De acordo com a PF, o grupo suspeito de desviar R$ 3 milhões de convênio entre o Ministério do Turismo e uma ONG teve acesso a investigações do TCU.
O advogado Tiago Cedraz, filho do ministro Aroldo Cedraz, teria facilitado o acesso. Em nota, o TCU negou o fato
PF diz que grupo teve acesso privilegiado a dados do TCU
Acusados de fraude no Turismo obtiveram auditoria sem autorização, indica escuta
Advogado contratado por suspeitos é filho do ministro Aroldo Cedraz, mas TCU nega que ele atue em causas na corte
Daniela Lima, Silvio Navarro e Flávio Ferreira
SÃO PAULO - A Polícia Federal afirmou que o grupo acusado de desviar R$ 3 milhões de um convênio com o Ministério do Turismo teve acesso privilegiado às investigações do TCU (Tribunal de Contas da União) -origem da Operação Voucher, que levou à prisão de 36 pessoas.
Segundo o relatório da PF, os dirigentes da ONG Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável) teriam contratado o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro Aroldo Cedraz, "para resguardar-se de uma possível decisão prejudicial" do tribunal.
Parecer dos técnicos do TCU apontou elementos de fraude na execução de um convênio destinado à capacitação de 1900 profissionais de turismo no Amapá.
Entre os presos pela PF estão integrantes da cúpula do Ministério do Turismo, incluindo Frederico Silva da Costa, número dois da pasta.
A PF afirma que os advogados que defenderam a ONG no TCU teriam conseguido acesso ao relatório do tribunal "muito antes de serem citados para apresentarem suas defesas".
Segundo relatório da PF, em conversa gravada com autorização judicial o sócio de Tiago Cedraz, identificado como Romildo, diz ao diretor-executivo da ONG, Luiz Gustavo Machado, já ter obtido "a proposta dos analistas do tribunal".
A conversa ocorreu quatro dias antes da data que autorizava à ONG obter cópia da auditoria do TCU.
"Bom, quanto ao tribunal nós sabemos tudo o que está se passando", diz o advogado na conversa, segundo trecho transcrito pela PF.
Na decisão que atendeu pedido do Ministério Público e autorizou as prisões, o juiz Anselmo Gonçalves da Silva afirma que o "grupo investigado chega a cogitar de potencial influência até no TCU, sob a perspectiva de utilização dos serviços advocatícios de Tiago Cedraz, cujo pai é ministro naquela Casa".
O "grupo", segundo o Ministério Público, contaria também com um servidor dentro do Ministério do Turismo. A técnica Kérima Silva Carvalho "coordenou" a elaboração da defesa do Ibrasi junto ao TCU.
Descrita no relatório como "funcionária do Ibrasi dentro do ministério", ela teria adulterado documentos para beneficiar a ONG em contratos com o Turismo.
A investigação policial foi subsidiada com informações da área técnica do TCU. O tribunal informou que as supostas irregularidades estão sendo tratadas em três processos, sob relatoria do ministro Augusto Nardes.
NOVAS FRAUDES
As escutas indicam ainda que os envolvidos no desvio de verbas do Turismo planejavam novas fraudes. Numa das conversas, Luiz Gustavo Machado afirma que "tinha uma concorrência para pôr a mão", segundo a PF destinada à construção de um porto.
De acordo com o relatório, o material demonstra que o grupo "atua em todos os contratos que firmou com o poder público da forma temerária como atuou no convênio sob investigação".
O juiz afirma em sua decisão que o grupo "encontra-se em plena atividade, planejando ações defensivas e novas fraudes".
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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