DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O balanço dos tumultos de ontem em Atenas foi de três mortes e declarações dramáticas do presidente da Grécia, Carolos Papoulias, de que "o país está à beira do abismo".
Enquanto isso, a Europa ainda parece mais preocupada em buscar culpados do que soluções. Mas vai tomando consciência de que o problema de fundo não é a farra fiscal dos Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) nos últimos nove anos, mas os vícios de origem da moeda comum, o euro.
A tabela ao lado mostra como as economias da área do euro operam em condições desiguais e produzem resultados desiguais.
Nos últimos nove anos, que coincide com o período de vigência do euro, a inflação na Alemanha foi de 16,1%, enquanto a da Grécia foi de 33,4%. E, no entanto, o Banco Central Europeu (BCE) teve de calibrar os juros básicos de acordo com o comportamento da inflação média das economias do bloco. Isso, por si só, é fator de alargamento das diferenças, na medida em que o juro real (descontada a inflação), o fator que mais influencia o comportamento de cada setor produtivo, é diferente de país para país.
Se o pacote de socorro à Grécia funcionar e forem cumpridas as exigências por ele impostas, a perspectiva é a de que a Grécia enfrente a partir de agora um período de deflação. E a deflação, por sua vez, deve aumentar o sacrifício da população.
A diminuição da renda (salários, aposentadorias) e a elevação dos impostos, exigidos pelo pacote como condição de formação da poupança para garantir o pagamento da dívida, deverão produzir recessão e desemprego. Nessa paisagem, parece inevitável certa queda geral dos preços, que, por sua vez, tenderá a produzir efeitos colaterais. Um deles é a redução da arrecadação (uma vez que os impostos incidem sobre os preços) e que, assim, neutralizarão o aumento das alíquotas dos impostos. O outro é o aumento das dificuldades para pagar as dívidas, na medida em que elas permanecerão fixas em euros, enquanto o poder aquisitivo diminuirá.
Se cada país combalido da área do euro tivesse moeda própria, bastaria desvalorizá-la em relação ao euro ou ao próprio dólar para que automaticamente se desvalorizassem os salários e cada país ganhasse competitividade. No entanto, a moeda é comum e é administrada por um banco central também comum.
Assim, as dificuldades provocam impulsos automáticos de retorno ao regime anterior a 2001. Mas isso é como a perda da virgindade. É uma volta impraticável. Se fossem submetidas a uma complicada operação cirúrgica e voltassem a ter sua moeda nacional, os países mais encrencados seriam obrigados a desvalorizá-la fortemente. E isso, por sua vez, aumentaria as dificuldades para pagar as dívidas, que estão em euros e não podem ser desvalorizadas, a menos que fossem submetidas a alguma forma de calote. Em contrapartida, a Alemanha teria a valorização de sua moeda e, nessas condições, passaria a enfrentar mais dificuldades para competir com seu produto de exportação.
A saída é mais Europa, e não menos, como alguém já disse por lá. E mais Europa significa o controle central das finanças de cada país-membro (unificação fiscal) e uma forma qualquer de governança comum (unificação política).
CONFIRA
Empurrão
Saiu afinal o pacote de incentivos às exportações. Seus principais instrumentos são um braço do BNDES, que cuidará das exportações (Exim Brasil), a devolução de 50% dos créditos de tributos federais em 30 dias e a criação de um Fundo Garantidor de Comércio Exterior.
Longe do necessário
Vêm na direção certa, na medida em que encorajam as exportações. Mas são de longe insuficientes para garantir o aumento de competitividade do produto brasileiro no exterior, que, além do câmbio favorável, depende de muito mais.
Baixar o custo Brasil
Depende da redução do custo Brasil, que, por sua vez, depende da redução da carga tributária, da reforma das leis trabalhistas, dos investimentos e da modernização da infraestrutura e de uma Justiça mais ágil.
Mais mercado
É preciso que o Brasil volte a fazer acordos que abram o mercado externo para o produto nacional.
O balanço dos tumultos de ontem em Atenas foi de três mortes e declarações dramáticas do presidente da Grécia, Carolos Papoulias, de que "o país está à beira do abismo".
Enquanto isso, a Europa ainda parece mais preocupada em buscar culpados do que soluções. Mas vai tomando consciência de que o problema de fundo não é a farra fiscal dos Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) nos últimos nove anos, mas os vícios de origem da moeda comum, o euro.
A tabela ao lado mostra como as economias da área do euro operam em condições desiguais e produzem resultados desiguais.
Nos últimos nove anos, que coincide com o período de vigência do euro, a inflação na Alemanha foi de 16,1%, enquanto a da Grécia foi de 33,4%. E, no entanto, o Banco Central Europeu (BCE) teve de calibrar os juros básicos de acordo com o comportamento da inflação média das economias do bloco. Isso, por si só, é fator de alargamento das diferenças, na medida em que o juro real (descontada a inflação), o fator que mais influencia o comportamento de cada setor produtivo, é diferente de país para país.
Se o pacote de socorro à Grécia funcionar e forem cumpridas as exigências por ele impostas, a perspectiva é a de que a Grécia enfrente a partir de agora um período de deflação. E a deflação, por sua vez, deve aumentar o sacrifício da população.
A diminuição da renda (salários, aposentadorias) e a elevação dos impostos, exigidos pelo pacote como condição de formação da poupança para garantir o pagamento da dívida, deverão produzir recessão e desemprego. Nessa paisagem, parece inevitável certa queda geral dos preços, que, por sua vez, tenderá a produzir efeitos colaterais. Um deles é a redução da arrecadação (uma vez que os impostos incidem sobre os preços) e que, assim, neutralizarão o aumento das alíquotas dos impostos. O outro é o aumento das dificuldades para pagar as dívidas, na medida em que elas permanecerão fixas em euros, enquanto o poder aquisitivo diminuirá.
Se cada país combalido da área do euro tivesse moeda própria, bastaria desvalorizá-la em relação ao euro ou ao próprio dólar para que automaticamente se desvalorizassem os salários e cada país ganhasse competitividade. No entanto, a moeda é comum e é administrada por um banco central também comum.
Assim, as dificuldades provocam impulsos automáticos de retorno ao regime anterior a 2001. Mas isso é como a perda da virgindade. É uma volta impraticável. Se fossem submetidas a uma complicada operação cirúrgica e voltassem a ter sua moeda nacional, os países mais encrencados seriam obrigados a desvalorizá-la fortemente. E isso, por sua vez, aumentaria as dificuldades para pagar as dívidas, que estão em euros e não podem ser desvalorizadas, a menos que fossem submetidas a alguma forma de calote. Em contrapartida, a Alemanha teria a valorização de sua moeda e, nessas condições, passaria a enfrentar mais dificuldades para competir com seu produto de exportação.
A saída é mais Europa, e não menos, como alguém já disse por lá. E mais Europa significa o controle central das finanças de cada país-membro (unificação fiscal) e uma forma qualquer de governança comum (unificação política).
CONFIRA
Empurrão
Saiu afinal o pacote de incentivos às exportações. Seus principais instrumentos são um braço do BNDES, que cuidará das exportações (Exim Brasil), a devolução de 50% dos créditos de tributos federais em 30 dias e a criação de um Fundo Garantidor de Comércio Exterior.
Longe do necessário
Vêm na direção certa, na medida em que encorajam as exportações. Mas são de longe insuficientes para garantir o aumento de competitividade do produto brasileiro no exterior, que, além do câmbio favorável, depende de muito mais.
Baixar o custo Brasil
Depende da redução do custo Brasil, que, por sua vez, depende da redução da carga tributária, da reforma das leis trabalhistas, dos investimentos e da modernização da infraestrutura e de uma Justiça mais ágil.
Mais mercado
É preciso que o Brasil volte a fazer acordos que abram o mercado externo para o produto nacional.
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