domingo, 6 de maio de 2012

Grécia e seus fantasmas vão às urnas

Governo que emerge hoje pode não ter força suficiente para tirar país de seu inferno econômico e cumprir exigências para que Atenas obtenha créditos

Jamil Chade

GENEBRA - Após cinco anos de recessão, calote, explosão do desemprego e dois resgates econômicos, os gregos vão às urnas hoje para dar sua resposta à crise e punir a política de austeridade imposta pelos acordos com o FMI e a União Europeia. Mas a eleição ameaça apenas abrir mais um impasse, deixar o país sem governo justamente quando mais vai precisar e criar uma nova onda de turbulência na Europa.

Enfurecidos com os políticos tradicionais, eleitores prometem punir tanto os conservadores quanto os socialistas, que desde 1974 se alternavam no poder, por terem levado a Grécia a seu momento mais dramático. O cenário mais provável é de um Parlamento fragmentado, o que exigirá a construção de mais uma coalizão de circunstâncias para garantir que as reformas exigidas pelo FMI e pela UE sejam adotadas. Em Atenas, não se descarta nem mesmo a hipótese de realização de novas eleições.

A votação marca o fim do governo provisório de Lucas Papademos, um tecnocrata que assumiu após a queda do socialista George Papandreou, em 2011. Papademos negociou o maior calote da história e recebeu um resgate bilionário. Mas, em troca, adotou medidas de austeridade que cortaram os salários em 25%, prevê a demissão de mais de 100 mil funcionários públicos até 2015, ampliou a recessão e fez o desemprego bater um novo recorde.

O problema é a reação dos gregos de hoje poderá jogar o país em um perigoso limbo político. Nenhum partido deve conquistar a maioria, ainda que os conservadores da Nova Democracia de Antonis Samaras apareçam como líderes nas pesquisas, com 25% dos votos. Samaras jogou justamente com o impacto dos pacotes de austeridade para atrair eleitores. "Nenhum programa pode funcionar numa sociedade à beira do colapso", disse, insinuando que vai exigir renegociar dos acordos.

Os gregos devem ainda apoiar partidos menores. Juntos, os três partidos de extrema direita deverão somar quase 20% dos votos. Quem também deve ganhar são os partidos da extrema esquerda. O líder da Coalizão de Esquerda, Alexis Tsipras, deve alcançar entre 9% e 13% dos votos e promete se opor a todas as medidas de austeridade.

A fragmentação dos votos deve causar um impasse político, deixando os mercados ainda mais nervosos e pondo em risco o pacote de resgate. "A paralisia política após a eleição poderá levar o país à falência e expulsá-lo da zona do euro", alerta o Bank of America numa nota a investidores. "Se não houver governo, não haverá alternativa senão a interrupção do resgate", indicam.

Quebrada, a Grécia não tem caixa sequer para pagar funcionários e acumula uma dívida 160% de seu PIB. Para sobreviver, recebeu 240 bilhões do FMI e da UE, além de um perdão de 100 bilhões de sua dívida. Mas o oxigênio financeiro chega em parcelas e a próxima somente será liberada se Atenas cortar mais 15 bilhões do orçamento para 2013.

O governo alemão mandou sua mensagem aos gregos: o novo governo terá de cumprir as medidas de austeridade já negociadas com a comunidade internacional. Caso contrário, o resgate acabará e a Grécia terá de abandonar o euro. "Se os eleitores optarem por uma maioria que não honrará esses acordos, a Grécia terá de enfrentar as consequências", alertou na sexta-feira o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble.

O líder socialista, Evangelos Venizelos, em busca de votos, também alertou sexta-feira que se seu partido não vencer, a Grécia poderá ter de abandonar o euro. "Domingo decidirá se vamos ficar na Europa", alertou.

Samaras vem adotando um discurso de primeiro-ministro. Mas sabe que terá de fechar acordos com alguns desses partidos se de fato quiser governar. Já indicou que se recusa a fazer alianças com o partido neonazista e certamente não o fará com a extrema esquerda. Uma alternativa seria se aproximar justamente dos socialistas, tradicionais rivais. O problema é que, juntos, os dois partidos teriam 38% das cadeiras do Parlamento, insuficiente para governar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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