DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Jornalista experimentado, respeitado dirigente esportivo, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) é um político brilhante. Comandou no Congresso a defenestração de Fernando Collor de Melo, logo depois foi enxovalhado e linchado por algo que não fez (a participação no escândalo dos Anões do Orçamento), provou a inocência, foi reabilitado.
Possuía todos os atributos para escapar da armadilha do "muda tudo em matéria de petróleo" quando o Executivo, eufórico, decidiu levar aos palanques eleitorais a exploração da camada submarina denominada pré-sal. Mordeu a isca do federalismo e, inspirado nos textos de James Madison, o quarto presidente americano, imaginou que a socialização dos benefícios dos royalties petrolíferos reforçaria a república, tornando-a mais equitativa e isonômica.
Não reparou no terreno minado e apresentou a emenda que altera drasticamente a compensação paga pelo Estado brasileiro aos Estados produtores de petróleo. Resultado: está sendo crucificado no Rio de Janeiro, a unidade federativa mais prejudicada, e corre o risco de passar à história como autor de uma crise política de grandes proporções quando, na realidade, foi apenas o seu deflagrador. O que não diminui suas responsabilidades.
Embora na distante Jordânia, o presidente Lula não esqueceu as manhas da ginga e tirou o corpo fora: nada tem a ver com o assunto, "eu sabia que, emano de eleição, todo o mundo quer fazer gracinha", explicou.
A coleção de gracinhas é impressionante, a maioria oriunda do mesmo script, da mesma matriz, marcada pela mesma palavra-chave cobiça. O tesouro do pré-sal é tão fantástico, tão fabuloso que pareceu aos seus atuais gerenciadores uma arrematada burrice manter a sua exploração dentro dos atuais paradigmas.
Caso clássico de inebriação coletiva, decretou-se que, em matéria de petróleo, tudo deveria ser revisto e refeito do marco regulatório à uma nova estatal, de um novo modelo de concessões para perfuração à famigerada redistribuição de royalties.
Fazer gracinha é uma das compulsões nacionais: raros são os que resistem a ela. A votação do pré-sal estava pré-carimbada pela urgência e pré-aprovada pela base aliada do governo.
Ninguém se deu ao trabalho de examinar efeitos perversos, nem tentou minorá-los. Foi aprovada por 369 a 72 votos. Goleada.
Gracinha da oposição, broma da base aliada ou embromação generalizada para melar tudo e começar da estaca zero depois das eleições? Mesmo que a reversão seja possível, as cicatrizes do episódio são indeléveis e as sequelas certamente serão inconfortáveis.
Pendura dona brocha, órfão, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mostrou que sabe utilizar a expertise da imprensa popular da antiga capital federal para mobilizar as emoções de uma cidade historicamente aguerrida.
Foi um ensaio de emancipação no terceiro maior colégio eleitoral do País, com a visível solidariedade dos outros dois. São Paulo também saiu prejudicado na redistribuição de royalties mas o seu governador por ora toca na clave baixa, enquanto o colega mineiro que não tem petróleo,vista para o mar e nada a perder, solidariza-se ostensivamente com o camarada carioca.
Esta gracinha na esfera eleitoral não deveria ser desconsiderada. Pode degenerar em estrepitosa gargalhada. Não adianta atribuí-la ao Congresso, foi armada pelos mesmos piadistas que só pensam "naquilo" eleições.
» Alberto Dines é jornalista
Jornalista experimentado, respeitado dirigente esportivo, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) é um político brilhante. Comandou no Congresso a defenestração de Fernando Collor de Melo, logo depois foi enxovalhado e linchado por algo que não fez (a participação no escândalo dos Anões do Orçamento), provou a inocência, foi reabilitado.
Possuía todos os atributos para escapar da armadilha do "muda tudo em matéria de petróleo" quando o Executivo, eufórico, decidiu levar aos palanques eleitorais a exploração da camada submarina denominada pré-sal. Mordeu a isca do federalismo e, inspirado nos textos de James Madison, o quarto presidente americano, imaginou que a socialização dos benefícios dos royalties petrolíferos reforçaria a república, tornando-a mais equitativa e isonômica.
Não reparou no terreno minado e apresentou a emenda que altera drasticamente a compensação paga pelo Estado brasileiro aos Estados produtores de petróleo. Resultado: está sendo crucificado no Rio de Janeiro, a unidade federativa mais prejudicada, e corre o risco de passar à história como autor de uma crise política de grandes proporções quando, na realidade, foi apenas o seu deflagrador. O que não diminui suas responsabilidades.
Embora na distante Jordânia, o presidente Lula não esqueceu as manhas da ginga e tirou o corpo fora: nada tem a ver com o assunto, "eu sabia que, emano de eleição, todo o mundo quer fazer gracinha", explicou.
A coleção de gracinhas é impressionante, a maioria oriunda do mesmo script, da mesma matriz, marcada pela mesma palavra-chave cobiça. O tesouro do pré-sal é tão fantástico, tão fabuloso que pareceu aos seus atuais gerenciadores uma arrematada burrice manter a sua exploração dentro dos atuais paradigmas.
Caso clássico de inebriação coletiva, decretou-se que, em matéria de petróleo, tudo deveria ser revisto e refeito do marco regulatório à uma nova estatal, de um novo modelo de concessões para perfuração à famigerada redistribuição de royalties.
Fazer gracinha é uma das compulsões nacionais: raros são os que resistem a ela. A votação do pré-sal estava pré-carimbada pela urgência e pré-aprovada pela base aliada do governo.
Ninguém se deu ao trabalho de examinar efeitos perversos, nem tentou minorá-los. Foi aprovada por 369 a 72 votos. Goleada.
Gracinha da oposição, broma da base aliada ou embromação generalizada para melar tudo e começar da estaca zero depois das eleições? Mesmo que a reversão seja possível, as cicatrizes do episódio são indeléveis e as sequelas certamente serão inconfortáveis.
Pendura dona brocha, órfão, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mostrou que sabe utilizar a expertise da imprensa popular da antiga capital federal para mobilizar as emoções de uma cidade historicamente aguerrida.
Foi um ensaio de emancipação no terceiro maior colégio eleitoral do País, com a visível solidariedade dos outros dois. São Paulo também saiu prejudicado na redistribuição de royalties mas o seu governador por ora toca na clave baixa, enquanto o colega mineiro que não tem petróleo,vista para o mar e nada a perder, solidariza-se ostensivamente com o camarada carioca.
Esta gracinha na esfera eleitoral não deveria ser desconsiderada. Pode degenerar em estrepitosa gargalhada. Não adianta atribuí-la ao Congresso, foi armada pelos mesmos piadistas que só pensam "naquilo" eleições.
» Alberto Dines é jornalista
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