domingo, 6 de maio de 2012

Economistas já preveem inflação de 6% em 2013

Cortes mais drásticos na taxa Selic estimulariam a atividade econômica e o consumo e elevariam IPCA a mais de 6%

Daniela Amorim

RIO - Na esteira da mudança nas regras de remuneração da caderneta de poupança, anunciada anteontem, economistas já começaram a calibrar as previsões para a inflação em 2013. A medida abre espaço para cortes mais drásticos na taxa básica de juros e analistas já apostam numa Selic de 8% ao ano, o que estimularia ainda mais a atividade econômica e o consumo.

O efeito colateral indesejado seria um aumento na inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que se afastaria ainda mais do centro da meta do governo, de 4,5%.

As estimativas para a inflação em 2013, que giravam ao redor de 5,5%, aproximam-se agora de 6%. Nesse cenário, avaliam economistas ouvidos pela Agência Estado, o Banco Central seria obrigado a voltar atrás e elevar novamente a taxa Selic, se não quiser estourar o teto da meta.

"Sem novas intervenções (do BC na taxa básica de juros), essa inflação tem grande possibilidade de romper os 6% no ano que vem. E o governo não vai querer começar o ano com previsão tão alta, porque, nesse caso, qualquer risco de choque negativo adicional resultaria num grande risco de estouro do teto da meta", alerta Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores Associados.

O ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni reconhece que o quadro de inflação "não é confortável". "Acho que o limite para a Selic é 8,5%, com uma inflação de 5,5%, o que significaria uma taxa de juros real de 3%. Já é muito baixo."

Na avaliação da economista Monica Baumgarten de Bolle, professora da PUC-Rio e diretora da Casa das Garças, a pressão inflacionária para 2013 vem mais do pacote de estímulos à economia - o que inclui a pressão pela redução na taxa básica de juros - do que de uma medida pontual.

"Temos risco sim de uma inflação de 6% (em 2013). Materialmente, não sei se essa mudança faz tanta diferença, porque, se não fosse ela, seriam outros estímulos, dada a situação em que a economia está e a preocupação que o governo demonstrou com a atividade", disse Monica.

A redução na taxa de juros tem efeito defasado na economia, de cerca de nove meses, o que levaria a reflexos apenas na inflação para 2013. A contaminação para os preços se dá pelo aumento da demanda, mas também pode ocorrer pela valorização do dólar em relação ao real. Com juros mais baixos, investidores podem direcionar recursos a aplicações mais rentáveis.

"Acho que a via de contaminação se dará pelo dólar, não pelo crédito. Com taxas de juros mais baixas, os bancos serão mais seletivos ainda na concessão de empréstimos", avalia Carlos Thadeu de Freitas, também ex-presidente do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

O dólar rompeu na semana passada a barreira de R$ 1,90, mas tem se valorizado também em relação a outras moedas, o que mantém esse viés externo de pressão sobre os preços no País. O cenário internacional será determinante para o controle inflacionário no ano que vem.

Sob a perspectiva de uma taxa Selic ainda menor que a estimada inicialmente, consultorias como a Tendências e a Rosenberg & Associados já refazem suas projeções para 2013.

A Rosenberg reduziu a estimativa para a Selic de 9% para 8,5%, o que deve levar a previsão para o IPCA de 5,5% para algo em torno de 5,8% a 6%. "Se a Selic estiver a 8,5% em 2013, haverá uma pressão maior de demanda. Por isso estamos ponderando a inflação", justificou Daniel Lima, economista da Rosenberg.

A revisão da estimativa para a inflação em 2013 também deve ser considerável na Tendências. A consultoria esperava que a Selic ficasse em 10,75% no ano que vem, o que já levaria a uma taxa de inflação de 6,1%. Diante das mudanças, a consultoria já trabalha com um cenário alternativo da Selic a 7,5%, o que elevaria a previsão para o IPCA.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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