Do sigilo à publicidade total, cada nação lida a seu modo com as doenças graves que afetam as lideranças políticas.
Um célebre exemplo do primeiro caso é François Mitterrand, o socialista que presidiu a França de 1981 a 1995. Só dias após a sua morte de câncer na próstata, em janeiro de 1996, a imprensa revelou que a doença fora diagnosticada logo depois de sua primeira posse.
Boletins médicos fajutos esconderam a moléstia por dez anos. Houvesse sido divulgada no início da trajetória de Mitterrand, a história francesa do final do século 20 possivelmente teria tomado curso diferente.
A divulgação manipulada do estado de saúde prevalece com o líder venezuelano Hugo Chávez. O conhecimento público de seu câncer o favorece na reeleição do ano que vem. Mas um mistério ainda envolve a gravidade da doença, talvez porque sua veiculação dispararia a sucessão de um líder egocêntrico demais para deixar herdeiros.
No Brasil, o calvário de Tancredo Neves -no qual o despiste era tática usual de médicos e políticos- parece ter encerrado a era da semipublicidade. A exposição das patologias de Mário Covas, José Alencar e Dilma Rousseff dá prova disso.
A empatia com o convalescente, despertada por esses episódios, supera os questionamentos que possam provocar. Aqui não há, em contraste com os EUA, a percepção de que um líder doente mina a capacidade do partido de manter-se no poder ao longo do tempo.
Partidos ainda fazem pouca diferença no Brasil, como atesta o vulto majestoso da imagem de Lula, do mito de Lula, sobre o PT.
É esse mito, por sinal, que a notícia do câncer em sua laringe vem fortalecer.
Um tumor aparentemente tratável, como se informa e deseja, a três anos da eleição presidencial ajuda a empurrar as expectativas de alternância no poder para o final desta década -que apenas se inicia.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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