O PMDB não é um PR qualquer. Tem 80 deputados, 20 senadores, cinco governadores e mantém seis ministérios, além da Vice-Presidência da República.
Por isso, Dilma não viu, não ouviu e não soube de nada que considerasse suficiente para a demissão de Wagner Rossi (PMDB) da Agricultura. Ela, aliás, estava convenientemente discursando na Marcha das Margaridas, ao vivo e em cores, enquanto a Polícia Federal abria inquérito para apurar os escândalos e Rossi decidia sua saída de fininho para tentar preservar a própria família.
Dilma tirou o problema de seu gabinete e empurrou para Michel Temer resolver com o PMDB. Quem pariu Rossi que o embalasse. Foi Temer quem indicou o apadrinhado para a Agricultura, quem aceitou o seu pedido de demissão e quem articulou, o mais rapidamente possível, dentro das circunstâncias, a substituição dele por Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS).
Todos os atores cumpriram bem seus papéis. Rossi saiu com uma carta preservando o governo e acusando a imprensa; Dilma lamentou o desrespeito à "presunção de inocência"; Temer perdeu Rossi, mas manteve a Agricultura. Não tem do que reclamar.
O principal personagem da trama, porém, é alguém muito distinto: Israel Leonardo Batista, que não aceitou propina de lobista, deu entrevista contando os esquemas e depôs na Polícia Federal descrevendo como a Agricultura estava "corrompida" na era Rossi.
Israel chefiava a comissão de licitação da pasta, que define o destino de bilhões de reais, mas tem salário de R$ 2.000, anda num carro de 2004, batido, e mora em Samambaia, um dos bairros mais pobres e poeirentos do DF.
Surge, assim, um novo Eriberto, o motorista do caso Collor, ou um novo Francenildo, o caseiro da primeira queda de Palocci. Na ficção, seriam heróis. Na realidade, sempre acabam perdendo no final.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário