DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Os números ontem divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento mostram que a balança comercial, conta em que são registradas exportações e importações, aponta para uma rápida deterioração.
Há apenas três meses, o superávit mensal registrava vários bilhões de dólares (chegou a ser de US$ 4,6 bilhões em junho de 2009). O de março não passou de US$ 668 milhões. Em relação ao do primeiro trimestre de 2009, o saldo do primeiro trimestre deste ano mostra queda de 70,0%.
E não dá para dizer que as exportações estão fraquejando. Ao contrário, as exportações crescem uma enormidade, nada menos que 25,8% - feitos os cálculos com base na acumulada do primeiro trimestre comparada com o mesmo período do ano passado. No entanto, as importações mostram um vigor ainda maior, crescem 36,0%.
O principal fator responsável pela esticada das importações é o aumento do consumo interno, que vai se expandindo em torno dos 7% ao ano, enquanto o setor produtivo cresce a um ritmo de 5% ou 6% ao ano. Ou seja, a oferta interna não está dando conta do tamanho do consumo; os investimentos para aumentar a produção acontecem, mas em velocidade mais baixa. Assim, para garantir o abastecimento nacional, a economia recorre às importações e o fornecedor do Brasil agradece, porque enfrenta redução de encomendas por causa da crise. O forte consumo interno impede, também, que as exportações cresçam mais. Assim, o País não exporta mais café, soja e veículos porque as vendas internas deixam menos excedentes.
Já é fato sabido, mas não custa repetir, que o consumo no Brasil está sendo turbinado por três fatores: pelo forte aumento do crédito; por alguma renúncia tributária do governo federal (isenção do IPI para veículos e aparelhos domésticos); e pela disparada das despesas correntes do governo federal, a um ritmo de 17% ao ano.
A partir deste mês, o Banco Central deve aumentar os juros para conter o consumo. Mas ninguém deve esperar que neste ano a política monetária sozinha tenha força para reduzir os impulsos de compra do brasileiro. Algum efeito, se acontecer, será sentido apenas na virada do ano.
Alguns analistas insistem em que a valorização do real é o principal fator por trás da puxada das importações. Não dá para negar essa influência, mas também não dá para exagerá-la. As exportações não estariam aumentando quase 26% neste ano se a magnitude da valorização do real fosse tão importante quanto se diz por aí.
Uma das indicações de que o câmbio não vem sendo obstáculo relevante para exportar é o que acontece no setor de produtos industrializados, em princípio os mais sensíveis às variações de câmbio. Embora o mercado externo esteja tolhido pela crise, no primeiro trimestre, a exportação desse segmento cresceu 20,6% e, como já ficou dito, provavelmente mais cresceria não fosse o forte apetite interno.
Os resultados medíocres do primeiro trimestre não devem ser extrapolados para o resto do ano. Pelo menos três puxadores de exportação começam a atuar com mais força: a alta das commodities, especialmente do minério de ferro (alta de 90%); as safras agrícolas recordes deste ano que agora vão se escoando em maior volume em direção aos portos; e a razoável recuperação do comércio mundial depois da paralisia imposta pela crise.
Confira
Diga ao povo que fico
Henrique Meirelles avisa que por hora desiste da carreira política e que vai permanecer à frente do Banco Central. Como observado na Coluna de ontem, vai enfrentar mais pressão do que habitualmente na administração da política monetária. A inflação está saindo dos trilhos justamente num ano de eleições. E, na medida em que puxar pelos juros, o presidente do Banco Central vai ser hostilizado como aquele que está desmanchando o bom ambiente do setor produtivo. Em caso de vitória da candidata Dilma Rousseff, Meirelles se cacifa para ser figura importante no Ministério
Os números ontem divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento mostram que a balança comercial, conta em que são registradas exportações e importações, aponta para uma rápida deterioração.
Há apenas três meses, o superávit mensal registrava vários bilhões de dólares (chegou a ser de US$ 4,6 bilhões em junho de 2009). O de março não passou de US$ 668 milhões. Em relação ao do primeiro trimestre de 2009, o saldo do primeiro trimestre deste ano mostra queda de 70,0%.
E não dá para dizer que as exportações estão fraquejando. Ao contrário, as exportações crescem uma enormidade, nada menos que 25,8% - feitos os cálculos com base na acumulada do primeiro trimestre comparada com o mesmo período do ano passado. No entanto, as importações mostram um vigor ainda maior, crescem 36,0%.
O principal fator responsável pela esticada das importações é o aumento do consumo interno, que vai se expandindo em torno dos 7% ao ano, enquanto o setor produtivo cresce a um ritmo de 5% ou 6% ao ano. Ou seja, a oferta interna não está dando conta do tamanho do consumo; os investimentos para aumentar a produção acontecem, mas em velocidade mais baixa. Assim, para garantir o abastecimento nacional, a economia recorre às importações e o fornecedor do Brasil agradece, porque enfrenta redução de encomendas por causa da crise. O forte consumo interno impede, também, que as exportações cresçam mais. Assim, o País não exporta mais café, soja e veículos porque as vendas internas deixam menos excedentes.
Já é fato sabido, mas não custa repetir, que o consumo no Brasil está sendo turbinado por três fatores: pelo forte aumento do crédito; por alguma renúncia tributária do governo federal (isenção do IPI para veículos e aparelhos domésticos); e pela disparada das despesas correntes do governo federal, a um ritmo de 17% ao ano.
A partir deste mês, o Banco Central deve aumentar os juros para conter o consumo. Mas ninguém deve esperar que neste ano a política monetária sozinha tenha força para reduzir os impulsos de compra do brasileiro. Algum efeito, se acontecer, será sentido apenas na virada do ano.
Alguns analistas insistem em que a valorização do real é o principal fator por trás da puxada das importações. Não dá para negar essa influência, mas também não dá para exagerá-la. As exportações não estariam aumentando quase 26% neste ano se a magnitude da valorização do real fosse tão importante quanto se diz por aí.
Uma das indicações de que o câmbio não vem sendo obstáculo relevante para exportar é o que acontece no setor de produtos industrializados, em princípio os mais sensíveis às variações de câmbio. Embora o mercado externo esteja tolhido pela crise, no primeiro trimestre, a exportação desse segmento cresceu 20,6% e, como já ficou dito, provavelmente mais cresceria não fosse o forte apetite interno.
Os resultados medíocres do primeiro trimestre não devem ser extrapolados para o resto do ano. Pelo menos três puxadores de exportação começam a atuar com mais força: a alta das commodities, especialmente do minério de ferro (alta de 90%); as safras agrícolas recordes deste ano que agora vão se escoando em maior volume em direção aos portos; e a razoável recuperação do comércio mundial depois da paralisia imposta pela crise.
Confira
Diga ao povo que fico
Henrique Meirelles avisa que por hora desiste da carreira política e que vai permanecer à frente do Banco Central. Como observado na Coluna de ontem, vai enfrentar mais pressão do que habitualmente na administração da política monetária. A inflação está saindo dos trilhos justamente num ano de eleições. E, na medida em que puxar pelos juros, o presidente do Banco Central vai ser hostilizado como aquele que está desmanchando o bom ambiente do setor produtivo. Em caso de vitória da candidata Dilma Rousseff, Meirelles se cacifa para ser figura importante no Ministério
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