sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Final infeliz :: Eliane Cantanhêde

O PMDB não é um PR qualquer. Tem 80 deputados, 20 senadores, cinco governadores e mantém seis ministérios, além da Vice-Presidência da República.

Por isso, Dilma não viu, não ouviu e não soube de nada que considerasse suficiente para a demissão de Wagner Rossi (PMDB) da Agricultura. Ela, aliás, estava convenientemente discursando na Marcha das Margaridas, ao vivo e em cores, enquanto a Polícia Federal abria inquérito para apurar os escândalos e Rossi decidia sua saída de fininho para tentar preservar a própria família.

Dilma tirou o problema de seu gabinete e empurrou para Michel Temer resolver com o PMDB. Quem pariu Rossi que o embalasse. Foi Temer quem indicou o apadrinhado para a Agricultura, quem aceitou o seu pedido de demissão e quem articulou, o mais rapidamente possível, dentro das circunstâncias, a substituição dele por Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS).

Todos os atores cumpriram bem seus papéis. Rossi saiu com uma carta preservando o governo e acusando a imprensa; Dilma lamentou o desrespeito à "presunção de inocência"; Temer perdeu Rossi, mas manteve a Agricultura. Não tem do que reclamar.

O principal personagem da trama, porém, é alguém muito distinto: Israel Leonardo Batista, que não aceitou propina de lobista, deu entrevista contando os esquemas e depôs na Polícia Federal descrevendo como a Agricultura estava "corrompida" na era Rossi.

Israel chefiava a comissão de licitação da pasta, que define o destino de bilhões de reais, mas tem salário de R$ 2.000, anda num carro de 2004, batido, e mora em Samambaia, um dos bairros mais pobres e poeirentos do DF.

Surge, assim, um novo Eriberto, o motorista do caso Collor, ou um novo Francenildo, o caseiro da primeira queda de Palocci. Na ficção, seriam heróis. Na realidade, sempre acabam perdendo no final.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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