"A nova Política" é o nome de ma coletânea de artigos, palestras, discursos e documentos oficiais", de autoria do ditador Getúlio Vargas, editada durante o período de vigência do Estado Novo. Muitos escritos pelo seu "ghostrother" Marcondes Filho. Os vitoriosos do movimento civil-militar de 1930 adotaram essa terminologia para se diferenciar dos políticos "carcomidos" da chamada República Velha ou a Primeira República.
Coincidência ou não, um dos prováveis candidatos à Presidência da República, nas eleições desse ano, adotou como lema do seu programa o mesmo título (A Nova Política). Curiosamente, há mesmo pontos em comum entre o chefe do Estado Novo e o discurso poticiamentenovo do candidato. Senão, vejamos.
O caráter profundamente autoritário da ideologia estadonovista, aliado a uma profunda convicção modernizadora, que colocou de lado a representação parlamentar, cercando-se de burocratas para administrar o país. Inspirado no fascismo de Mussolini, Vargas implantou um regime policial no Brasil, criminalizando toda forma de protesto social. Os sindicatos transformaram-se em agências de prestação de serviço de saude e/previdenciário, sendo estritamente controlado pela policia. Fazer oposição à Ditadura varguista foi quase impossível. Que o diga Gilberto Freyre, preso mais de uma vez pela polícia política de Agamenon Magalhães.
A propaganda fascista ou para-fascista, destinada a produzir o "consenso máximo" entre as pessoas, com o auxilio da Igreja, e da incitação anti-comunista. Na nova versão, o discurso (e as práticas) do candidato à ditador pretende alcançar o "consenso" dos desavisados, usando a propaganda institucional dos atos de governo para fazer a população "vestir a camisa" da gestão, seja através do futebol, seja pelo carnaval, pelas procissões religiosas, pelo nome dos familiares espalhados nas praças, avenidas, hospitais e ruas, ou seja pela onipresença na mídia através de "factóides". Confirma-se, nesse caso, a tese de conhecido teórico,de que a emergência dos novos meios de reprodução tecnológica da cultura fêz dos políticos atores, demagogos e ditadores. A espetacularização da política só esconde o seu conteúdo conservador, anti-democrático, anti-popular.
O conteúdo "moderno" da gestão: a socialização das perdas e a privatização dos lucros. Política hobinhoodiana de cabeça para baixo. Tirar de quem não tem (pela renúncia fiscal e outras benesses governamentais) para dar a quem já tem muito. E tudo em nome do desenvolvimento, da produção de riquezas, de atração de novos investimentos etc. Ou ainda, colocar o aparelho público a serviço da acumulação privada de capital. O estado gasta milhões na infra-estrutura da cidade e da região, para depois as empresas se estabelecerem, sem pagar nada e ainda beneficiadas com renúncia fiscal.
Onde certamente, a ditadura do Estado Novo se diferencia desses "novos" administradores é no caráter da prestação dos serviços de utilidade pública. Enquanto Vargas estatizou a prestação dos bens de utilidade pública e legalizou as relações de trabalho no Brasil, através da instituição da carteira de trabalho e da legislação trabalhista, o novo e moderno gestor se distingue pela privatização branca das políticas sociais, com a ajuda "desinteressada" do terceiro setor, e aposta na precarização das relações de trabalho no estado.
Há quem diga que é das coalizações políticas centralizadoras no Brasil que as mudanças são possíveis. Mas essa ditadura disfarçada dos novos gestores não traz ou apresenta absolutamente nada em favor dos mais pobres e miseráveis. Seu conteudo é privatizante. Seu involucro ou embalagem é fascista ou para- fascista.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco
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