quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Jarbas de Holanda: Autodefesa do PMDB e os palanques estaduais

As bancadas federais do PMDB, sobretudo a da Câmara mudando o tom das relações com o Palácio do Planalto e com o PT, de um lado complicaram o rearranjo eleitoral do Ministério, até o ponto de abrirem mão da continuidade de titulares do partido em pastas do enorme primeiro escalão. E, de outro lado, reforçaram a autonomia dos diretórios de vários estados para montarem ou integrarem palanques locais desvinculados da exclusividade de apoio à candidatura presidencial governista (como no caso do Rio de Janeiro), ou que poderão respaldar a do oposicionista Aécio Neves (como o do Ceará). Quanto ao Ministério, as duas bancadas rejeitaram (confirmando recusa do próprio indicado) convite da presidente ao senador Eunício Oliveira para uma dessas pastas, em troca de sua desistência de disputar o governo cearense em confronto com os irmãos Gomes e o PT e numa articulação com o PSDB de Tasso Jereissati. E para desqualificar os efeitos negativos de possível redução do espaço do PMDB no Ministério, o líder na Câmara, Eduardo Cunha, enfatizou avaliação já feita antes de que as pastas com titulares vinculados ao partido são, predominantemente, controladas por secretários-executivos ou assessores especiais da confiança direta da chefe do governo.

A esse choque com o Executivo soma-se o motivo principal da rebeldia dos peemedebistas: a percepção de ampla ofensiva do PT para reduzir e minimizar o papel político institucional deles por meio da conquista do controle da Câmara dos Deputados. Ofensiva apoiada na gestão pelo partido de pratica-mente todos os programas sociais do governo federal. Que se radicalizou com as reações dos petistas às posturas do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, a respeito dos desdobramentos das decisões do STF sobre o processo do mensalão. E reações que, por sua vez, ampliaram espaço, nas campanhas para a eleição de deputados e senadores petistas, para ataques à “imprensa burguesa” e à defesa de uma regulação “popular” da mídia.

Um sucesso dessa ofensiva, combinado com um aumento da representação de partidos “mais confiáveis” da base governista, debilitará o peso do PMDB, como força não esquerdista, na disputa do comando das duas Casas do Congresso. E tal combinação, tendo bons resultados, especialmente na Câmara, serviria a um objetivo importante do lulopetismo nos pleitos deste ano e futuros: manter e ampliar predomínio no uso do tempo de propaganda eleitoral “gratuita” e na distribuição dos recursos do Fundo Partidário, que dependem da composição partidária desta Casa.

Ao ex-presidente Lula está cabendo, certamente, o comando de articulações para contenção e possível reversão dos “estragos” no relacionamento do PMDB com o Executivo, bem como para afastar o perigo maior de reprodução deles na campanha reeleitoral de Dilma Rousseff. “Estragos”, político-administrativos e eleitorais, que, no caso deste relacionamento, são agravados pelo emergente antipeemedebismo dos petistas, mas transcende isso, refletindo a recorrente prepotência da presidente em relação ao Congresso e à própria base partidária governista. E “estragos” que, sem peso suficiente pelo menos até agora para pôr em xeque a presença do PMDB na aliança nacional para a reeleição, poderão esvaziá-la com significativa divisão do maior aliado. A qual, adicionalmente, estimularia a de outros partidos (PP, PDT, PTB) que Lula tentará limitar a todo custo.

Mas as alternativas de que essa divisão seja restringida ou ganhe ampla dimensão vão depender de condicionantes econômicas, sociais e políticas a se configurarem bem até as convenções partidárias do meio do ano. Entre as econômicas, aquelas ligadas à inflação, aos juros, ao comportamento do PIB, à qualidade e à credibilidade das ações do governo. Entre as condicionantes sociais – inclusive em manifestações de rua – os efeitos de provável agravamento dos problemas da economia e do precário gerencia-mento da máquina federal pela presidente/candidata. Entre as de caráter propriamente político, a capacidade, ou a incapacidade, das campanhas de Aécio Neves e de Eduardo Campos de capitalizarem a expectativa de mudança, que se afirma em crescentes camadas da população.

Jarbas de Holanda é jornalista

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