Cristian Klein e Juliano Basile
SÃO PAULO e BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que declinará "educadamente" do convite do Congresso para depor sobre a chamada "lista de Furnas ". Recém-chegado de viagem a Nova York e Salamanca, FHC é alvo de um requerimento feito, na quarta-feira, pelo líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). "Não tenho a menor ideia desta lista. É sem base. Já foi considerada inidônea pela Justiça e pela Polícia Federal", afirmou o ex-presidente ao Valor.
A lista de Furnas é uma relação com nomes de políticos, empresários e magistrados que teriam participado de um esquema de corrupção e financiamento de campanha, que teria abastecido o caixa de candidatos principalmente do PSDB e do PFL, hoje DEM, nas eleições de 2002. O levantamento de recursos teria sido capitaneado pelo então diretor da estatal Furnas Centrais Elétricas, Dimas Toledo. A autenticidade do documento, porém, ainda é motivo de controvérsia.
O convite para FHC depor no Congresso é uma reação dos petistas à divulgação do depoimento do publicitário Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República, no qual o operador do mensalão, pela primeira vez, afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia e teria dado seu aval, em 2003, ao esquema de compra de votos de parlamentares.
Fernando Henrique Cardoso afirma que o depoimento de Valério pode confirmar a participação de Lula no mensalão. "Se ele [Valério] tiver como demonstrar, isso vai se somando a outras informações já sabidas. O [hoje] governador de Goiás alertou na época", disse o ex-presidente, em referência a Marconi Perillo, que teria avisado Lula sobre a existência do esquema de corrupção, antes do estouro do escândalo.
FHC diz esperar que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, avalie o depoimento de Valério para abrir ou não uma investigação sobre Lula. Questionado se as declarações do publicitário complicam a situação do ex-presidente, FHC afirmou: "Ele [Lula] está inquieto".
Também chamado a depor no Congresso, Roberto Gurgel, assim como Fernando Henrique, deve negar o convite, aprovado pela Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência.
Questionado sobre o assunto, ao sair da sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), Gurgel afirmou que "provavelmente, não". Ou seja, ele não deve aceitar.
O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), alegou que Gurgel deve prestar "esclarecimentos acerca da confluência das atividades de inteligência com o papel do Ministério Público e da Polícia Federal".
Os convites não são obrigatórios e a comissão presidida por Collor só se reuniu por três vezes neste ano. Além de ser uma reação ao depoimento de Marcos Valério à PGR, o convite foi aprovado numa manobra da base governista para evitar a aprovação da convocação dos ministros Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), além de convite à ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Nóvoa Noronha para prestar esclarecimentos sobre a Operação Porto Seguro da Polícia Federal, que investiga um esquema de fraudes em pareceres de órgãos do governo. Apenas os convites que desagradavam à base do governo foram rejeitados.
Fonte: Valor Econômico
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