segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Governistas conseguem 94 cadeiras e ficam sem maioria absoluta na Venezuela

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DE SÃO PAULO - Com quase todas as urnas contabilizadas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela divulgou um novo balanço das eleições legislativas deste domingo, que dá ainda maior vantagem aos governistas do PSUV, mas os mantém longe da maioria absoluta de dois terços da Assembleia Nacional --o que permitiria ao presidente Hugo Chávez avançar sem obstáculos em sua revolução bolivariana.

Segundo o novo balanço, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, governista) tem ao menos 94 deputados, contra 60 da coligação da oposição Mesa da Unidade Democrática e outros dois da esquerda dissidente do chavismo Patria Para Todos (PPT).

Uma maioria simples, de até 109 das 165 vagas no Parlamento, força o governo Chávez a negociar com a oposição para a aprovação de leis orgânicas e de novos integrantes dos demais poderes públicos, como o Supremo Tribunal, a Procuradoria e o CNE, além de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A grande margem, contudo, foi recebida como uma vitória pelo presidente, que transformou as eleições deste domingo em um plebiscito de sua popularidade e um termômetro para sua disputa à reeleição em 2012.

"Bom, meus queridos compatriotas, foi uma grande jornada e conseguimos uma sólida vitória. Suficiente para continuar aprofundando o socialismo bolivariano e democrático. Devemos continuar fortalecendo a revolução!", afirmou Chávez na rede social Twitter, sem aparecer em público após a divulgação dos resultados.

O nome de Chávez, que foi eleito presidente pela primeira vez em 1998, não estava na cédula eleitoral, mas a personalidade fortíssima de Chávez dominou a campanha --e expôs uma acentuada divisão política em um país com vastas riquezas geradas pelo petróleo e por minerais e com forte desigualdade entre ricos e pobres.

O ex-soldado paraquedista postou inúmeras mensagens de Twitter ao longo da noite, antes da abertura das urnas, às 6h, incitando seus correligionários a irem às urnas depositar seus votos.

Aqueles que apoiam Chávez vêem-no como um defensor dos muitos pobres da Venezuela, mas críticos acusam-no de ser um ditador vulgar. Sua popularidade oscila em média entre 40% e 50%, muito abaixo do pico atingido há alguns anos.

A participação dos eleitores foi de 66,45%, uma das mais altas da história para eleições legislativas.

Mas não se sabe, contudo, o total de votos recebidos por cada força política, mas segundo a oposição os candidatos contrários a Chávez receberam 52% dos votos.

Se este número for confirmado, a mensagem para Chávez seria preocupante, já que se a votação de domingo na Venezuela fosse para presidente, o chefe de Estado, que tem altos índices de popularidade, teria sido derrotado. Mas no momento, em virtude de uma polêmica lei eleitoral de proporcionalidade, aprovada há poucos meses, a oposição pode ganhar no número de votos mas perder no número de deputados, o que cria uma situação inédita no país.

A lei determina que os Estados com população menor, onde o governo de Chávez é mais popular, tenham uma representação no Parlamento similar a dos Estados com maior população, que atualmente são governados pela oposição.

O porta-voz da coligação opositora MUD, Ramón Guillermo Aveledo, disse que o eleitorado opositor "deverá crescer" nos próximos dois anos, antecipando a disputa para as eleições presidenciais de 2012. "O que ficou demonstrado é que o país tem uma alternativa que se formou graças à convergência e à unidade de gente muito diferente", afirmou.

A oposição não possuía representação no Parlamento venezuelano desde 2005, quando decidiu retirar suas candidaturas na última hora e optou por não concorrer às eleições, alegando supostas irregularidades no processo eleitoral, que não foram comprovadas posteriormente. Desde então, a Assembleia Nacional é governada por maioria governista qualificada.

Com agências internacionais

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