DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Virulência encobre semelhanças entre Dilma e Serra no 2º turno
Claudia Antunes
CAXAMBU (MG) - A virulência da campanha encobriu a falta de uma polarização real entre os projetos de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB)?
A resposta "sim" venceu por 3 a 1 em debate reunindo quatro acadêmicos com diferentes simpatias políticas para discutir as eleições, no último dia da reunião anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciência Sociais).
Ex-porta-voz do presidente Lula, André Singer (USP) foi o único a defender que existem diferenças grandes, a partir da base social dos candidatos -a votação de Dilma é maior entre os mais pobres, e a de Serra aumenta com a renda.
Para Singer, a disputa é entre "neoliberalismo privatista" e "reformismo forte".
O governo Lula, disse, "obrigou todas as forças políticas a centrarem na agenda contra a pobreza", mas manter isso dependerá de um cabo de guerra pós-eleitoral entre "rentistas" e "produtivistas" sobre juros e câmbio.
O mineiro Rubem Barboza (Universidade Federal de Juiz de Fora) rebateu Singer: "Se perguntarem para os garçons deste hotel [local do encontro], não sei se tem tanta Dilma. Tem pobres em Minas que votam no Serra".
Para Barboza, PSDB e PT se assemelham porque ambos rejeitaram a construção de uma "narrativa histórica" em que a população, e não os projetos partidários, fosse o sujeito da conquista de direitos. "Nossa história é feita pelo tempo principesco."
O mineiro comparou a retórica de Lula no segundo turno à da ultradireita americana. "O [movimento] "Tea Party" quer exterminar a possibilidade de os EUA caminharem para uma narrativa que não seja conservadora. O verbo exterminar entre nós não foi dito por candidatos, mas foi usado por alguém."
Crítico à esquerda, Antônio Jorge de Almeida (Federal da Bahia) disse que a campanha de "panfletos ilegais, orações, conversões e até milagres" simula uma "guerra de classes ou do bem contra o mal" que contrasta com a "paz reinante no mercado".
O baiano afirmou que a "principal contribuição" de Lula foi "dar estabilidade à hegemonia burguesa no Brasil". Isso não significa, disse, que esse processo se dê sem disputas entre "frações e subfrações" dentro do poder.
Para José Eli da Veiga (USP), um dos autores do programa de Marina (PV), as coalizões dilmista e serrista são "tão heterogêneas que fica quase impossível saber o que o vencedor faria".
Veiga concordou com Singer quanto às diferenças de base social, mas discordou que haja projetos opostos. "Dizem que é como cada lado vê o Estado, mas o Estado não é um projeto."
Virulência encobre semelhanças entre Dilma e Serra no 2º turno
Claudia Antunes
CAXAMBU (MG) - A virulência da campanha encobriu a falta de uma polarização real entre os projetos de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB)?
A resposta "sim" venceu por 3 a 1 em debate reunindo quatro acadêmicos com diferentes simpatias políticas para discutir as eleições, no último dia da reunião anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciência Sociais).
Ex-porta-voz do presidente Lula, André Singer (USP) foi o único a defender que existem diferenças grandes, a partir da base social dos candidatos -a votação de Dilma é maior entre os mais pobres, e a de Serra aumenta com a renda.
Para Singer, a disputa é entre "neoliberalismo privatista" e "reformismo forte".
O governo Lula, disse, "obrigou todas as forças políticas a centrarem na agenda contra a pobreza", mas manter isso dependerá de um cabo de guerra pós-eleitoral entre "rentistas" e "produtivistas" sobre juros e câmbio.
O mineiro Rubem Barboza (Universidade Federal de Juiz de Fora) rebateu Singer: "Se perguntarem para os garçons deste hotel [local do encontro], não sei se tem tanta Dilma. Tem pobres em Minas que votam no Serra".
Para Barboza, PSDB e PT se assemelham porque ambos rejeitaram a construção de uma "narrativa histórica" em que a população, e não os projetos partidários, fosse o sujeito da conquista de direitos. "Nossa história é feita pelo tempo principesco."
O mineiro comparou a retórica de Lula no segundo turno à da ultradireita americana. "O [movimento] "Tea Party" quer exterminar a possibilidade de os EUA caminharem para uma narrativa que não seja conservadora. O verbo exterminar entre nós não foi dito por candidatos, mas foi usado por alguém."
Crítico à esquerda, Antônio Jorge de Almeida (Federal da Bahia) disse que a campanha de "panfletos ilegais, orações, conversões e até milagres" simula uma "guerra de classes ou do bem contra o mal" que contrasta com a "paz reinante no mercado".
O baiano afirmou que a "principal contribuição" de Lula foi "dar estabilidade à hegemonia burguesa no Brasil". Isso não significa, disse, que esse processo se dê sem disputas entre "frações e subfrações" dentro do poder.
Para José Eli da Veiga (USP), um dos autores do programa de Marina (PV), as coalizões dilmista e serrista são "tão heterogêneas que fica quase impossível saber o que o vencedor faria".
Veiga concordou com Singer quanto às diferenças de base social, mas discordou que haja projetos opostos. "Dizem que é como cada lado vê o Estado, mas o Estado não é um projeto."
Ele rebateu a acusação de que o programa da verde fosse liberal. "Reli e não achei nada, a não ser a questão dos gastos públicos correntes. Se Dilma vencer, terá que enfrentar isso no primeiro ano."
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