DEU EM O GLOBO
O presidente Lula chega a Teerã para uma missão considerada impossível: tirar do governo teocrático de Mahmoud Ahmadinejad um compromisso formal de que o programa nuclear iraniano é para fins pacíficos, em termos que sejam aceitáveis para os países que querem aprovar no Conselho de Segurança da ONU sanções econômicas contra o Irã, sob a liderança dos Estados Unidos.
O problema é que esses países não acreditam na mera palavra do governo iraniano, e qualquer documento tem que ser seguido de fatos concretos, coisa que o Irã se recusa a fazer.
Classificado de ingênuo em diversas ocasiões por líderes internacionais como a secretária de Estado Hillary Clinton ou o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, o presidente Lula já teve uma primeira vitória diplomática: sua missão, por mais insólita que pareça, acabou recebendo o apoio dos governos dos Estados Unidos, da França, da Rússia.
Todos céticos com relação às chances de sucesso, mas obrigados a dar um voto de confiança ao carismático líder brasileiro, que procura ter o apoio da presença nas negociações do primeiroministro da Turquia.
O risco de fracasso, muito maior do que a chance de sucesso, faz com que Recep Erdogan relute em comparecer.
Tanto Lula quanto Erdogan fazem parte daquela lista da revista Time de líderes mais influentes do mundo, e os dois parecem mais empenhados em afirmar essa influência, em contraste com o governo dos Estados Unidos, do que realmente em chegar a uma solução, que a todos parece inviável.
Assim como previsivelmente não conseguiu nada no Oriente Médio, a busca de um protagonismo internacional leva o governo brasileiro a assumir uma negociação com o Irã que dificilmente se concretizará, ainda mais na tosca concepção de Lula de que a solução ainda não foi encontrada por que nenhum dirigente internacional sentou-se para negociar com Ahmadinejhad olho no olho.
Hillary Clinton classificou nos bastidores a recente passagem de Lula pelo Oriente Médio de risivelmente ingênua, e mostrou-se cética mais uma vez com relação ao êxito das conversações com o Irã, mas oficialmente o governo dos Estados Unidos se viu obrigado a considerar a visita de Lula como a última chance antes da decretação das sanções.
O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, que revelara recentemente o receio de que o presidente brasileiro estivesse sendo embromado por Ahmadinejad, teve que recuar depois da péssima repercussão de seus comentários.
Até o momento, o governo brasileiro está conseguindo se manter dentro de uma zona de respeitabilidade, mas qualquer passo em falso pode se transformar em galhofa internacional.
A posição brasileira de postar-se ao lado do governo do Irã para evitar as sanções econômicas internacionais tem uma explicação oficial que não satisfaz aos observadores internacionais.
O governo brasileiro diz que está defendendo seus interesses, porque teme que uma sanção ao Irã possa transformar-se em arma contra nosso programa nuclear.
De fato, o governo trava uma guerra nos bastidores com a AIEA com relação à assinatura de um protocolo adicional ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
Esse adendo ao TNP foi idealizado depois d o s atentados de 2001 nos Estados Unidos, e pretende ampliar as áreas de fiscalização da AIEA, o que o Brasil não aceita.
A principal razão é proteger o segredo das centrífugas utilizadas no programa nuclear para enriquecimento de urânio, que seriam uma invenção brasileira à frente das existentes no mundo.
A resistência à ampliação da fiscalização da AIEA e mais o apoio ao programa nuclear do Irã, no entanto, já está fazendo com que surjam aqui e ali desconfianças de que, na verdade, o que o governo brasileiro quer mesmo é criar condições para retomar o programa nuclear para fazer a bomba atômica, como alguns setores defendem abertamente.
Não há, no entanto, nenhuma razão objetiva que permita uma ilação nesse sentido, pois o país assinou o TNP e a fiscalização hoje existente é mais do que suficiente para garantir que o programa tem realmente fins pacíficos.
O que não acontece com o Irã, que também assinou o TNP mas não aceita a fiscalização dos órgãos internacionais, além de ter enriquecido o urânio a 20% sem autorização formal da AIEA.
O Brasil, para seu programa de submarino nuclear, já tem permissão para enriquecer urânio a 20%, mas nem pretende chegar a tanto.
A questão, no entanto, é política, e nesses termos o governo brasileiro terá que obter do governo de Mahmoud Ahmadinejad mais do que um documento afirmando que o programa nuclear tem fins pacíficos.
Isso, por sinal, o governo do Irã vive afirmando em público, mas a essas afirmações não se seguem atos concretos que as avalizem.
O que os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU temem é que o Irã esteja usando esse anseio de Brasil e Turquia de se impor no cenário internacional para ganhar tempo, dando continuidade ao programa nuclear sem fiscalização e evitando as sanções internacionais.
O sucesso não previsto pela maioria alavancará a imagem de líder emergente que Lula cultiva com tanta obsessão, abrindo caminho para uma atuação internacional após o fim de seu mandato presidencial.
Se, ao contrário, Lula não sair de sua visita a Teerã com algum acordo razoável que desmobilize a tendência do Ocidente de decretar sanções, estará correndo o risco de explicitar sua irrelevância, e a da diplomacia brasileira, nas negociações internacionais fora de sua área natural de influência, a América Latina.
O presidente Lula chega a Teerã para uma missão considerada impossível: tirar do governo teocrático de Mahmoud Ahmadinejad um compromisso formal de que o programa nuclear iraniano é para fins pacíficos, em termos que sejam aceitáveis para os países que querem aprovar no Conselho de Segurança da ONU sanções econômicas contra o Irã, sob a liderança dos Estados Unidos.
O problema é que esses países não acreditam na mera palavra do governo iraniano, e qualquer documento tem que ser seguido de fatos concretos, coisa que o Irã se recusa a fazer.
Classificado de ingênuo em diversas ocasiões por líderes internacionais como a secretária de Estado Hillary Clinton ou o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, o presidente Lula já teve uma primeira vitória diplomática: sua missão, por mais insólita que pareça, acabou recebendo o apoio dos governos dos Estados Unidos, da França, da Rússia.
Todos céticos com relação às chances de sucesso, mas obrigados a dar um voto de confiança ao carismático líder brasileiro, que procura ter o apoio da presença nas negociações do primeiroministro da Turquia.
O risco de fracasso, muito maior do que a chance de sucesso, faz com que Recep Erdogan relute em comparecer.
Tanto Lula quanto Erdogan fazem parte daquela lista da revista Time de líderes mais influentes do mundo, e os dois parecem mais empenhados em afirmar essa influência, em contraste com o governo dos Estados Unidos, do que realmente em chegar a uma solução, que a todos parece inviável.
Assim como previsivelmente não conseguiu nada no Oriente Médio, a busca de um protagonismo internacional leva o governo brasileiro a assumir uma negociação com o Irã que dificilmente se concretizará, ainda mais na tosca concepção de Lula de que a solução ainda não foi encontrada por que nenhum dirigente internacional sentou-se para negociar com Ahmadinejhad olho no olho.
Hillary Clinton classificou nos bastidores a recente passagem de Lula pelo Oriente Médio de risivelmente ingênua, e mostrou-se cética mais uma vez com relação ao êxito das conversações com o Irã, mas oficialmente o governo dos Estados Unidos se viu obrigado a considerar a visita de Lula como a última chance antes da decretação das sanções.
O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, que revelara recentemente o receio de que o presidente brasileiro estivesse sendo embromado por Ahmadinejad, teve que recuar depois da péssima repercussão de seus comentários.
Até o momento, o governo brasileiro está conseguindo se manter dentro de uma zona de respeitabilidade, mas qualquer passo em falso pode se transformar em galhofa internacional.
A posição brasileira de postar-se ao lado do governo do Irã para evitar as sanções econômicas internacionais tem uma explicação oficial que não satisfaz aos observadores internacionais.
O governo brasileiro diz que está defendendo seus interesses, porque teme que uma sanção ao Irã possa transformar-se em arma contra nosso programa nuclear.
De fato, o governo trava uma guerra nos bastidores com a AIEA com relação à assinatura de um protocolo adicional ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
Esse adendo ao TNP foi idealizado depois d o s atentados de 2001 nos Estados Unidos, e pretende ampliar as áreas de fiscalização da AIEA, o que o Brasil não aceita.
A principal razão é proteger o segredo das centrífugas utilizadas no programa nuclear para enriquecimento de urânio, que seriam uma invenção brasileira à frente das existentes no mundo.
A resistência à ampliação da fiscalização da AIEA e mais o apoio ao programa nuclear do Irã, no entanto, já está fazendo com que surjam aqui e ali desconfianças de que, na verdade, o que o governo brasileiro quer mesmo é criar condições para retomar o programa nuclear para fazer a bomba atômica, como alguns setores defendem abertamente.
Não há, no entanto, nenhuma razão objetiva que permita uma ilação nesse sentido, pois o país assinou o TNP e a fiscalização hoje existente é mais do que suficiente para garantir que o programa tem realmente fins pacíficos.
O que não acontece com o Irã, que também assinou o TNP mas não aceita a fiscalização dos órgãos internacionais, além de ter enriquecido o urânio a 20% sem autorização formal da AIEA.
O Brasil, para seu programa de submarino nuclear, já tem permissão para enriquecer urânio a 20%, mas nem pretende chegar a tanto.
A questão, no entanto, é política, e nesses termos o governo brasileiro terá que obter do governo de Mahmoud Ahmadinejad mais do que um documento afirmando que o programa nuclear tem fins pacíficos.
Isso, por sinal, o governo do Irã vive afirmando em público, mas a essas afirmações não se seguem atos concretos que as avalizem.
O que os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU temem é que o Irã esteja usando esse anseio de Brasil e Turquia de se impor no cenário internacional para ganhar tempo, dando continuidade ao programa nuclear sem fiscalização e evitando as sanções internacionais.
O sucesso não previsto pela maioria alavancará a imagem de líder emergente que Lula cultiva com tanta obsessão, abrindo caminho para uma atuação internacional após o fim de seu mandato presidencial.
Se, ao contrário, Lula não sair de sua visita a Teerã com algum acordo razoável que desmobilize a tendência do Ocidente de decretar sanções, estará correndo o risco de explicitar sua irrelevância, e a da diplomacia brasileira, nas negociações internacionais fora de sua área natural de influência, a América Latina.
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