DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Segunda-feira o Brasil terá um novo presidente. Seja quem for, administrará um país complexo que, apesar de viver um momento especialmente positivo, tem sérios desafios à frente. Quem não compreender as profundas mudanças estruturais ocorridas no País nos últimos 20 anos dificilmente enfrentará as questões que se colocarão com a agilidade, profundidade e amplitude necessárias. Antes de mais nada qualquer reflexão séria sobre a estratégia a ser perseguida no próximo mandato tem de entender que o que ocorre no País hoje não é milagre nem magia, mas resultado de processos que têm uma história.
O Brasil entrou em crise em meados da década de 70. Passou os anos 80 de crise em crise, com problemas de dívida externa, inflação, déficits públicos e baixo crescimento. Foram inúmeros os planos que tentaram sem sucesso quebrar o círculo vicioso que levava a economia a uma mediocridade sem fim. Por mais que haja motivos para não gostar do governo Collor, seria intelectualmente desonesto não lhe dar o crédito pela abertura da economia, sem a qual nenhum plano de estabilização teria sucesso.
Apesar dos custos, maiores do que o necessário, a abertura introduziu a concorrência na nossa economia protegida, na qual ineficiência, baixo investimento, elevados custos e produtos obsoletos eram a regra. A abertura obrigou nossa indústria a se modernizar, viabilizando o controle da inflação que, simultaneamente, vai criando um horizonte para os investimentos, um espaço para o início da queda dos juros e retomada do crédito, além de uma brutal transferência de renda para a população, dando início ao processo de ampliação do mercado interno.
Mais ainda, com o controle da inflação, a terra deixa de ser reserva de valor, provocando a queda dos seus preços, o que permitiu uma mudança radical no setor agrícola: o agronegócio se fortalece, caem os preços dos alimentos e o Brasil torna-se um grande exportador de commodities. A queda dos preços da cesta básica ajuda a elevar a renda disponível para consumo, e as exportações, a acumular reservas, reduzindo nossa vulnerabilidade externa.
A ampliação do mercado consumidor impulsiona a retomada dos investimentos das empresas, agora desafiadas pela abertura da economia. Ganham, com isso, o mercado de trabalho e, novamente, o mercado consumidor, com reforço de uma massa de trabalhadores que, formalizados, passam a ter acesso ao crédito que começa a inundar a economia. Mas o Plano Real sozinho também não criaria as condições para a retomada. É preciso lembrar as privatizações, sem as quais não estaríamos na era digital; o saneamento do sistema bancário; os programas sociais, que se foram aprimorando e ampliando ao longo dos anos; e vários outros processos que permitiram aumentar o emprego, a renda, o crédito, o mercado consumidor e os investimentos. Ainda se deve lembrar o cenário externo, em especial a China, que, como grande consumidora das commodities brasileiras, deu conforto às contas externas do País. Tudo processo, tudo história, tudo interligado... Nada funcionando isolada ou imediatamente.
Nos últimos anos fizemos mais do mesmo: ampliamos as transferências de renda, o mercado interno e o crédito, e continuamos a desfrutar de um cenário externo favorável. Enquanto isso o mundo se movia: a revolução tecnológica aprofundou-se e as transformações na geografia econômica internacional radicalizaram. Quando todas as dif iculdades pareciam superadas e o País parecia enfim pronto para retomar a rota de crescimento, a China impõe uma dinâmica tal ao processo de internacionalização que afeta direta e profundamente a estrutura produtiva brasileira, criando dramáticos desafios para o Brasil. Que estamos atrasados na infraestrutura e na educação é mais que óbvio. Que segurança e saúde têm problemas dramáticos ninguém questiona. Que nossa taxa de investimento, apesar de crescente, ainda é insuficiente é um consenso. São deveres de casa em que estamos atrasados. Equacioná-los é condição necessária, mas insuficiente, para resolver nossos desafios. A ideia de que poderemos continuar fazendo mais do mesmo é falsa.
O Brasil está diante de uma encruzilhada: continuar com a atual política econômica e rapidamente bater no seu limite de crescimento, correndo o risco de uma desindustrialização parcial, com aumento das importações e enorme dependência do setor de commodities, ou dar um "salto para a frente" com a introdução e/ou fortalecimento de certos setores/segmentos que permitam uma nova onda de modernização da nossa matriz industrial, mantendo-a competitiva internacionalmente.
O País tem uma imensa oportunidade de desenvolver sua indústria criativa e, por meio dela, elevar o valor agregado do setor de serviços e segmentos do industrial. O novo presidente só será novo de fato se aceitar esse desafio.
Economista
Segunda-feira o Brasil terá um novo presidente. Seja quem for, administrará um país complexo que, apesar de viver um momento especialmente positivo, tem sérios desafios à frente. Quem não compreender as profundas mudanças estruturais ocorridas no País nos últimos 20 anos dificilmente enfrentará as questões que se colocarão com a agilidade, profundidade e amplitude necessárias. Antes de mais nada qualquer reflexão séria sobre a estratégia a ser perseguida no próximo mandato tem de entender que o que ocorre no País hoje não é milagre nem magia, mas resultado de processos que têm uma história.
O Brasil entrou em crise em meados da década de 70. Passou os anos 80 de crise em crise, com problemas de dívida externa, inflação, déficits públicos e baixo crescimento. Foram inúmeros os planos que tentaram sem sucesso quebrar o círculo vicioso que levava a economia a uma mediocridade sem fim. Por mais que haja motivos para não gostar do governo Collor, seria intelectualmente desonesto não lhe dar o crédito pela abertura da economia, sem a qual nenhum plano de estabilização teria sucesso.
Apesar dos custos, maiores do que o necessário, a abertura introduziu a concorrência na nossa economia protegida, na qual ineficiência, baixo investimento, elevados custos e produtos obsoletos eram a regra. A abertura obrigou nossa indústria a se modernizar, viabilizando o controle da inflação que, simultaneamente, vai criando um horizonte para os investimentos, um espaço para o início da queda dos juros e retomada do crédito, além de uma brutal transferência de renda para a população, dando início ao processo de ampliação do mercado interno.
Mais ainda, com o controle da inflação, a terra deixa de ser reserva de valor, provocando a queda dos seus preços, o que permitiu uma mudança radical no setor agrícola: o agronegócio se fortalece, caem os preços dos alimentos e o Brasil torna-se um grande exportador de commodities. A queda dos preços da cesta básica ajuda a elevar a renda disponível para consumo, e as exportações, a acumular reservas, reduzindo nossa vulnerabilidade externa.
A ampliação do mercado consumidor impulsiona a retomada dos investimentos das empresas, agora desafiadas pela abertura da economia. Ganham, com isso, o mercado de trabalho e, novamente, o mercado consumidor, com reforço de uma massa de trabalhadores que, formalizados, passam a ter acesso ao crédito que começa a inundar a economia. Mas o Plano Real sozinho também não criaria as condições para a retomada. É preciso lembrar as privatizações, sem as quais não estaríamos na era digital; o saneamento do sistema bancário; os programas sociais, que se foram aprimorando e ampliando ao longo dos anos; e vários outros processos que permitiram aumentar o emprego, a renda, o crédito, o mercado consumidor e os investimentos. Ainda se deve lembrar o cenário externo, em especial a China, que, como grande consumidora das commodities brasileiras, deu conforto às contas externas do País. Tudo processo, tudo história, tudo interligado... Nada funcionando isolada ou imediatamente.
Nos últimos anos fizemos mais do mesmo: ampliamos as transferências de renda, o mercado interno e o crédito, e continuamos a desfrutar de um cenário externo favorável. Enquanto isso o mundo se movia: a revolução tecnológica aprofundou-se e as transformações na geografia econômica internacional radicalizaram. Quando todas as dif iculdades pareciam superadas e o País parecia enfim pronto para retomar a rota de crescimento, a China impõe uma dinâmica tal ao processo de internacionalização que afeta direta e profundamente a estrutura produtiva brasileira, criando dramáticos desafios para o Brasil. Que estamos atrasados na infraestrutura e na educação é mais que óbvio. Que segurança e saúde têm problemas dramáticos ninguém questiona. Que nossa taxa de investimento, apesar de crescente, ainda é insuficiente é um consenso. São deveres de casa em que estamos atrasados. Equacioná-los é condição necessária, mas insuficiente, para resolver nossos desafios. A ideia de que poderemos continuar fazendo mais do mesmo é falsa.
O Brasil está diante de uma encruzilhada: continuar com a atual política econômica e rapidamente bater no seu limite de crescimento, correndo o risco de uma desindustrialização parcial, com aumento das importações e enorme dependência do setor de commodities, ou dar um "salto para a frente" com a introdução e/ou fortalecimento de certos setores/segmentos que permitam uma nova onda de modernização da nossa matriz industrial, mantendo-a competitiva internacionalmente.
O País tem uma imensa oportunidade de desenvolver sua indústria criativa e, por meio dela, elevar o valor agregado do setor de serviços e segmentos do industrial. O novo presidente só será novo de fato se aceitar esse desafio.
Economista
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