segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Deixem Aldo em paz:: Ricardo Noblat

"Isso de ONGs é uma visão neoliberal. A participação de militantes do PCdoB em ONGs é minoria". (Renato Rabelo)

Difícil dizer qual foi o momento de mais brilhante cinismo que marcou a entrevista coletiva concedida na última sexta-feira por Renato Rabelo, presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Terá sido aquele onde ele garantiu que Aldo Rebelo, seu correligionário e novo ministro do Esporte, escolherá livremente com quem irá trabalhar?

Ou terá sido o momento seguinte, quando Renato citou Nádia Campeão, ex-secretária de Esporte de São Paulo e ex-presidente do PCdoB no estado? Renato admitiu que Nádia está cotada para a secretaria executiva do Ministério do Esporte, embora "não seja uma indicação do partido". Como é mesmo, Renato? Repita!

Em 2002, ao se eleger presidente da República e decidir que o Esporte caberia ao PCdoB, Lula pediu ao partido que sugerisse o nome do ministro. Por partido entenda-se Renato. Ninguém ali o contesta. Renato tentou emplacar Nádia Campeão. Lula preferiu Agnelo Queiroz, deputado federal pelo PCdoB de Brasília.

Então Renato empurrou goela abaixo de Agnelo os nomes de Orlando Silva para secretário nacional de Esporte, e de Ricardo Leyser Gonçalves para secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento. Foi o primeiro emprego da vida de Orlando, que pelo PCdoB presidira a União Nacional dos Estudantes entre 1995 e 1997.

Orlando e Ricardo serviram ao partido no ministério como uma espécie de tutores de Agnelo. Vigiavam seus passos. E confrontavam atos que poderiam desagradar ao partido. Em certa ocasião, Agnelo aceitou convite para assistir no exterior a uma competição de natação. O autor do convite era um dirigente esportivo do Rio.

Os tutores de Agnelo se opuseram. Alegaram que a aceitação do convite fortaleceria seu autor, empenhado em que o Rio sediasse os Jogos Pan-Americanos de 2007. E, para o PCdoB, o melhor seria que o Pan fosse disputado em São Paulo. Ali o partido concentra seus maiores interesses. O ministro viajou mesmo assim.

Os dois viviam no gabinete de Agnelo.Não se anunciavam antes de entrar, simplesmente giravam a maçaneta da porta e entravam. Uma vez, irritado, Agnelo foi visto saindo do seu gabinete com as mãos na cabeça para desabar diante de secretárias perplexas: "Tirem esses dois da minha sala. Não aguento mais". Vexame!

O posto de Orlando só lhe dava direito a dispor de carro oficial para se deslocar dentro da Esplanada dos Ministérios. Pois ele visitava a namorada que morava na Asa Norte dizendo que usara o carro em viagem ao Setor Hospitalar Norte. Para ir ao aeroporto, anotava que usara o carro em viagem ao Setor de Carga. Há um dossiê a esse respeito.

Apontado como o homem-forte dos Jogos Pan-Americanos, Ricardo acabou condenado pelo Tribunal de Contas da União a devolver aos cofres públicos mais de R$ 18 milhões. Foi acusado de superfaturamento e de pagamentos indevidos. Nem por isso deixou o ministério. Mais do que Dilma, Lula tolerava desvios de conduta.

Quem deixou o ministério foi Agnelo, candidato ao governo do Distrito Federal e depois ao Senado. O PCdoB abandonou-o. Agnelo quis voltar a ser ministro no segundo governo de Lula — o partido preferiu Orlando. Mas escalou o advogado Ronald Freitas, um dos sete membros do seu secretariado, para monitorar o novo ministro.

Agora, quem haverá de controlar de perto ou à distância o desempenho de Aldo Rebelo? Dele se diz — e com razão — que é um político experiente e respeitado por seus pares. Foi presidente da Câmara dos Deputados e ministro de Relações Institucionais de Lula.

Até a oposição (leia-se: Aécio Neves e José Serra, ambos do PSDB) gosta dele.

Seria razoável que o PCdoB o deixasse em paz. Aldo é tido como um quadro disciplinado. No ano passado, pediu socorro à direção quando temeu não se reeleger devido à quantidade de dinheiro gasto para eleger o deputado Gustavo Petta, cunhado de Orlando. O partido espera que ele retribua a ajuda que recebeu. Força, Lula.

FONTE: O GLOBO

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