quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Jogador de primeira, segunda e terceira via:: Cristian Klein

Em 2014, dos 27 atuais governadores, 13 não poderão tentar a reeleição. Desses, cinco têm projeção nacional ou pertencem a Estados grandes, o que os credenciaria a participar do jogo presidencial. Uma ambição que não é compartilhada ou permitida a todos.

Cid Gomes (PSB), do Ceará, anuncia que pretende sair da política e voltar para o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Jaques Wagner diz abrir mão de uma vaga ao Senado para se lançar a deputado federal e aumentar a bancada do PT na Bahia. Sérgio Cabral está isolado no PMDB e se desgasta perante possíveis aliados com a defesa dos royalties para o Rio. A também pemedebista Roseana Sarney, do Maranhão, já teve seu voo presidencial abatido em 2002. Resta um, que, em compensação, vê o mundo de oportunidades. Ele começa em Recife - como diria o pintor Cícero Dias (1908-2003) - e só termina em Brasília.

O caminho que leva à reeleição de Dilma Rousseff, ou à volta do ex-presidente Lula ao poder, se desenha monótono a não ser pela presença de um personagem intrigante, dúbio e estrategista que é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Contra ele, diga-se, pesa o histórico das últimas duas décadas. Em qualquer país federativo, governadores são sempre potenciais candidatos a presidente. Mas, no Brasil, isso parece ter saído de moda e lembrar República Velha ou apenas o início da Nova. Os quatro presidentes mais recentes não comandaram Estados: Dilma, Lula, Fernando Henrique e Itamar Franco (que só veio a governar Minas depois de ocupar a Presidência). O último foi Fernando Collor, ex-governador de Alagoas, que deu no que deu.

O que impulsiona Eduardo Campos, no entanto, não é seu território. Ele é o único que preside um partido. Reside aí sua fonte de poder. Graças ao PSB, que transformou em empresa política, tem controle sobre seus passos e se movimenta num tabuleiro muito mais amplo, nacional.

Avaliza alianças regionais, negocia o tempo de TV, costura acordos como o firmado com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab em torno da criação do PSD, e tem capacidade de interferir na disputa presidencial.

Exemplo foi a retirada da candidatura própria do PSB ao Planalto, no ano passado, para a irritação do correligionário Ciro Gomes e a satisfação de Lula, que queria poucos concorrentes no páreo de Dilma Rousseff.

Em contrapartida, o PSB ganhou liberdade para montar os mais variados palanques estaduais, coligando-se com o PT, seu aliado tradicional, mas também com o PSDB e representantes da oposição, com quem forja seu plano alternativo ao Planalto.

O PSB é pequeno/médio, mas Eduardo Campos se esmera em torná-lo uma máquina eficiente. Isso apesar ou por causa da pouca democracia interna, refletida numa organização centralizada, baseada no controle de comissões provisórias. A sigla foi a que mais aumentou a quantidade de prefeitos desde 2000 (136%) e é a segunda em número de governadores (seis). Contudo, mais importante do que quanto cresceu, é em que bases ocorre esse crescimento.

O partido tem um estreito núcleo de quadros históricos, que lhe dá verniz ideológico, mas se expande cada vez mais por meio de filiações sem qualquer coloração socialista. Tanto melhor se for capitalista, com fácil acesso a recursos financeiros.

É o caso do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que entrou e já saiu da legenda. Do empresário Mauro Mendes, dono da Bimetal, uma das maiores do país na área de torres para telefonia celular - ele concorreu ao governo do Mato Grosso, no ano passado, e é cotado para disputar novamente a Prefeitura de Cuiabá, em 2012. E de José Batista Júnior, o Júnior Friboi, dono do grupo JBS, nova "contratação" e aposta para o governo de Goiás, em 2014.

Se Gramsci falava de uma revolução pelo alto, passiva, sem grandes transformações sociais, o PSB parece encantado pela ideia da "eleição pelo alto".

Mais importante, o partido de Eduardo Campos descobriu seu posicionamento político ideal ao se colocar entre os adversários PT e PSDB e deles tirar vantagem.

As alianças com os tucanos servem de ameaça para assustar o PT. E a união com os petistas funciona como capital político para vender mais caro sua adesão a uma enfraquecida oposição. A estratégia vai funcionando, a ponto de fazer até o ex-presidente Lula, que adora uma disputa, participar do jogo. Mesmo que tenha aparência de "pelada".

Lula foi dos maiores cabos eleitorais na vitória da mãe de Eduardo Campos, a deputada federal Ana Arraes (PSB-PE), para a vaga em aberto do Tribunal de Contas da União (TCU). Questionado se o apoio não fortaleceria demais o governador, o ex-presidente respondeu que seu objetivo foi trazê-lo mais para o "nosso lado", ou seja, para o PT. Os tucanos também pensaram o mesmo e franquearam seus votos a Ana Arraes.

Eduardo Campos aproveitou a eleição do TCU para se cacifar e dar uma demonstração de força.

No mínimo, ganha influência no tribunal, além de fortalecer sua posição e hegemonia em Pernambuco. Pode até, como árbitro da renhida contenda entre o prefeito de Recife, João da Costa, e o ex, João Paulo, ambos petistas, lançar candidatura própria do PSB. Nos últimos meses, Campos vinha tentando trazer João Paulo para seu partido, para irritação do PT local.

No limite, exercita estratégia heterodoxa para alcançar o poder nacional. Para Eduardo Campos vale a primeira via (vice de Dilma ou de Lula), a segunda (daí sua ampla aliança com tucanos, nos níveis estadual e municipal, e a amizade com o senador Aécio Neves) ou ser a terceira via.

Sua munição, porém, ainda é fraca, como afirma integrante de seu próprio partido, referindo-se ao calcanhar de Aquiles, a falta de poder parlamentar. "Para ter peso, precisa passar de 45 deputados e ter de uns oito a dez senadores. Isso é mais importante que prefeitos e até governadores".

Eduardo Campos busca saídas. Com 31 deputados e três senadores, cogita a formação de um bloco com o recém-nascido PSD, para elevar o consórcio à condição de segunda maior bancada da Câmara. Seria uma nova jogada de efeito, paliativa. O governador precisa de um grande time para aumentar sua torcida.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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