- O Estado de S. Paulo
Parece que na medida em que caem os índices da presidente Dilma Rousseff, o PT intensifica o discurso autoritário numa incompreensível reação à insatisfação do eleitor com o governo, com origem na baixa qualidade dos serviços públicos.
Não é perceptível o que orienta o partido a investir num discurso ideológico radical ante a cobrança por resultados que, ruins, afetam o cotidiano do cidadão. E de insistir na estratégia de encontrar bodes expiatórios para oferecer ao eleitorado.
Nessa toada, o partido já produziu o discurso do medo, depois o do ódio, apostou na divisão de classes, elegendo uma elite branca como a adversária da sua candidata, produziu um decreto criando conselhos populares para enfrentar o Congresso e, por fim, a pérola das pérolas, uma "lista negra" de jornalistas.
Sem esquecer a pauta permanente da censura à imprensa. O conjunto da obra o alinha ao discurso e prática militares dos anos da ditadura, sem a força das armas, mas com o patrulhamento ideológico que considera impatrióticos e direitistas todos aqueles que não concordam com o governo.
Os jornalistas independentes são para o PT os subversivos que conspiram contra a pátria, tal qual nos tempos de exceção.
A lista de nomes também era comum à época e os censores nas redações precisariam ser reproduzidos para que o controle da mídia, pregado pelo partido, fosse aplicado.
Não se deve duvidar do surgimento de outras listas, com profissionais de outras atividades, intelectuais divergentes, artistas, o que equivaleria a uma versão tupiniquim do macarthismo que marcou o auge do anticomunismo nos Estados Unidos, acusado de imperialista pelo PT.
É de se concluir que o poder fez mal ao PT. Os maus resultados da gestão petista, que atingem antes o País, lançaram a legenda na busca de uma narrativa para a campanha eleitoral, de forma tão errática, que o impensável aconteceu: o ministro Gilberto Carvalho, olhos e ouvidos de Lula no Planalto, desmentiu a tese do ex-presidente sobre a "elite branca", eleita como a que vaiou e xingou a presidente Dilma no estádio.
O episódio, que já valeu reprimendas ao ministro de Lula, reflete a desorientação na campanha da presidente Dilma, dividida entre os que acham que ela deve radicalizar o discurso e os que defendem que apresente realizações.
Há pouco o que mostrar e o marketing não pode tudo, especialmente vender o que não existe, mas foi anunciado. Essa realidade restringe a campanha de Dilma ao discurso propositivo, o que é insuficiente para um partido no poder há mais de uma década.
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