A deserção de médicos cubanos –sabe-se lá quantos são– é um novo obstáculo na reaproximação Brasil-EUA.
Antes de negar publicamente a concessão de asilo ao delator Edward Snowden, Dilma Rousseff mandou o chanceler Luiz Alberto Figueiredo telefonar para a embaixadora americana, Liliana Ayalde, dizendo que essa era uma decisão cristalina, irrevogável. O Departamento de Estado, obviamente, gostou tanto da decisão quanto da deferência.
Agora, seria a hora da contrapartida, mas ela não está sendo como o Brasil gostaria. Pelo contrário, ao pular fora do Mais Médicos, a cubana Ramona Rodriguez imediatamente pediu visto para ir aos EUA. Dias depois, soube-se que seu colega Ortelio Jaime Guerra não apenas pediu o visto, como o obteve e até já estava "a salvo" em solo norte-americano.
O imbróglio diplomático é, portanto, triangular. Os médicos saem de Cuba, vêm para o Brasil embolsando míseros US$ 400 (em torno de R$ 1 mil) e escapolem pelas fronteiras, graças à mão amiga da embaixada americana, para um programa dos EUA feito especificamente para acolhê-los. O Itamaraty se comporta como se não fosse com ele, e talvez não seja mesmo.
Vejamos: quem negociou o pacote com Cuba, via Opas (Organização Pan-Americana da Saúde, da ONU), foi o Ministério da Saúde, com o beneplácito e até o estímulo do Planalto. Não é segredo para ninguém que, desde Lula –e lá se vão mais de dez anos– as negociações entre Havana e Brasília são como brigas de marido e mulher: ninguém mete a colher. Nem mesmo o Itamaraty, que, geralmente, é o último a saber.
Por isso, hoje a atenção máxima do governo está exatamente nos cubanos que estão desertando. Eles não só esgarçam a bandeira eleitoral do Mais Médicos como criam constrangimento com Havana e aumentam a desconfiança brasileira com os EUA –que já não é pouca.
Mas não foi por falta de aviso.
Fonte: Folha Online
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