Sheila D´Amorim, Valdo Cruz
BRASÍLIA - Apesar do empenho em bancar um ajuste fiscal no curto prazo, o governo pouco fez ao longo do ano no enfrentamento de questões estruturais
O corte mais acelerado dos juros no segundo semestre deste ano transferiu do Banco Central para o Ministério da Fazenda o foco de tensão na área econômica.
Até há pouco tempo, as críticas e pressões eram primeiramente endereçadas aos diretores do BC -são eles que têm o poder de definir o rumo dos juros no país, principal instrumento de política monetária e de mais fácil percepção no bolso do cidadão.
Com a taxa em queda desde o final de agosto, as expectativas voltaram-se para a Fazenda. Isso porque cabe ao ministro Guido Mantega e à sua equipe a responsabilidade de criar o ambiente econômico para garantir que os juros continuem caindo, caso o crescimento da economia despenque no ano que vem.
Para combinar juros em queda com inflação sob controle, é preciso que outras variáveis sejam ajustadas pelo governo. O controle das contas públicas é a primeira e mais importante delas.
A presidente Dilma tem sinalizado que está determinada a manter uma economia grande o suficiente para que as despesas estejam controladas e não sirvam de combustível para inflação.
Neste ano, graças ao aumento da arrecadação, o ajuste parece garantido. O mercado, porém, tem dúvidas sobre o futuro das contas públicas no próximo ano.
Analistas questionam se a economia irá crescer em 2012 o suficiente para o governo manter sua receita em alta num período em que as despesas tendem a ser mais elevadas do que neste ano.
Afinal, o governo já contratou um aumento significativo dos gastos públicos por conta do reajuste do salário mínimo na casa dos 14%, além das desonerações de impostos já decididas.
O Planalto trabalha com um crescimento de 4% da no ano que vem. O mercado aposta em 3,5%. Previsões feitas num cenário de total incerteza sobre o destino da economia internacional.
REFORMAS
Apesar do empenho em bancar um ajuste fiscal no curto prazo, o governo pouco fez ao longo do ano no enfrentamento de questões estruturais que podem contribuir para um melhor gerenciamento das despesas.
Entre essas questões estão a aprovação de mecanismo de redução das despesas com a folha de pagamento do funcionalismo e mudanças na previdência do setor público.
No discurso, esses temas eram prioridade. Na prática, ficaram quase esquecidos.
Só na reta final do ano o governo acordou para a votação no Congresso do fundo de previdência dos servidores, que sinalizará uma redução do deficit no setor no futuro.
O foco no curto prazo levou a uma correria no final do ano para aprovar a DRU (Desvinculação das Receitas da União), mecanismo que permite ao governo gastar livremente 20% da sua receita.
Para uma medida considerada prioritária pelo Planalto, ela entrou na ordem do dia muito tarde.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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