A organização criminosa chefiada por Carlinhos Cachoeira sofreu ontem um duplo revés. A pedido do Ministério Público, a Justiça do Distrito Federal decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do bicheiro, da Delta Construções e de sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel, deflagrada em 25 de abril. Além disso, a 5ª Vara Criminal de Brasília determinou nova prisão preventiva de Cachoeira; do contador do grupo, Giovani Pereira da Silva; e do braço direito do bicheiro, Gleyb Ferreira da Cruz. Eles são acusados de formação de quadrilha e tráfico de influência para obter o milionário contrato de bilhetagem eletrônica do transporte público no DF.
Devassa nas contas de Cachoeira e da Delta
Justiça do DF quebra os sigilos bancários e fiscal do bicheiro, da construtora e de mais sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel, deflagrada pelo Ministério Público local em abril
Ana Maria Campos
A Justiça do Distrito Federal decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do bicheiro Carlinhos Cachoeira, da Delta Construções e de sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel pelos crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência para tentar conseguir o contrato de bilhetagem eletrônica do transporte público coletivo do governo de Agnelo Queiroz (PT). Entre os atingidos com a medida estão todos os acusados na ação penal proposta nesta semana pelo Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF, entre os quais o ex-diretor da Delta para o Centro-Oeste Cláudio Abreu, que cumpre prisão preventiva no Complexo Penitenciário da Papuda, e o executivo da empresa em São Paulo Heraldo Puccini Neto, considerado foragido desde 25 de abril.
Os dados das contas correntes e declarações de Imposto de Renda dos investigados vão abranger o período de janeiro de 2009 até os dias atuais. A Delta Construções terá de encaminhar informações sobre a movimentação das contas bancárias da empresa em todo o país. A Operação Saint-Michel, um desdobramento da Operação Monte Carlo, obteve ainda a decisão judicial de sequestro e bloqueio dos bens de Cachoeira e de todas as pessoas físicas investigadas. Significa que o patrimônio declarado em nome dos integrantes do suposto esquema está indisponível enquanto a decisão estiver em vigor. A medida é uma forma de garantir ressarcimento de eventual prejuízo provocado aos cofres públicos pelo esquema criminoso e o pagamento da multa estipulada pela Justiça em caso de condenação.
Caso haja autorização judicial e interesse do Ministério Público, dados obtidos na Operação Saint-Michel poderão ser compartilhados com a Operação Monte Carlo e também municiar novas frentes de apuração. A princípio, a investigação não compromete a negociação de venda da Delta Construções para o grupo JBS. Mas a operação pode sofrer abalo com eventual pedido de bloqueio do patrimônio da construtora, caso haja indícios de crime de lavagem de dinheiro por meio das contas da Delta. Uma medida como essa em geral prejudica o capital de giro da empresa e, consequentemente, atinge qualquer negociação sobre seu passivo e ativo.
Transporte
A investigação dos promotores de Justiça do NCOC começou em março a partir de informações repassadas pelos procuradores da República que atuam em Goiás. Com base nas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, o Ministério Público do DF levantou indícios veementes de que havia intensa movimentação para que a Delta Construções pudesse conquistar um negócio promissor no DF: a operação do novo sistema de cobrança de passagens para o transporte coletivo por meio de cartões eletrônicos.
A licitação ainda não ocorreu. A intenção do governo do DF é promovê-la apenas depois de concluída a concorrência em curso para renovação de toda a frota de ônibus. As interceptações telefônicas da Operação Monte Carlo expuseram o suposto lobby para conquistar o negócio. Valdir dos Reis, um ex-servidor da Secretaria de Planejamento com bom trânsito no GDF, foi contratado pelo grupo de Cachoeira para uma aproximação com a Secretaria de Transportes e o DFTrans. Na casa dele, durante a Operação Saint-Michel, os investigadores encontraram uma minuta do projeto básico para licitação de bilhetagem eletrônica. O vereador Wesley Clayton da Silva (PMDB) de Anápolis e um suposto lobista, Dagmar Alves Duarte, teriam ajudado a tramar a manobra. Todos cumprem prisão preventiva, responderão à ação penal e estão incluídos na indisponibilidade dos bens e na quebra dos sigilos decretada pela 5ª Vara Criminal de Brasília.
O Correio tentou contato ontem com o advogado Márcio Thomaz Bastos, que representa Carlinhos Cachoeira. Ele, no entanto, disse que não poderia falar porque estava numa reunião importante. O advogado de Cláudio Abreu, Roberto Pagliuso, disse ontem ao Correio que não há motivos para manter o ex-diretor da Delta preso preventivamente, uma vez que ele vai colaborar com a Justiça. Os demais não foram localizados.
18 dias. Período que Heraldo Puccini Neto, diretor da Delta em São Paulo, está foragido. Ele teve a prisão decretada em 25 de abril
Habeas corpus é rejeitado
A 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios negou pedido de habeas corpus ao ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste Cláudio Abreu. Ele está preso desde 25 de abril, em um desdobramento da Operação Monte Carlo: a Saint Michel, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. A Justiça do DF considerou que Abreu poderia atrapalhar as investigações caso fosse solto. O advogado de Abreu, Roberto Pagliuso, pretende recorrer da decisão. "Me surpreende que, no âmbito da Monte Carlo, o Cláudio já havia sido denunciado por formação de quadrilha, mas a Justiça Federal não havia decretado a prisão preventiva dele", diz. Pagliuso defende que a prisão se contrapõe à presunção de inocência no caso de Abreu. Ele permanece preso dividindo uma cela com mais um interno da Papuda. (Arthur Paganini)
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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