domingo, 22 de junho de 2014

Dilma se lança como a candidata da mudança

• Presidente disse não ter rancor de ninguém, mas que também não vai 'abaixar a cabeça'. Mais cedo, Lula declarou que 'criador e criatura' podem conviver

Catarina Alencastro e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA - Apesar da longa comparação entre o governo do PT e os governos anteriores, deixando clara a diferença entre "nós", do PT, e "eles", da oposição, em seu discurso na Convenção Nacional do PT, realizado neste sábado em Brasília, a presidente Dilma Rousseff disse que não tem ódio nem rancor de ninguém. Lembrando os tempos da ditadura, afirmou que mesmo quando tentaram destruí-la física e emocionalmente, ela não teve ódio, embora não se dobre a ninguém. Assim como o ex-presidente Lula, no discurso que proferiu antes dela, Dilma conclamou a militância a sair explicando nas ruas tudo o que sua gestão e a de Lula fizeram nos últimos 11 anos. E fez um chamado para que a campanha seja uma festa de paz e alto astral.

- Nunca fiz política com ódio. Mesmo quando tentaram me destruir física e emocionalmente por meio do uso de violência, eu continuei amando o meu país e nunca guardei ódio de ninguém. Quem se deixa vencer pelo ódio faz o jogo do adversário. Não tenho rancor de ninguém, mas também não vou abaixar minha cabeça. Não insulto, mas não me dobro. Não me assusto, não agrido, mas também não fico de joelhos para ninguém. Não perco tempo tendo rancor de meus adversários, isso não traz força nenhuma, nem mérito para ninguém. Tenho muito mais o que fazer. Nossa campanha precisa ser antes de tudo uma festa do alto astral. Abaixo o pessimismo, a mediocridade e o baixo astral. No Brasil as grandes vitórias são construídas com o fermento do otimismo e da alegria - discursou.

No longo discurso, de quase uma hora, Dilma citou todos os programas petistas, como o Brasil sem Miséria, o Minha Casa Minha Vida, o Ciência sem Fronteiras e o Mais Médicos. Mas em poucos momentos conseguiu empolgar a militância. A plateia se animou mais quando Dilma começou a falar da Copa, defendendo o evento contra o que ela chamou de "mau agouro" dos "pessimistas".

- Vejam, a Copa esta dando uma goleada descomunal aos pessimista que disseram que ela não ocorreria, os que falaram que não ia ter Copa. Por isso a nossa força está no fato de que sonhamos, que temos sonhos utópicos, heróicos, e sem limites. Vamos amar nosso país, nossa camiseta verde e amarela, vamos torcer pelo nosso time. E não vamos deixar jamais o ódio prosperar em nossas almas. Vamos recolher as pedras que lançam contra nós e vamos transformar essas pedras em tijolos para fazer o Minha Casa Minha Vida - disse, em referência ao programa habitacional de seu governo.

Lula: 'criador e criatura podem conviver'
Antes de Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos militantes que se informem sobre as conquistas dos 12 anos do PT no governo e que disputem nas ruas os votos. Segundo ele, esta será uma eleição difícil e agressiva, lembrando de sua reeleição em 2006, depois do episódio do mensalão.
- Nós, militantes do PT, precisamos saber que eleição se ganha primeiro com um bom programa e, segundo, mostrando o que a gente fez. A gente tem obrigação de mostrar o que a gente fez em 12 anos e eles em um século - discursou Lula, referindo-se aos partidos que hoje estão na oposição.

O ex-presidente disse que nos quatro anos de governo Dilma cumpriu o que prometeu em janeiro de 2011, quando ela assumiu a Presidência, e ressaltou que não há divergências entre os dois. Ambos foram recebidos pela militância com os gritos de guerra "ole, ole, ole, olá, Lula, Lula" e "ole, ole, ole, olá, Dilma, Dilma".

- Dilma, a gente vai provar mais uma coisa neste país: que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem juntos, com harmonia - afirmou.

O ex-presidente Lula também elogiou o Mundial e comparou a campanha ao jogo entre a Costa Rica e a Itália, na qual o país centro-americano venceu, contrariando todas as projeções. Ele acrescentou que Dilma sofrerá novamente nesta campanha preconceito por ser mulher.

- Temos que ter orgulho de ir para a rua e defender essa mulher contra todo e qualquer preconceito, porque na cabecinha deles, mulher nasceu para ser mulher de cama e mesa. Mas para a gente, mulher é agente transformador.

Lula pontuou toda sua fala demarcando a diferença entre "nós", os petistas, e "eles", a oposição.

- Não tenham medo de comparar nada com eles, sei que isso incomoda. Precisamos saber que o que vai ganhar a eleição não é o tempo de TV, nem a qualidade da nossa propaganda na TV, é a adrenalina e a nossa capacidade de mostrar que a gente fez cada vez que for para a rua. Fico imaginando que este país foi governado por engenheiros, doutores, intelectuais, que não vou nem citar o nome, porque vão pensar que estou falando nele (em referência a Fernando Henrique), e governaram para apenas um terço da população - afirmou.

Gilberto carvalho diz que o governo quer paz
Ao contrário de Lula, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, afirmou que a tônica da campanha de reeleição não será agressiva. Segundo ele, não haverá estímulo ao ódio entre os que apoiam o atual governo e os que o rejeitam, o governo quer a paz. O ministro foi um dos primeiros a chegar à Convenção Nacional do PT.

Ele não quis comentar a divergência que teve com dirigentes do partido, entre eles o próprio ex-presidente Lula, de que os xingamentos que Dilma sofreu na abertura da Copa do Mundo partiram da elite branca.

- Quem apostar na luta ódio contra ódio vai perder. Não vale a pena. O presidente Lula, como eu, nós temos denunciado uma prática de disseminação de um ódio de classe contra aqueles que tentam a mudança no país, a gente privilegiada que não quer a mudança. É disso que se trata a nossa insurgência. Nós não somos portadores do ódio e nem queremos polemizar nesse sentido. Nós não fizemos um governo de ódio, fizemos um governo que procurou unificar o país. Nós queremos é a paz. Queremos a cultura de paz e de fraternidade - afirmou Gilberto.

Ele disse ainda que as pessoas que são contra o governo querem impingir no partido a marca de "autores da corrupção".

- Felizmente é uma minoria (que) dissemina esse ódio difundindo inverdades, como por exemplo de que nós somos os grande autores da corrupção, que nós somos aqueles que se apoderaram do aparelho de Estado para os seus companheiros, para os petralhas, e assim por diante avaliou o ministro, que durante todo o governo Lula foi seu braço direito, ocupando o cargo de chefe de gabinete.

Gilberto também aproveitou para voltar a defender o polêmico decreto presidencial que cria a Política Nacional de Participação Social e regula a estrutura dos conselhos nacionais consultivos. Segundo ele, não é verdade que os conselhos são órgãos de aparelhamento da militância petista para ter mais poder dentro do governo. Ele disse que há muito "quebra-pau" nas reuniões desses colegiados e pressão sobre o governo. E que ele mesmo já foi vaiado.

- Os conselhos são palcos de grandes polêmicas, de grandes quebra-paus, de grandes cobranças em cima do governo. É evidente que quem participa dos conselhos é um padrão de gente que gosta da militância, mas tem militância de centro, de direita e de esquerda representada nos conselhos. Fui vaiado fortemente. Precisamos desmontar essa ideia de que essa coisa dos conselhos é uma coisa meio chavista, meio bolivarianista. Não estou falando que é uma coisa equivocada o bolivarismo, não me cabe esse papel, estou dizendo que é uma outra filosofia de governo onde a sociedade comparece, com muita autonomia, debate, isso faz parte da educação democrática do País - disse Gilberto, repetindo expressões já usadas pelo presidente do PT, Rui Falcão, para rechaçar as críticas que o decreto vem sofrendo.

Ele garantiu que o governo não vai desistir do decreto, mas tem tentado convencer o Congresso de promover um debate em torno do tema, em vez de fazer uma votação secreta para rejeitar o texto do governo. Para Gilberto, o decreto deve ser mantido e, se os parlamentares quiserem fazer uma proposta que o complemente, que o façam.

- Não vejo por que mudar o decreto, vejo a possibilidade de você deixar o decreto, criar outro projeto de lei, porque aí sim esse projeto de lei poderia trazer inovações. Esse decreto, insisto, não traz - disse o ministro, reforçando a defesa do governo de que o decreto não muda a estrutura já existente dos conselhos, apenas a organiza.

Temer: 'terei a honra de ser reeleito com ela'
Em seu discurso, o vice Michel Temer, que também foi oficializado na chapa de reeleição, disse que é preciso acabar com a besteira de que Dilma só governa para um setor. Ao citar números do governo, Temer afirmou que toda a população brasileira viveu ascensão social.

- Em todas as classes houve uma ascensão social. A classe A e B passaram de 7,6 para 12,5. É um governo para todos os brasileiros. Vamos acabar com essa besteira de dizer que governo Lula e o governo Dilma trabalharam apenas para um setor. Vou ter a honra de ser reeleito com ela - disse o vice, que recebeu uma distinção especial, sendo chamado de "companheiro de caminhada".

Temer afirmou ainda que com a reeleição de Dilma o Brasil viverá uma "festa da democracia".

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab Kassab, também esteve presente, mas foi vaiada quando foi chamado ao palco. Além de Kassab, dirigentes de outros seis partidos estiveram na convenção: Renato Rabelo (PCdoB); Ciro nogueira (PP), Eduardo Lopes (PRB), Euripedes Jr. (PROS), Valdir Raupp (PMDB), e Manoel Dias (PDT).

O PTB, que resolveu romper com o governo Dilma e retirar o apoio à reeleição, não mandou representantes. O presidente nacional, Benito Gama, marcou pronunciamento no mesmo horário da convenção petista, em Salvador, para explicar o desembarque.

Ao chegar ao evento, o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) minimizou a saída do PTB
- Estamos vendo isso de forma muito tranquila. A importância disso na eleição é próxima de zero. No Rio Grande do Sul o PTB vai continuar fazendo campanha para nós. E o tempo de TV, a gente já tem um tempo de TV muito razoável, não faz tanta diferença.

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