Nenhuma sucessão presidencial, onde quer que ocorra, tira proveito da anterior, pela elementar razão de que cada uma tem condições exclusivas às quais não se aplica o que está sendo ensinado. E não apenas pelo velho motivo segundo o qual a história não se repete, mas por outra ordem de considerações. O advento da reeleição não melhorou a qualidade do poder exercido à sombra do presidencialismo enfático. E, sem dúvida, o piorou, de outros pontos de vista.
Sem alusão ao que ocorre por fora da eleição, a idéia republicana original mantém intacta a devoção ao presidencialismo que não assume tudo de deplorável, mas se encarrega de um bom pedaço no que a História do Brasil tem de menos louvável. Na atual democracia, a reeleição agregou as conseqüências que se fazem sentir, ainda silenciosamente, na total falta de debate, também republicano e histórico, no Congresso Nacional. E por aí a fora, inclusive nos bares e botequins.
Cada vez mais, a eleição seguinte mal deixa o presidente eleito se acertar. E sempre deixa mal o que sai. Só agora a presidente Dilma consegue respirar em meio à poeira feita na remoção da parte comprometida do governo anterior. E, antes de se completar o primeiro ano deste governo, já se apresenta candidato pela oposição. Candidato do governo é caso clínico: Lula se confirma pela negativa. Logo ele. Pela oposição é tudo mais relativo. A insistência em ser candidato fora de tempo levanta suspeitas.
A evidente prioridade é para a dificuldade de acomodação do ex e da atual presidente à futura eleição, cuja razão de ser encaixa-se com folga na condição favorável de primeira mulher e a se reeleger.O obstáculo oculto continua a ser ninguém menos do que o doutor Honoris Causa. Pelo seu lado, a oposição se movimenta no árido terreno a sua disposição. Se espera o beneplácito da fortuna, pode tirar o cavalinho da chuva.
O comportamento do ex-presidente Lula foi acintoso até se dar conta do risco de oficializar a condição de padrinho dos espertalhões varridos por falta de cerimônia na maneira de lidar com dinheiro público como se fosse para consumo exclusivo deles. Do lado de fora do governo, a oposição tenta captar mais do que o ruído dos ventos no deserto de homens e idéias assinalado por Osvaldo Aranha, quando fazia ouvir sua voz no vazio de debates mais consistentes do que a baboseira atual. Na dúvida, o senador Aécio Neves volta a ser considerado estrategicamente (por ele próprio) candidato apto a ocupar espaço livremente demarcado por ele com antecedência. Por falta de candidatos é que a democracia, ainda desta vez, não fenecerá. Nem por excesso. Mesmo que a vaca tussa. A oposição escalavrada por três derrotas presidenciais seguidas dispõe de Aécio, que soube esperar sem sofrer desgastes. Credenciou-se por dois mandatos de governador na terra em que a política viceja (sem qualquer alusão aos vices civis nas chapas dos candidatos militares, que compareciam com votos ainda que indiretos).
A entrevista com que o senador Aécio Neves se ofereceu candidato contra qualquer dos dois – Lula (candidato honoris causa?) e Dilma (por direito confirmado nas urnas) _, não continha novidade e, em conseqüência, não produziu ecos indispensáveis para adiantar o expediente. Com os 80% de aprovação dos mineiros nos seus dois governos estaduais, Aécio Neves não deve ter esquecido que sua estréia nacional foi a empreitada com que se elegeu e presidiu a Câmara dos Deputados num lance de qualidade política que o faz devedor de uma campanha com a ênfase com que JK refez, no seu tempo, a sucessão presidencial em plena tempestade, e prolongou a democracia além do previsível àquela altura.
Wilson Figueiredo é jornalista
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