DEU EM O GLOBO
Henrique Meirelles ficou no Banco Central e saiu da política. Assim ele avalia.“Não me vejo daqui a quatro anos disputando eleição.” Sobre subir juros em ano eleitoral, Meirelles disse: “O que afeta voto é inflação. Selic dá conversinha de alguns políticos e reação de empresário.” Se o presidente Lula não concordasse com isso, disse, ele teria saído do governo agora.
Meirelles me disse que foi difícil a decisão dos últimos dias: — Eu sou de Goiás, e claro que a ideia de governar meu estado sempre esteve no meu horizonte desde que eu entrei na política.
Quando disputei o mandato de deputado pelo PSDB, (Marconi) Perillo estava a par desse plano. Eu teria seguido a minha carreira política em Goiás, mas o presidente Lula me chamou para o Banco Central e isso mudou tudo.
Agora, no fim desse segundo mandato, ele voltou a pensar no mesmo projeto: — O PMDB era a melhor opção para Goiás, por isso eu tratei desse assunto lá no meu estado e conversei com a direção do partido apenas na véspera sobre a minha filiação.
Meirelles nega que tenha sido seu sonho ou que tenha trabalhado a possibilidade de ser candidato a vice-presidente.
— Esse assunto surgiu e claro que me envaidece, mas eu não articulei. Ontem mesmo quando saí daqui e fui a um restaurante pessoas vieram falar comigo sobre essa possibilidade.
Mas eu sou o primeiro a concordar que o PMDB é que tinha que buscar suas opções. Eu, o que quis, era ter me candidatado a governador de Goiás. Agora as portas estão fechadas para a política e eu não me vejo daqui a quatro anos disputando uma eleição.
Meirelles disse que agora se concentra no Banco Central: — A minha grande motivação é a de colaborar para que os resultados desses sete anos permaneçam.
O mercado e os analistas entenderam o último Relatório de Inflação como um movimento do Banco Central de aceitar um pouco mais de inflação agora, neste ano eleitoral.
Meirelles disse que isso é um erro de avaliação: — É uma raridade estatística fechar o ano calendário com a inflação no centro da meta. Ela tem é que convergir para a meta sempre, e esse é o trabalho do Banco Central. As projeções do mercado mostram que no horizonte de 12 meses a inflação está no centro da meta.
E para isso vamos trabalhar.
Meirelles explicou que nos dois cenários com os quais se trabalha, o cenário de mercado e o cenário de referência, não há diferença na projeção da inflação. O que significa, tecnicamente, que o mercado não vê impacto da política monetária a curto prazo: — E é isso mesmo porque há uma defasagem. Houve um choque de preços de commodities e a inflação está mais elevada. O importante é trabalhar agora para levar a inflação para a meta em 12 meses. Seria um erro adiar essa correção por motivos políticos. Não abandonamos a meta. Ela está na mão.
Lembrei a Meirelles que ele tem tanto a cabeça do político quanto a do presidente do Banco Central, e cruzando esses dois mundos perguntei como ele imagina que ocorrerá esse cenário de o BC iniciar agora um ciclo de elevação de taxa de juros, quando os políticos estão mais sensíveis às pressões e críticas aos juros altos. Ele foi taxativo: — O que afeta o voto não é a Selic, o que afeta o voto é a inflação. Erro seria deixar a inflação subir.
Depois de dizer que Selic provoca é conversinha de alguns políticos, reação de empresário e assunto na mídia, Meirelles insistiu que a inflação sob controle é que traz o maior ganho eleitoral: — Se não fosse assim, como é que se explica o resultado eleitoral de 2006, quando os juros subiram? Em 2004, entre o primeiro e o segundo turno da eleição municipal, nós elevamos os juros.
O que tem impacto eleitoral é a inflação. Essa é a minha convicção, e se o presidente da República não concordasse com isso teria me incentivado a sair.
Meirelles também discorda completamente da ideia de que o BC possa adiar a elevação dos juros: — Atrasar o ciclo seria um suicídio, isso elevaria a inflação e o Banco Central iria acabar tendo que subir juros no meio da eleição com a inflação alta. Atrasar não faz sentido algum.
O mercado acompanhou com expectativa essas últimas horas, alguns acreditando que as metas de inflação já tinham amadurecido o suficiente para que a saída de Meirelles nada significasse. Mas no final das contas, quando saiu a notícia de que ele tinha decidido ficar, relatórios dos bancos para seus clientes aqui e no exterior foram expedidos tratando a decisão como uma notícia que confirma o cenário de uma política monetária forte.
O presidente do BC fez a análise correta, o que afeta a política é a inflação. A economia aquecida, o choque de alta de preços das commodities, e a elevação dos preços dos alimentos, tudo isso apontava um cenário de risco para o aumento da inflação. E ela subindo tira renda das pessoas; queda de renda afeta o humor do eleitorado.
Mesmo assim será um duro teste da autonomia do Banco Central nos próximos meses.
A notícia de ontem é que sem espaço na política, Meirelles se voltou ao seu trabalho no Banco Central. Lá ele só poderá ter uma cabeça: a da autoridade monetária.
Henrique Meirelles ficou no Banco Central e saiu da política. Assim ele avalia.“Não me vejo daqui a quatro anos disputando eleição.” Sobre subir juros em ano eleitoral, Meirelles disse: “O que afeta voto é inflação. Selic dá conversinha de alguns políticos e reação de empresário.” Se o presidente Lula não concordasse com isso, disse, ele teria saído do governo agora.
Meirelles me disse que foi difícil a decisão dos últimos dias: — Eu sou de Goiás, e claro que a ideia de governar meu estado sempre esteve no meu horizonte desde que eu entrei na política.
Quando disputei o mandato de deputado pelo PSDB, (Marconi) Perillo estava a par desse plano. Eu teria seguido a minha carreira política em Goiás, mas o presidente Lula me chamou para o Banco Central e isso mudou tudo.
Agora, no fim desse segundo mandato, ele voltou a pensar no mesmo projeto: — O PMDB era a melhor opção para Goiás, por isso eu tratei desse assunto lá no meu estado e conversei com a direção do partido apenas na véspera sobre a minha filiação.
Meirelles nega que tenha sido seu sonho ou que tenha trabalhado a possibilidade de ser candidato a vice-presidente.
— Esse assunto surgiu e claro que me envaidece, mas eu não articulei. Ontem mesmo quando saí daqui e fui a um restaurante pessoas vieram falar comigo sobre essa possibilidade.
Mas eu sou o primeiro a concordar que o PMDB é que tinha que buscar suas opções. Eu, o que quis, era ter me candidatado a governador de Goiás. Agora as portas estão fechadas para a política e eu não me vejo daqui a quatro anos disputando uma eleição.
Meirelles disse que agora se concentra no Banco Central: — A minha grande motivação é a de colaborar para que os resultados desses sete anos permaneçam.
O mercado e os analistas entenderam o último Relatório de Inflação como um movimento do Banco Central de aceitar um pouco mais de inflação agora, neste ano eleitoral.
Meirelles disse que isso é um erro de avaliação: — É uma raridade estatística fechar o ano calendário com a inflação no centro da meta. Ela tem é que convergir para a meta sempre, e esse é o trabalho do Banco Central. As projeções do mercado mostram que no horizonte de 12 meses a inflação está no centro da meta.
E para isso vamos trabalhar.
Meirelles explicou que nos dois cenários com os quais se trabalha, o cenário de mercado e o cenário de referência, não há diferença na projeção da inflação. O que significa, tecnicamente, que o mercado não vê impacto da política monetária a curto prazo: — E é isso mesmo porque há uma defasagem. Houve um choque de preços de commodities e a inflação está mais elevada. O importante é trabalhar agora para levar a inflação para a meta em 12 meses. Seria um erro adiar essa correção por motivos políticos. Não abandonamos a meta. Ela está na mão.
Lembrei a Meirelles que ele tem tanto a cabeça do político quanto a do presidente do Banco Central, e cruzando esses dois mundos perguntei como ele imagina que ocorrerá esse cenário de o BC iniciar agora um ciclo de elevação de taxa de juros, quando os políticos estão mais sensíveis às pressões e críticas aos juros altos. Ele foi taxativo: — O que afeta o voto não é a Selic, o que afeta o voto é a inflação. Erro seria deixar a inflação subir.
Depois de dizer que Selic provoca é conversinha de alguns políticos, reação de empresário e assunto na mídia, Meirelles insistiu que a inflação sob controle é que traz o maior ganho eleitoral: — Se não fosse assim, como é que se explica o resultado eleitoral de 2006, quando os juros subiram? Em 2004, entre o primeiro e o segundo turno da eleição municipal, nós elevamos os juros.
O que tem impacto eleitoral é a inflação. Essa é a minha convicção, e se o presidente da República não concordasse com isso teria me incentivado a sair.
Meirelles também discorda completamente da ideia de que o BC possa adiar a elevação dos juros: — Atrasar o ciclo seria um suicídio, isso elevaria a inflação e o Banco Central iria acabar tendo que subir juros no meio da eleição com a inflação alta. Atrasar não faz sentido algum.
O mercado acompanhou com expectativa essas últimas horas, alguns acreditando que as metas de inflação já tinham amadurecido o suficiente para que a saída de Meirelles nada significasse. Mas no final das contas, quando saiu a notícia de que ele tinha decidido ficar, relatórios dos bancos para seus clientes aqui e no exterior foram expedidos tratando a decisão como uma notícia que confirma o cenário de uma política monetária forte.
O presidente do BC fez a análise correta, o que afeta a política é a inflação. A economia aquecida, o choque de alta de preços das commodities, e a elevação dos preços dos alimentos, tudo isso apontava um cenário de risco para o aumento da inflação. E ela subindo tira renda das pessoas; queda de renda afeta o humor do eleitorado.
Mesmo assim será um duro teste da autonomia do Banco Central nos próximos meses.
A notícia de ontem é que sem espaço na política, Meirelles se voltou ao seu trabalho no Banco Central. Lá ele só poderá ter uma cabeça: a da autoridade monetária.
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