Integrantes da CPI do Cachoeira anunciaram que vão pedir explicações ao ex-presidente Lula e ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo, sobre um encontro que os dois mantiveram em abril. Segundo Mendes, Lula tentou pressioná-lo para que ajudasse a adiar o julgamento do mensalão no Supremo. A assessoria do ex-presidente nega.
CPI quer explicações sobre encontro entre Lula e Gilmar Mendes
Integrantes da comissão pedem esclarecimento sobre suposta oferta de acordo para adiar julgamento do mensalão
Jobim confirma encontro em seu escritório, mas nega versão de Mendes e diz que ele nunca demonstrou indignação
BRASÍLIA, SÃO PAULO - Integrantes da CPI do Cachoeira anunciaram que vão pedir explicações a Lula e ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes sobre encontro em que o ex-presidente teria feito lobby para adiar o julgamento do mensalão.
Mendes relatou que, em encontro em abril, Lula propôs blindar qualquer investigação sobre o ministro na CPI que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários. Em troca, Mendes apoiaria o adiamento do julgamento do mensalão.
A história foi revelada pela revista "Veja".
A assessoria de Lula negou o conteúdo da conversa e afirmou que ele nunca interferiu em processo judicial.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou ontem que estuda interpelar judicialmente Lula. "O que foi noticiado é uma afronta tanto ao Parlamento como ao STF".
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) defendeu a convocação de Lula para que ele conte sobre "quais parlamentares da CPI ele diz ter influência". Como a oposição não tem maioria na comissão, um requerimento de convocação de Lula dificilmente seria aprovado.
A história gerou críticas no próprio Supremo.
Para o ministro Marco Aurélio Mello, nunca deveria ter ocorrido o encontro.
"Está tudo errado. É o tipo de acontecimento que não se coaduna com a liturgia do Supremo, nem de um ex-presidente da República ou de um ex-presidente do tribunal, caso o Nelson Jobim tenha de fato participado disso."
O encontro entre Lula e Mendes ocorreu no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e ex-ministro do Supremo.
Lula disse a Mendes, segundo a "Veja", que é "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim em que o ministro se encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado na CPI.
Jobim confirmou o encontro em seu escritório, mas negou o teor. "Não houve essa conversa. Foi uma visita de cordialidade. Lula queria dar um abraço em Gilmar porque ele foi muito colaborativo [com o governo]" diz ele, que afirmou ter presenciado o encontro do início ao fim.
O ex-ministro se diz surpreso também com o relato de que Gilmar teria ficado perplexo com a conversa.
"Lula saiu antes dele e não houve indignação nenhuma do Gilmar. Isso só apareceu agora na revista", argumenta Nelson Jobim.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que ele e Pedro Taques (PDT-MT) vão pedir esclarecimentos a Mendes. "Queremos entender o que se passou."
O senador Wellington Dias (PT-PI), suplente da CPI, defendeu o ex-presidente. "É impensável ele fazer uma proposta dessa natureza."
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), também da CPI, disse que não cabe à comissão apurar o encontro.
Outro integrante da CPI, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) afirmou que o episódio "é gravíssimo". "Existe uma conduta reprovável, ou de Lula ou de Gilmar. Ou Lula tentou constranger um ministro do STF ou Gilmar não contou a verdade".
Rubens Bueno (PPS-PR) disse que o episódio demonstra "o chefe do mensalão tentando acobertar o maior crime político do país".
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário