Em Grandes Homens Contemporâneos, Winston Churchill garante ser “verdade que o curso da história é sempre influenciado por isto ou por aquilo”. A observação se encaixa naturalmente na atual situação brasileira, onde isto e aquilo se revezam em cena. Falta apenas identificar e definir o que seja isto ou aquilo na apresentação dos grandes espetáculos de defenestração de ministros em série, a título de encaminhamento da Copa do Mundo em 2014.
Já somam cinco ministros, em dez meses de governo Dilma Rousseff, e não faltam nomes sussurrados de ministros pilhados em escândalos no ministério à beira de quarenta figurantes que se acotovelam no governo Dilma Rousseff. Não que isto (os ministros) tenha a ver com aquilo (os 40 ladrões que Alí Babá isolou na caverna). Seja por isto que se lê ou aquilo de que já se sabia, a média de dois meses per capita para a degola de ministros, de um jeito ou de outro, vai para a história, tanto faz com inicial maiúscula ou minúscula mesmo.
A presidente Dilma nega que seja faxina, mas não pode contestar que se respira um ar renovado de limpeza, nem impedir que se conjugue o verbo defenestrar, etimologicamente correto, para garantir uma atmosfera respeitável aos episódios que merecem agradecimento público. São animadores os espetáculos que precedem a saída de cada ministro que vem abaixo com estrondo. A presidente está lavando as mãos e o ex-presidente faz o papel de padrinho dos que saem, considerando as circunstâncias, pois tudo vai acontecendo por conta própria. Às vezes parece que mão invisível move os personagens. Nada, no entanto, sobrenatural.
Por enquanto, nada de novo mantém juntos a presidente e o ex , mas pouco do que ficou para trás os separa. O acerto final tem hora marcada na sucessão presidencial. Não é por acaso que a oposição, se é que assim se pode considerar os que perderam a eleição e o rumo, bate cabeça vazia de idéias com cabeça com idéias demais.
Por essa janela que se abre na história brasileira já se vê mais do que é mostrado na coreografia de ministros que saem aos trambolhões, embora amaciados e despachados com pedidos de desculpas. Seja como for, ministros estão sendo despejados pela janela aberta no mandato da presidente Dilma, e não enxotados pela vassoura com que os meios de comunicação varrem o espaço oficial, à falta de melhor. Por esta ou por aquela, a janela ou a vassoura, não faz diferença. O curso das mal contadas histórias dos que saem vai compondo sentido próprio com episódios impróprios, e aplausos do eleitor.
Em Roma, era pão e circo para satisfazer a multidão quando o império ia para o beleléu. Aqui a diversão, mais em baixo, é ver ministro balançar, garantir que não sai e despencar em poucos dias. Até que a Loteria Federal já poderia ter criado um sistema de apostas e, como atenuante, permitir a cidadãos ganharem dinheiro honestamente com jogo real.
A bem da verdade ou, na sua falta, da própria mentira, a questão não está nos nomeados nem com os demitidos, mas na própria seleção dos pretendentes a ministros, que limitam a opção presidencial às indicações dos partidos. Sobre essa base movediça de interesses é que se equilibra o governo. A rigor, não é o presidente quem escolhe os ministros, mas apenas os nomeia como se fosse uma honra, mesmo sabendo que não chega a tanto. É contingência de um presidencialismo esgotado.
Eis a questão: nomeação de ministro com o governo em movimento, quando não em sobressaltos, como ocorria no tempo em que crises se davam ao respeito dos cidadãos, pouco tem a ver com um sistema parlamentar de exercer o poder. Apenas aparência. Ninguém segura nosso presidencialismo envergonhado, que já está mais para caricatura de parlamentarismo à brasileira. A isto se dá o nome de governabilidade, apesar de não chegar a tanto, e pode acabar tornando mais difícil o exercício das atribuições de governo. Ou mesmo deixando sem saída, exceto a própria, quem estiver no exercício dos poderes presidenciais.
Wilson Figueiredo é jornalista
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