São particularmente ruins os argumentos utilizados pela blogosfera que se diz de esquerda para defender o ministro Orlando Silva. Para os representantes dessa corrente, as denúncias não merecem crédito porque são requentadas e vêm de testemunha inidônea.
Até onde vão o direito e a lógica, ser novidade não é critério para a abertura de investigações. Desde que o suposto crime não esteja prescrito, sempre é tempo de apurar e punir quem tenha cometido irregularidades. E todos aqueles interessados em fazer progredir as instituições políticas brasileiras -a esquerda costumava levantar essa bandeira- deveriam aplaudir quando isso ocorre.
Quanto à origem das acusações, a motivação e o histórico do policial devem de fato ser considerados quando da avaliação das evidências, mas não há nenhuma regra matemática a determinar que figuras suspeitas sempre mintam. Como qualquer ser humano, o policial pode ou não estar dizendo a verdade -e é justamente isso que temos de descobrir.
Igualmente débil é a tentativa de transformar o ministro numa espécie de Davi que ousou desafiar o Golias incorporado na Fifa e na CBF. Por essa narrativa épica, Silva corre o risco de cair porque, num gesto de defesa da soberania nacional, enfrentou os interesses da multinacional futebolística e de seu assecla entreguista.
O problema dessa versão é que estar contra a Fifa e a CBF é quase sempre a justa posição. Mas vale frisar o "quase". No caso específico, o ministro tombaria como mártir da meia-entrada e da abstemia nos estádios, duas leis cuja racionalidade ainda está por ser provada.
É bem possível e até provável que a Fifa e a CBF tenham algo a ver com o "timing" das denúncias. Só que mais importante do que saber por que elas surgiram agora é descobrir se são ou não verdadeiras. Uma investigação que dê a Silva ampla oportunidade para defender-se parece ser o melhor caminho.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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