quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Alianças devem definir futuro eleitoral de senadores neste ano

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Dos 81 senadores, 27 terminam o mandato em fevereiro de 2015. A maioria desses busca apoios para concorrer à eleição, mas, com apenas uma vaga em disputa, as candidaturas não estão garantidas. No entanto, o número de senadores que disputarão as eleições deste ano deve ser bem maior. Entre os 54 que têm mandato até 2019, há 18 que pretendem disputar o governo de seus Estados, um cotado para concorrer a vice-presidente e dois pré-candidatos à Presidência da República.

O quadro local de alianças partidárias ainda é indefinido e, em muitos casos, as negociações não guardam coerência com as coligações nacionais. Com a perspectiva de campanha eleitoral encurtada pela realização da Copa do Mundo no Brasil, de 12 de junho a 13 de julho, a tribuna ganha relevância para a exposição dos candidatos, especialmente os de oposição, que têm menos espaço na mídia.

No Senado, o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), terá de dividir com Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) o posto de oponente da presidente Dilma Rousseff. "A nossa candidatura vai ser a única de mudança, porque as outras três, Dilma, Aécio e o governador Eduardo Campos (PSB), são do establishment", afirma Randolfe, cujo nome foi lançado pelo PSOL para concorrer a presidente. Ele busca aliança com o PSTU e quer representar a população que foi às ruas se manifestar em meados de 2013. No fim de janeiro, pretende apresentar um "programa contundente de mudanças do Brasil".

"Quero resgatar o ideário de reformas, retomar a pauta da reforma agrária e questionar por que o Brasil tem a maior taxa de juros do planeta e é o 95º país do planeta em taxa de alfabetização [de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)]. Só quem vai ter legitimidade de apresentar essa pauta de reformas somos nós, porque a nossa candidatura não vai estar vinculada aos grandes banqueiros e ao agronegócio", diz Randolfe, líder do PSOL, do qual é único senador.

O líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), com mandato até 2019, é cotado para compor chapa "pura" com Aécio. O objetivo de Nunes Ferreira concorrer a vice-presidente seria dar mais densidade eleitoral para a chapa tucana em São Paulo. "Eu não sou candidato a nada", desconversa o senador.

O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), favorito nas intenções de voto para o governo do Piauí, que comandou por duas vezes (de 2003 a 2010), está começando a negociar apoios. O PT tenta manter aliança com o PSB do governador Wilson Martins, que, por sua vez, também conversa com PMDB e PSDB.

A situação do líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), é ainda menos clara. Pré-candidato a governador, ele tem bom desempenho nas pesquisas, mas luta pelo apoio do governador Cid Gomes (Pros) e do PT, mantendo aliança formada desde 2006. Se for preterido, não descarta a possibilidade de aliança com o PSDB do ex-governador Tasso Jereissati, que concorreria ao Senado.

"Meu desejo é a manutenção da aliança no Estado do Ceará. Se o governador Cid pudesse ser candidato, eu votaria nele. Como já foi reeleito e não pode mais disputar, é a vez de sentarmos todos numa mesa de negociação para, altivamente, discutir o futuro desse projeto no Estado", diz. "Estarei no palanque da presidente, mas não descarto a possibilidade de, em não sendo possível a manutenção da aliança, cada um ir para um lado, cuidar da sua vida, fazer as alianças que achar mais conveniente, do ponto de vista estadual, até porque não existe mais verticalização."

O presidente nacional do PSB e pré-candidato a presidente, Eduardo Campos, também tem aliados entrando em campo, como o líder, Rodrigo Rollemberg (DF). Rompeu com o governador Agnelo Queiroz (PT) para lançar sua candidatura. Na Bahia, a senadora Lídice da Mata (PSB) planeja disputar a sucessão de Jaques Wagner (PT), tendo como parceira a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que se filiou ao PSB e deve disputar o Senado.

O PMDB é o partido que mais tem senadores querendo disputar eleição para governador. Além de Eunício, são pré-candidatos o líder do governo na Casa, Eduardo Braga (AM), Ricardo Ferraço (ES), Roberto Requião (PR) e Clésio Andrade (MG). A situação é indefinida para todos. Braga, que governou o Amazonas duas vezes, diz estar disposto a concorrer, para ajudar a reeleição de Dilma. No Espírito Santo, o PMDB está dividido entre lançar candidato ou se aliar ao governador Renato Casagrande (PSB). Se a opção for pela candidatura própria, o ex-governador Paulo Hartung também é cotado.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), não está entra os 18 pré-candidatos a governador, porque tem dito que o candidato é seu filho, o deputado federal Renan Filho (PMDB). Mas, no Estado, seu nome circula.

Em Minas, o PMDB está dividido. Parte quer apoiar Fernando Pimentel (PT), mas a maioria defende candidato próprio. Clésio, que termina o mandato em 2015, lançou seu nome. "Estou bem nas pesquisas e tenho um discurso bom: o Estado [governado pelo PSDB] está quebrado, com graves problemas de segurança, saúde e educação. E o governo federal [do PT] tem feito muito pouco para Minas", diz. A estratégia é ser a terceira via e deixar PT e PSDB brigando. Não apoiaria candidato a presidente e os deputados seriam livres para optar.

A bancada do PT no Senado tem o segundo maior número de pré-candidatos a governador. Além do líder, Wellington Dias, pretendem concorrer Lindbergh Farias (RJ), Delcídio Amaral (MS) e Ângela Portela (RR). No Rio, a candidatura de Lindbergh levou à ruptura do PT com o governador Sérgio Cabral (PMDB), que cobra apoio ao vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Este é um dos entraves na relação entre PT e PMDB no plano nacional, assim como o caso do Ceará.

Delcídio, no Mato Grosso do Sul, pode concorrer ao governo em aliança, ainda que informal, com o PSDB. A relação do PT com o PMDB do governador André Puccinelli é complicada no Estado. O nome do PMDB mais cotado para disputar o governo é o de Nelson Trad. Puccinelli diz que não será candidato, mas dizem que pode concorrer ao Senado. Isso mudaria o quadro. Ao se desincompatibilizar, a vice-governadora Simone Tebet (PMDB) assumiria o governo e poderia disputar a reeleição. O leque de opções é amplo, mas Puccinelli, tradicional aliado do PSDB, agora diz que apoiará Dilma.

O PP do Senado tem dois pré-candidatos a governador: Ana Amélia (RS), assediada por partidos governistas e da oposição, que não quer falar de candidatura ainda, e Benedito de Lira (AL). Diferentemente da gaúcha, Lira diz que sua candidatura está "firme" e está negociando alianças. "Não fecho janela para ninguém", afirma.

O cenário eleitoral em Alagoas é animado, como sempre. Renan quer lançar o filho, mas o PT só garante apoio ao PMDB se o próprio senador for o candidato. Lira pode disputar aliado ao governador, Teotonio Vilela (PSDB), na vaga de senador. Mas o vice-governador, José Thomaz Nonô (DEM), se assumir com a desincompatibilização de Vilela, se fortalece como opção para o governo. Na oposição, Renan pode se unir ao senador Fernando Collor (PTB), em fim de mandato.

Dos senadores do PSDB, Paulo Bauer (SC) é único pré-candidato a governador. O PSDB tem afinidade com o PMDB em Santa Catarina, mas o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) está próximo de Dilma e a chance de aliança com os tucanos é menor. Bauer pode disputar com chapa pura. Outro senador tucano cujo nome é citado no Estado como opção para o governo é Cássio Cunha Lima, na Paraíba, mas ele tem dificuldades legais, por causa da Lei da Ficha Limpa.

Os outros senadores considerados prováveis candidatos a governador são Armando Monteiro (PTB), em Pernambuco, Sérgio Petecão (PSD), no Acre, Eduardo Amorim (PSC), em Sergipe, e Pedro Taques (PDT), no Mato Grosso. Taques ainda não se apresenta como pré-candidato. Seu partido conversa com aliados, como PSB, PPS, PV, PSDB e DEM. O PTB está sendo atraído. "Mais do que definir nomes, estamos definindo o que queremos fazer. Nomes, existem outros, como o meu. Não sei se vou sair daqui", diz Taques.

Também há muita indefinição quanto ao destino eleitoral dos senadores que encerram os mandatos em fevereiro de 2015. Alguns têm dificuldade de apoio para disputar a reeleição, já que apenas uma vaga será aberta por Estado (as outras duas serão renovadas apenas em 2019) e é usada pelos candidatos a governador para reforçar as coligações.

Fonte: Valor Econômico

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