anos ele é quem melhor representa a todos nós, ao povo — disse emocionada, a cozinheira Silvia Castro, de 49 anos, em meio à multidão, referindo-se ao presidente por seu apelido.
Mujica discursou de improviso e até mesmo cantou junto com o grupo Los Olimareños, muito popular no Uruguai e engajado na luta da esquerda desde os tempos da ditadura.
— Nosso programa se resume em duas palavras: mais do mesmo. Vamos dar ao país cinco anos a mais de manejo profissional da economia. Vamos ser quase ortodoxos na macroeconomia, mas vamos compensar largamente sendo heterodoxos, inovadores e atrevidos em outros aspectos, em particular a ter um Estado ativo no estímulo, um país agrointeligente — afirmou o presidente num discurso de quase uma hora.
Mujica voltou a defender avanços na integração dos países da América Latina e definiu a região como uma “família que quer se juntar, mas não consegue”.
— Continuamos fracassando ao tentar fazer a pátria grande, pelo menos até agora, mas não perdemos a esperança porque estão vivos os sentimentos, do Rio Bravo às Malvinas vive uma única nação, a nação latino-americana — disse ele. — Para nós, o Mercosul é até que a morte nos separe, mas esperamos uma atitude recíproca de nossos sócios maiores — disse ele, no fim do discurso de posse.
Lula: países mais ricos devem ajudar mais pobres O presidente também falou da política interna uruguaia e aproveitou para mandar um recado a seus opositores, a quem propôs montar um governo de coalizão: — Vamos buscar o diálogo, não porque somos bons ou mansos, mas porque acreditamos que esta ideia da complementaridade é a que melhor se ajusta à realidade de hoje.
Vamos continuar a construir uma pátria para todos.
Diante de todos os chefes de Estado da América Latina presentes à cerimônia — à exceção da presidente do Chile, Michelle Bachelet, ocupada com o terremoto que abalou seu país — e da secretária de Estado americana, Hillar y Clinton, Mujica lembrou sua intenção de “abrir o Uruguai para o mundo” e atrair os EUA para acordos bilaterais: — Não vamos esperar de braços cruzados que nos tragam o destino ou o mercado, vamos sair a buscá-lo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concordou com as críticas ao Mercosul. Segundo ele, os países mais ricos devem ser solidários com os mais pobres.
— Eu compactuo com o companheiro Pepe Mujica. Um país do tamanho do Brasil, do tamanho da Argentina, os países maiores têm de ter mais generosidade com os países menores — disse ele.
Ex-guerrilheiro assume Presidência do Uruguai pregando integração regional e aproximação dos EUA
Regina Alvarez
Enviada especial
MONTEVIDÉU. Aos 74 anos, José Mujica, ex-guerrilheiro tupamaro eleito presidente do Uruguai, tomou posse ontem prometendo uma política econômica ortodoxa, combinada com avanços na área social e ênfase na educação. O novo presidente uruguaio, que comandará o segundo governo de esquerda consecutivo no país, defendeu a integração regional, mas cobrou compromisso e reciprocidade de parceiros maiores e mais ricos, como Brasil e Argentina.
Sem gravata, Mujica fez questão de manter seu estilo informal na solenidade de posse no Palácio Legislativo. Ele recebeu o poder das mãos do presidente Tabaré Vázquez, numa praça no centro de Montevidéu com uma grande festa popular. Milhares de uruguaios lotaram ruas e avenidas empunhando bandeiras do Uruguai e da coligação Frente Ampla.
— É um dos dias mais felizes da minha vida. Pepe é minha revolução, há muitos anos ele é quem melhor representa a todos nós, ao povo — disse emocionada, a cozinheira Silvia Castro, de 49 anos, em meio à multidão, referindo-se ao presidente por seu apelido.
Mujica discursou de improviso e até mesmo cantou junto com o grupo Los Olimareños, muito popular no Uruguai e engajado na luta da esquerda desde os tempos da ditadura.
— Nosso programa se resume em duas palavras: mais do mesmo. Vamos dar ao país cinco anos a mais de manejo profissional da economia. Vamos ser quase ortodoxos na macroeconomia, mas vamos compensar largamente sendo heterodoxos, inovadores e atrevidos em outros aspectos, em particular a ter um Estado ativo no estímulo, um país agrointeligente — afirmou o presidente num discurso de quase uma hora.
Mujica voltou a defender avanços na integração dos países da América Latina e definiu a região como uma “família que quer se juntar, mas não consegue”.
— Continuamos fracassando ao tentar fazer a pátria grande, pelo menos até agora, mas não perdemos a esperança porque estão vivos os sentimentos, do Rio Bravo às Malvinas vive uma única nação, a nação latino-americana — disse ele. — Para nós, o Mercosul é até que a morte nos separe, mas esperamos uma atitude recíproca de nossos sócios maiores — disse ele, no fim do discurso de posse.
Lula: países mais ricos devem ajudar mais pobres O presidente também falou da política interna uruguaia e aproveitou para mandar um recado a seus opositores, a quem propôs montar um governo de coalizão: — Vamos buscar o diálogo, não porque somos bons ou mansos, mas porque acreditamos que esta ideia da complementaridade é a que melhor se ajusta à realidade de hoje.
Vamos continuar a construir uma pátria para todos.
Diante de todos os chefes de Estado da América Latina presentes à cerimônia — à exceção da presidente do Chile, Michelle Bachelet, ocupada com o terremoto que abalou seu país — e da secretária de Estado americana, Hillar y Clinton, Mujica lembrou sua intenção de “abrir o Uruguai para o mundo” e atrair os EUA para acordos bilaterais: — Não vamos esperar de braços cruzados que nos tragam o destino ou o mercado, vamos sair a buscá-lo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concordou com as críticas ao Mercosul. Segundo ele, os países mais ricos devem ser solidários com os mais pobres.
— Eu compactuo com o companheiro Pepe Mujica. Um país do tamanho do Brasil, do tamanho da Argentina, os países maiores têm de ter mais generosidade com os países menores — disse ele.
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