terça-feira, 29 de março de 2011

Pó na estrada:: Fernando de Barros e Silva

Às vezes, a gente até pensa que não, mas o Brasil ainda existe. Apesar do "Bric" e da "nova classe média", o velho país segue muito parecido consigo mesmo.

Exagero retórico? Veja a reportagem exibida anteontem pelo programa "Fantástico", da Globo. A cocaína corre solta pelas estradas brasileiras. É vendida por frentistas em postos de gasolina de maneira quase escancarada. Em alguns deles, aceita-se até cartão de crédito.

Os repórteres viajaram num caminhão durante três semanas. Percorreram quase 10 mil km, de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, até Natal, no Rio Grande do Norte. As imagens flagradas acabam sendo tão chocantes quanto monótonas.

Repete-se pelos Estados, à beira das estradas, o mesmo comércio desimpedido de drogas. Nos pontos de parada, prostitutas mirins oferecem "programa" por R$ 10 e pedras de crack por outros R$ 10 aos motoristas fatigados.

O consumo de anfetaminas parece ser regra, e não exceção, entre caminhoneiros que, no mais das vezes, cometem barbaridades atrás de premiações por desempenho. Alguém controla isso de verdade?

Em 2010, houve 7.798 acidentes envolvendo caminhões nas estradas federais -média de 21 por dia.

A reportagem cruza 11 Estados e passa por mais de 70 postos da Polícia Federal Rodoviária (PFR), sem que o caminhão sofresse uma única vistoria. Mas é achacada por um policial -coisa miúda, de R$ 15, o que soa quase como uma singela homenagem a uma tradição nacional.

Ontem à tarde, o diretor-geral da PFR rodou do cargo, depois de oito anos. A corporação, com 9.000 homens, vinha ameaçando greve e reclama das condições de trabalho. Pelas imagens exibidas na TV, razões para estar em crise não faltam.

Postos da PFR totalmente abandonados, cemitérios de carros dilapidados (que deveriam ir à leilão), drogas e acidentes em profusão, corrupção, ausência de fiscalização -o que se vê na boleia deste Brasilzão é uma sucessão de descalabros.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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