sábado, 12 de maio de 2012

Planalto não convence nem a base ao negar interferência em compra da Delta

Membro da J&F confirma que governo foi consultado; empresa pode ser declarada inidônea

Cristiane Jungblut, Paulo Celso Pereira e Gustavo Uribe

BRASÍLIA - A versão do Planalto de que o governo não incentivou ou sequer avalizou a compra da construtora Delta pelo grupo J&F Holding - reforçada ontem em nota do Palácio do Planalto à imprensa - não convence nem aliados governistas no Congresso. A avaliação feita por deputados e senadores da base, nos bastidores, é que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles não tomaria a frente de uma operação delicada como esta sem o aval do governo.

Um membro da J&F Holding, ouvido pelo GLOBO, confirmou que houve uma consulta ao governo antes da costura do acordo para a compra da Delta. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Batista Junior afirmou que o governo federal tem interesse que a companhia atravesse esse momento de turbulência e dê continuidade às obras estratégicas, sobretudo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Em nota lida pelo porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, o governo nega interferência do Planalto nas negociações, afirmando que "são falsas as ilações de que a referida operação teve aval deste governo". Lembrou que está em curso na Controladoria Geral da União (CGU) o processo de decretação de inidoneidade da Delta.

A nota foi para contestar declarações de José Batista Junior, um dos controladores do Frigorífico JBS, publicadas ontem na "Folha de S. Paulo". Ele afirma que todo negócio é do conhecimento e tem o aval do governo federal.

Sendo ou não do interesse do governo, a operação de venda da Delta deveria ser impedida pela presidente Dilma Rousseff, defendeu ontem o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Classificando como "escândalo e vigarice" a venda da Delta, Simon afirmou que Dilma deveria chamar seus principais auxiliares e tomar providências:

- Acho um escândalo deixarem a Delta ser vendida na situação de hoje. E quem vai comprar a Delta é uma empresa que, com o dinheiro do BNDES, se transformou no maior frigorífico do mundo. Parece que, nesse negócio, o BNDES vai ficar sócio da Delta. O governo tem que interferir, tem que proibir, tem que considerar a Delta uma empresa inidônea - discursou Simon. - Presidente Dilma, essa ação exige a sua ação direta. Chame o presidente do BNDES, o presidente do Banco Central, o ministro da Fazenda, o ministro da Justiça e tome as providências. Não pode vender a Delta, enquanto ela estiver no meio desse comício todo.

Mostrando reportagem de ontem do GLOBO - "Venda da Delta está sob suspeita" -, Simon esbravejou:

- Suspeita uma ova! É vigarice, vender agora!

O tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) contestou o negócio:

- O seu próprio dono, Fernando Cavendish, disse que ela está quebrada. Então, isso não tem cabimento!

Até Delcídio Amaral (PT-MS) estranhou a negociação:

- Acho estranha essa operação quando você tem a CGU analisando a idoneidade da Delta.

Parlamentares da base afirmam, nas conversas reservadas, que o negócio não sairia do papel sem aval do Planalto.

- Essa operação lembra a do Casino-Pão de Açúcar. O governo inicialmente incentivou, mas diante da reação da opinião pública quis voltar atrás. Evidente que há aval do governo, até pelo protagonismo dela no PAC - diz um experiente deputado da base.

O PSDB quer que o empresário Joesley Batista, presidente da J&S, holding do JBS, e o presidente do BNDES deem esclarecimentos sobre a operação.

- Foi uma compra inusitada, num formato inusitado e com a participação inusitada do governo federal como agente interessado - criticou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Ontem a J&F Holding, que tem em sua presidência Joesley Batista, desautorizou ontem declarações do irmão dele, José Batista Junior. Em nota, a J&F Holding afirmou que as declarações de Batista Junior refletem "única e exclusivamente uma opinião pessoal" e estão em completo desacordo com os fatos: "A J&F esclarece que José Batista Junior, um dos acionistas da holding, não ocupa um cargo executivo no grupo há sete anos e, portanto, não participa das decisões estratégicas da J&F. Consequentemente, não foi envolvido na negociação com a Delta Construções, tampouco consultado".

FONTE: O GLOBO

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