Há uma avaliação positiva do quadro econômico brasileiro e mundial no Banco Central. A visão é que no exterior o pior cenário passou e a Europa está aos poucos resolvendo pontos que a levaram à beira do colapso. Quanto ao Brasil, está chegando ao fim o ciclo de baixo crescimento. O PIB poderá terminar o ano com o ritmo de 4% e até a inflação pode mandar boas novas.
Há um ano a visão do BC era a mais pessimista em relação ao quadro internacional. E foi essa previsão de deterioração da crise internacional que deu o impulso para derrubar a taxa de juros em agosto, quando a inflação estava em 7,3%. Os juros caíram, mas a inflação também caiu. O cálculo da autoridade monetária na época é que a crise reduziria preços de commodities e derrubaria a inflação.
Foi o que aconteceu e a taxa caiu por vários meses seguidos, até ficar abaixo de 5%. Voltou a subir agora. Em parte porque apesar de a crise continuar mantendo o baixo crescimento na Europa e nos Estados Unidos, e até desacelerando a China, a quebra de safra americana está afetando os alimentos.
A pesquisa feita pelo BC com o mercado financeiro mostrou nova queda da previsão de crescimento do PIB este ano, para 1,75%, e nova alta na estimativa de inflação, para 5,15%. Vários especialistas calculam que a seca de proporções bíblicas que atingiu o Meio-Oeste americano vai afetar o preço do frango e outros produtos que dependem do milho.
Não é essa a visão de analistas do BC. No Brasil, entrará a safrinha de milho, e o preço da carne bovina deve impedir repasses para o frango. Mas não é isso que se vê em muitos supermercados do país. Em agosto, a inflação pode ficar no mesmo nível de 2011 - quando deu 0,37% -, mantendo a taxa de 12 meses acima de 5%. Mas em setembro a inflação este ano deve ser menor do que os 0,53% de 2011, fazendo a taxa cair em 12 meses.
Não há dúvida no governo de que o crescimento do PIB será menor que 2%. A convicção, no entanto, é que o país terá uma retomada no segundo semestre e chegará ao fim do ano com um crescimento no ritmo de 4%. Na média, no entanto, o crescimento será baixo. Entre os fatores que elevarão o ritmo estão: o mercado de trabalho ainda forte, com aumento de renda e manutenção do emprego; e o impacto da queda de 450 pontos na taxa de juros, que terá efeito continuado nos próximos meses.
A inadimplência tem sido motivo de preocupação geral, mas aí também o governo encontra motivos de alívio. O nível de atrasos dos empréstimos concedidos em 2010 e começo de 2011 é maior do que o dos que foram concedidos no final do ano passado e começo de 2012. Os atrasos nos empréstimos concedidos a partir do segundo semestre do ano passado estão na média histórica. A explicação seria que o ritmo de crescimento do crédito estava muito forte, chegando perto de 25%, em 2010. E isso é que produziu o aumento dos atrasos. Depois disso, o BC tomou medidas de exigências de capital em empréstimos mais longos, o que reduziu a oferta. Hoje, o crédito continua crescendo, mas num ritmo mais moderado, de 15%. A queda do spread ajuda a derrubar o custo da dívida e, portanto, reduzir a inadimplência.
A Europa também é avaliada com uma visão mais benigna do que há um ano, quando parecia que o euro entraria em colapso. A crise será prolongada, mas a convicção no governo é que a probabilidade de um evento extremo está diminuindo. Com todas as idas e vindas, a Europa tem demonstrado que quer manter o bloco monetário. Quando o continente ressurgir da crise, estará com um custo de capital e de trabalho mais baixo, o que pode alavancar a retomada. Mas isso ainda demora.
FONTE: O GLOBO
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