DEU NO JORNAL DO BRASIL (online)
Por não ser decidida no primeiro turno, a sucessão presidencial não teve como livrar-se do foco que situa Minas Gerais e São Paulo como o centro de gravidade da própria democracia no segundo turno. Não por acaso, Minas e São Paulo são dois estados que se identificaram, no processo democrático, com o que se entende, por bom senso, como social-democracia na concepção ampla e já distante da sua origem histórica. A corrente de ideias organizadas segundo a visão social- democrática, desde o fim do século 19 se afastou da vertente marxista e se desenvolveu em direção a um revisionismo que a deixou fora de circulação na primeira metade do século 20.
De algum modo, com o fim do autoritarismo militar e sem se ater à ideia ortodoxa, no Brasil a social-democracia se deu particularmente bem, à moda brasileira, com destaque em dois estados São Paulo e Minas Gerais graças a franquias de origem liberal, acrescidas do toque reformista de natureza social mas sem o peso da suspeita que ainda embota, entre nós brasileiros, o conceito de esquerda e dificulta operacionalmente a redução de desigualdades sociais. A maldição da social-democracia prevaleceu, porém, sobre a reflexão reformista que a preservou em vão do marxismo, pois até hoje não encontrou expressão própria.
Embora todas as eleições, sobretudo as presidenciais, se pareçam em linhas gerais, com prejuízo para o que realmente são, cada uma tem, por trás da retórica, mesmo nas diferenças, a marca da época e das condições reais. Aí terminam as diferenças que ainda contam no Brasil. No primeiro turno desta sucessão presidencial, Minas liquidou uma conta suspeita, onde se embutiu a pretensão de Lula em resolver a parada no primeiro turno. O presidente acabou arcando com o desgaste da estabanada intromissão federal para garantir em Minas a vitória da candidata oficial e da coligação PT-PMDB & Cia na sucessão mineira.
Nem mesmo o segundo turno sobrou para salvar, na candidata Dilma Rousseff, a máscara de Luiz Inácio numa derrota que descadeirou o presidente por mais de uma semana.
São Paulo repetiu o sucesso de Minas ao varrer as pretensões eleitorais de petistas e associados.
Há muito mais do que coincidência a ser trazido à luz do dia.
Por trás da frustração oficial de submeter-se a um segundo turno, que hospeda o perigo para quem queria adiantar-se aos fatos, coube ao presidente Lula sinalizar com ressentimento em carne viva o esboço de um final sem a ênfase com que contava. O resultado das urnas atingiu em cheio o modo destemperado do presidente Lula, ao demonstrar com veemente oratória seu inconformismo com o insucesso.
Lula ficou desacostumado de derrotas que são o sal da democracia, pois com vitórias nada se aprende de útil. A eleição e a reeleição deixam claro que o presidente perdeu a noção da distância entre o possível e o impossível, com a qual aprendeu o suficiente.
No segundo turno, Lula dissipou a confiança acumulada e recaiu na explosão de ressentimento.
Não tem sido capaz de avaliar sequer o prejuízo que lhe será debitado no futuro, de muito maior duração do que o presente.
A vitória em Minas coube ao governador Aécio Neves, cujo candidato ao Palácio da Liberdade, em desvantagem nas pesquisas até duas semanas antes da eleição, impôs ao PMDB e ao padrinho Lula derrota histórica. O presidente ficou mais longe da apoteose com que contava sair do governo para voltar em 2014 num andor sindical. Ainda não percebeu que, em quatro anos, os brasileiros certamente terão melhores condições de avaliar o peso que a história lhe conferir, sem nada a acrescentar por fora.
Já era tempo de que o partido da social-democracia, pelo seu lado, entendesse que a idéia da reforma social, por meios democráticos, é mais do que proposta de circunstância.
Por não ser decidida no primeiro turno, a sucessão presidencial não teve como livrar-se do foco que situa Minas Gerais e São Paulo como o centro de gravidade da própria democracia no segundo turno. Não por acaso, Minas e São Paulo são dois estados que se identificaram, no processo democrático, com o que se entende, por bom senso, como social-democracia na concepção ampla e já distante da sua origem histórica. A corrente de ideias organizadas segundo a visão social- democrática, desde o fim do século 19 se afastou da vertente marxista e se desenvolveu em direção a um revisionismo que a deixou fora de circulação na primeira metade do século 20.
De algum modo, com o fim do autoritarismo militar e sem se ater à ideia ortodoxa, no Brasil a social-democracia se deu particularmente bem, à moda brasileira, com destaque em dois estados São Paulo e Minas Gerais graças a franquias de origem liberal, acrescidas do toque reformista de natureza social mas sem o peso da suspeita que ainda embota, entre nós brasileiros, o conceito de esquerda e dificulta operacionalmente a redução de desigualdades sociais. A maldição da social-democracia prevaleceu, porém, sobre a reflexão reformista que a preservou em vão do marxismo, pois até hoje não encontrou expressão própria.
Embora todas as eleições, sobretudo as presidenciais, se pareçam em linhas gerais, com prejuízo para o que realmente são, cada uma tem, por trás da retórica, mesmo nas diferenças, a marca da época e das condições reais. Aí terminam as diferenças que ainda contam no Brasil. No primeiro turno desta sucessão presidencial, Minas liquidou uma conta suspeita, onde se embutiu a pretensão de Lula em resolver a parada no primeiro turno. O presidente acabou arcando com o desgaste da estabanada intromissão federal para garantir em Minas a vitória da candidata oficial e da coligação PT-PMDB & Cia na sucessão mineira.
Nem mesmo o segundo turno sobrou para salvar, na candidata Dilma Rousseff, a máscara de Luiz Inácio numa derrota que descadeirou o presidente por mais de uma semana.
São Paulo repetiu o sucesso de Minas ao varrer as pretensões eleitorais de petistas e associados.
Há muito mais do que coincidência a ser trazido à luz do dia.
Por trás da frustração oficial de submeter-se a um segundo turno, que hospeda o perigo para quem queria adiantar-se aos fatos, coube ao presidente Lula sinalizar com ressentimento em carne viva o esboço de um final sem a ênfase com que contava. O resultado das urnas atingiu em cheio o modo destemperado do presidente Lula, ao demonstrar com veemente oratória seu inconformismo com o insucesso.
Lula ficou desacostumado de derrotas que são o sal da democracia, pois com vitórias nada se aprende de útil. A eleição e a reeleição deixam claro que o presidente perdeu a noção da distância entre o possível e o impossível, com a qual aprendeu o suficiente.
No segundo turno, Lula dissipou a confiança acumulada e recaiu na explosão de ressentimento.
Não tem sido capaz de avaliar sequer o prejuízo que lhe será debitado no futuro, de muito maior duração do que o presente.
A vitória em Minas coube ao governador Aécio Neves, cujo candidato ao Palácio da Liberdade, em desvantagem nas pesquisas até duas semanas antes da eleição, impôs ao PMDB e ao padrinho Lula derrota histórica. O presidente ficou mais longe da apoteose com que contava sair do governo para voltar em 2014 num andor sindical. Ainda não percebeu que, em quatro anos, os brasileiros certamente terão melhores condições de avaliar o peso que a história lhe conferir, sem nada a acrescentar por fora.
Já era tempo de que o partido da social-democracia, pelo seu lado, entendesse que a idéia da reforma social, por meios democráticos, é mais do que proposta de circunstância.
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