DEU NO BLOG DO BOLIVAR
Sociólogo e cientista político dos mais ilustres, o professor Alain Touraine, da Sorbonne, é um grande conhecedor do Brasil e de toda a América Latina.
Embora, ao ver dele, Fernando Henrique e Lula tenham feito bons governos e o Brasil tenha um grande potencial para construir uma sociedade moderna e democrática, no momento Touraine se define como ”não necessariamente otimista”.
“Não sabemos o que acontecerá daqui para a frente. A nova presidente (Dilma) foi inventada por Lula. O Brasil tem um longo passado de populismo e a ameaça persiste devido ao nível de desigualdade social extremamente elevado. Após 16 anos dos governos FHC e Lula, é impossível questionar o potencial do Brasil. Mas o perigo de um retrocesso existe, até porque o passado do PT está longe de ser perfeito. Lula não foi autoritário, mas segmentos do PT o são. A ideia de Dilma esquentar a cadeira por quatro anos para Lula também me desagrada. Em uma democracia, não pode haver presidente interino. A verdade é que não sabemos o que será o governo da nova presidente, porque ela não tem experiência política”.
Eu comecei a externar um ponto de vista semelhante há vários meses . Me cansei de advertir que a estratégia eleitoral de Lula tinha como objetivo “extirpar” não só o DEM, mas a própria oposição – ou seja, a possibilidade de qualquer oposição, por um longo período.
De lá para cá, aconteceu muita coisa. Uma parte importante da sociedade reagiu . O Manifesto em Defesa da Democracia foi um marco desse processo. Ao alvejar Erenice Guerra, a imprensa forçou Lula a se mostrar na campanha com todo o seu destempero.
As urnas mostraram com régua e compasso qual era a verdade da situação. O PSDB e o DEM fizeram 10 governadores, inclusive os de Minas Gerais e São Paulo, eleitos no primeiro turno.
Pior ainda para Lula foi a eleição ir para o segundo turno. Contrariando prognósticos delirantes, que há tempos anunciavam a vitória de Dilma no primeiro turno e com vantagem de 20 ou mais pontos, a disputa ficou apertada e o governo precisou refazer suas contas. Foi ali que Lula começou a perder a aura de Átila, rei dos hunos com que imaginava se apresentar ao mundo no dia 4 de outubro.
Apesar de tudo isso – notem bem -, e com toda a sua apreciação positiva a respeito de Lula, Touraine ainda vê o quadro brasileiro com preocupação. Suas razões são, por um lado, o fato de o PT abrigar elementos não democráticos, por outro a inexperiência de Dilma Rousseff e os problemas decorrentes de ela ter sido do começo ao fim uma candidata “inventada” por Lula.
Às razões do celebrado professor eu acrescentaria - como tenho feito aqui no blog - o fato de Lula ter feito ampla maioria governista tanto na Câmara como no Senado.
Seria muito pior, sem dúvida, se a tivesse feito e ao mesmo tempo obtido a ampla consagração com que contava chegar ao 4 de outubro. Nessa hipótese, é evidente que o Congresso se acoelharia durante todo o próximo ano, no mínimo.
Mas o risco oposto também existe. Se Dilma se revelar tão carente de luz própria e tão tosca no tratamento político como suas falas não ensaiadas deixam entrever, sua base de apoio tenderá rapidamente a perder unidade. PMDB e PT engalfinhar-se-ão (como já se vem engalfinhando) na disputa pelos ministérios e diretorias mais bem aquinhoadas nas estatais.
A pretexto de articular uma reforma política ou coisa que o valha, e percebendo que o seu próprio projeto político estará em jogo, Lula tratará de intervir. De espada em punho, ele assomará rapidamente na cabeça da liça, como um paladino medieval pronto a socorrer sua rainha.
Desse cenário podem sair várias coisas – inclusive nada. Pode sair um romance passável no gênero cavalaria. E até uma preocupante confusão política e institucional.
Deixemos porém o carro onde ele deve ficar : atrás, não adiante dos bois. Afinal, Lady Rousseff ainda nem tomou posse.
Sociólogo e cientista político dos mais ilustres, o professor Alain Touraine, da Sorbonne, é um grande conhecedor do Brasil e de toda a América Latina.
Embora, ao ver dele, Fernando Henrique e Lula tenham feito bons governos e o Brasil tenha um grande potencial para construir uma sociedade moderna e democrática, no momento Touraine se define como ”não necessariamente otimista”.
“Não sabemos o que acontecerá daqui para a frente. A nova presidente (Dilma) foi inventada por Lula. O Brasil tem um longo passado de populismo e a ameaça persiste devido ao nível de desigualdade social extremamente elevado. Após 16 anos dos governos FHC e Lula, é impossível questionar o potencial do Brasil. Mas o perigo de um retrocesso existe, até porque o passado do PT está longe de ser perfeito. Lula não foi autoritário, mas segmentos do PT o são. A ideia de Dilma esquentar a cadeira por quatro anos para Lula também me desagrada. Em uma democracia, não pode haver presidente interino. A verdade é que não sabemos o que será o governo da nova presidente, porque ela não tem experiência política”.
Eu comecei a externar um ponto de vista semelhante há vários meses . Me cansei de advertir que a estratégia eleitoral de Lula tinha como objetivo “extirpar” não só o DEM, mas a própria oposição – ou seja, a possibilidade de qualquer oposição, por um longo período.
De lá para cá, aconteceu muita coisa. Uma parte importante da sociedade reagiu . O Manifesto em Defesa da Democracia foi um marco desse processo. Ao alvejar Erenice Guerra, a imprensa forçou Lula a se mostrar na campanha com todo o seu destempero.
As urnas mostraram com régua e compasso qual era a verdade da situação. O PSDB e o DEM fizeram 10 governadores, inclusive os de Minas Gerais e São Paulo, eleitos no primeiro turno.
Pior ainda para Lula foi a eleição ir para o segundo turno. Contrariando prognósticos delirantes, que há tempos anunciavam a vitória de Dilma no primeiro turno e com vantagem de 20 ou mais pontos, a disputa ficou apertada e o governo precisou refazer suas contas. Foi ali que Lula começou a perder a aura de Átila, rei dos hunos com que imaginava se apresentar ao mundo no dia 4 de outubro.
Apesar de tudo isso – notem bem -, e com toda a sua apreciação positiva a respeito de Lula, Touraine ainda vê o quadro brasileiro com preocupação. Suas razões são, por um lado, o fato de o PT abrigar elementos não democráticos, por outro a inexperiência de Dilma Rousseff e os problemas decorrentes de ela ter sido do começo ao fim uma candidata “inventada” por Lula.
Às razões do celebrado professor eu acrescentaria - como tenho feito aqui no blog - o fato de Lula ter feito ampla maioria governista tanto na Câmara como no Senado.
Seria muito pior, sem dúvida, se a tivesse feito e ao mesmo tempo obtido a ampla consagração com que contava chegar ao 4 de outubro. Nessa hipótese, é evidente que o Congresso se acoelharia durante todo o próximo ano, no mínimo.
Mas o risco oposto também existe. Se Dilma se revelar tão carente de luz própria e tão tosca no tratamento político como suas falas não ensaiadas deixam entrever, sua base de apoio tenderá rapidamente a perder unidade. PMDB e PT engalfinhar-se-ão (como já se vem engalfinhando) na disputa pelos ministérios e diretorias mais bem aquinhoadas nas estatais.
A pretexto de articular uma reforma política ou coisa que o valha, e percebendo que o seu próprio projeto político estará em jogo, Lula tratará de intervir. De espada em punho, ele assomará rapidamente na cabeça da liça, como um paladino medieval pronto a socorrer sua rainha.
Desse cenário podem sair várias coisas – inclusive nada. Pode sair um romance passável no gênero cavalaria. E até uma preocupante confusão política e institucional.
Deixemos porém o carro onde ele deve ficar : atrás, não adiante dos bois. Afinal, Lady Rousseff ainda nem tomou posse.
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