César Felício – Valor Econômico
BRASÍLIA - Detentor de 23% do eleitorado nacional e sem candidato próprio a presidente pela primeira vez desde 1950, o Estado de São Paulo será o eixo central das campanhas presidenciais de Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), os dois principais adversários da presidente Dilma Rousseff na eleição.
O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que está morando em São Paulo desde o mês passado, estuda com a sua pré-candidata a vice, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, entregar a uma liderança de São Paulo a coordenação-geral da campanha. O favorito para desempenhar o papel é o deputado Márcio França, que havia sido lançado pré-candidato a governador em março. Uma reunião prevista para a noite de ontem entre Campos e Marina, em Brasília, deveria decidir a questão, que pode deixar o PSB paulista livre para apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Caso não tenha candidato próprio em São Paulo, Campos perderia espaço no horário eleitoral gratuito, já que não estaria representado no tempo destinado aos postulantes do Estado. Mas o comando da campanha de Campos faz duas apostas para dividir os votos do maior colégio eleitoral do país: a presença física do candidato no Estado e o baixo potencial de transferência de votos de Alckmin para o candidato de seu partido. Por esta tese, retraído pelo desgaste dos tucanos após 20 anos de poder regional em São Paulo, Alckmin teria necessidade de montar uma coligação ampla, com aliados sem compromisso eleitoral com Aécio. Segundo aliados de Campos, as três candidaturas presidenciais devem ficar na faixa de 30% dos votos válidos no Estado.
O senador tucano Aécio Neves esteve ontem em dois compromissos na capital paulista, onde já havia participado das comemorações de 1º de maio. Na próxima semana, voltará duas vezes a São Paulo, para agendas em Ribeirão Preto e na região metropolitana oeste da capital. Aécio não descarta concentrar no Rio de Janeiro, onde tem residência, a produção de seus programas para o horário eleitoral. A mulher do candidato, Leticia Weber, está grávida e deve dar à luz na primeira semana de agosto. Mas sua presença em São Paulo poderá estar ancorada com um vice paulista em sua chapa, segundo comentou o presidente estadual do PSDB, deputado Duarte Nogueira.
"Isso poderá aumentar sua identificação com o Estado, que já estará garantida pela amarração que estamos fazendo entre a campanha pela reeleição de Alckmin e a candidatura presidencial do Aécio", afirmou Nogueira. O parlamentar disse que a coordenação de Aécio em São Paulo tem como meta obter 10 milhões de votos em outubro, um objetivo que representaria quase a repetição do resultado de 2010, quando o então candidato José Serra obteve 40,6% do total, ou 9,5 milhões de votos.
O deputado admitiu, entretanto, que Alckmin poderá ter companheiros de chapa sem compromisso com a candidatura presidencial. "As alianças não necessariamente se repetem", disse. A convenção que deve oficializar Aécio como candidato presidencial acontece em São Paulo, no dia 14 de junho. O encontro estadual do partido, que define a candidatura de Alckmin à reeleição e escolhe o nome para o Senado e para vice-governador, entretanto, só acontecerá no dia 28. "Nenhum candidato para senador ou vice deve ser lançado até lá", disse Nogueira.
A presidente Dilma Rousseff ficou em segundo lugar no Estado nas eleições presidenciais de 2010, com 37,3% dos votos no primeiro turno. Foi uma votação praticamente idêntica à obtida por Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, quando conseguiu 36,8% e também ficou em segundo. No comando da campanha da petista, não se espera um resultado melhor nas eleições deste ano, mas se conta com um desempenho pior dos tucanos: é feita a aposta que a crise de abastecimento de água no Estado já está contaminando a popularidade de Alckmin e pode debilitar Aécio por tabela. Nos cálculos petistas, Aécio conseguiria em São Paulo cerca de 30% do total, percentual semelhante ao obtido por Serra nas eleições de 2002.
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