• Benito Gama avisou a Berzoini e Mercadante que não apoiaria a petista; Ministros e deputados do PT, no entanto, disseram que foram pegos de surpresa
Leticia Fernandes, Simone Iglesias e Renato Onofre – O Globo
RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - O PTB decidiu não apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff, depois de ter se comprometido com o PT e de, há um mês, ter oferecido um almoço, na sede do partido, em Brasília, para a presidente. Eles declararam que vão caminhar com o tucano Aécio Neves, também pré-candidato ao Planalto.
O presidente nacional do PTB, Benito Gama, telefonou na sexta-feira à noite para os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) para informá-los da decisão. Eles insistiram para que a aliança não fosse desfeita, mas, diante dos problemas nos estados, principalmente em Roraima e Brasília, Gama disse não tinha condições — nem tempo hábil — de conter a insatisfação. O presidente da legenda fez uma sondagem por todo o país, e apenas em Alagoas e Pernambuco os diretórios votaram pela manutenção da aliança com os petistas.
— Eu avalizei tudo isso até agora, mas chegamos ao limite e contaminou a convenção. Mandei sondar o Brasil todo, e a convenção era majoritária para o Aécio. Os únicos setores do PTB que não apoiaram isso foram os de Pernambuco e Alagoas. O Collor tem apoio fechado com o PT — disse.
Segundo ele, a convenção nacional do PMDB, que decidiu, em uma votação apertada, por continuar ao lado de Dilma, contaminou o partido, que preferiu seguir com os tucanos. O Aezão, movimento no Rio de apoio a Aécio e ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), capitaneado por Jorge Picciani, presidente estadual do PMDB, também contou a favor do rompimento:
— A convenção do PMDB animou um pouco a gente, contaminou todo mundo. Esse projeto do Aezão no Rio também, o PTB do Rio vota no Pezão e no Aécio, então a maioria dos deputados estavam insatisfeitos com o palanque.
Benito Gama disse ainda que preferiu alertar logo os petistas para evitar um possível constrangimento da presidente Dilma, que, segundo ele, sempre foi correta com o partido:
— Até três semanas atrás, estávamos num viés de aprovação à presidente, ela sempre foi correta com o partido. Eu não ia deixar a presidente ir lá (na convenção) ou avisar na véspera, preferi fazer o anúncio hoje. Falei ontem à noite com o Berzoini e o Mercadante. Eles tentaram muito nos segurar, mas não tem mais tempo, temos cinco dias para a convenção. Faltou um pouco de coordenação — criticou o presidente, acrescentando que o ex-deputado Roberto Jefferson, condenado do mensalão que cumpre pena em presídio no Rio de Janeiro, não participou das discussões, mas já foi informado da posição do partido:
— Agora ele já sabe, mas ele não participou. Ele sempre me deixou tomar qualquer decisão que ele apoiaria, porque eu estou sentindo aqui fora o que está acontecendo.
Em nota, assinada por Gama, a legenda anunciou que integrará a aliança em favor do candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves.
“Hoje, mais uma vez sintonizada com o desejo de mudanças que vem sendo expressado pela ampla maioria do povo brasileiro, o PTB declara seu apoio ao senador Aécio Neves para as eleições presidenciais desse ano”, diz a nota. “Essa decisão atende o clamor da maioria da bancada federal e de estados, onde os conflitos locais entre PTB e PT ficaram insustentáveis, como, por exemplo, Distrito Federal, Roraima, Piauí e Rio de Janeiro”.
O PT foi surpreendido pela decisão do PTB. Na convenção nacional que vai referendar a indicação da presidente Dilma, neste sábado, ministros e deputados disseram que foram pegos de surpresa e que não estava no radar do governo e do partido perder tão perto do fim do prazo das coligações o apoio do PTB.
— O PT não cumpriu nada que prometeu. Só nos empurrou com a barriga — diz um dirigente do PTB.
A cúpula do PTB, comandada por Benito Gama, estava reunida desde quinta-feira, em Brasília, arquitetando a virada de mesa. Entre os motivos elencados pelos petebistas estão a falta de apoio do PT a dois senadores: João Vicente Claudino, que desistiu de concorrer à reeleição no Piauí porque os petistas vetaram seu nome, e Mozarildo Cavalcanti, em Roraima, que também esbarrou na falta de apoio do PT.
Em nota oficial, o senador João Vicente (PTB-PI) disse que a decisão, "abrupta" e "inexplicável", faz parte do lado obscuro da política. E completou: "o PTB do Piauí vota em Wellington Dias (PT) e Dilma, enquanto estivermos na política".
A cúpula petebista diz também que o Palácio do Planalto se comprometeu em bancar a indicação do senador Gim Argello para o TCU mesmo sabendo dos processo dele na Justiça. No entanto, diante da repercussão, os petebistas viram o Planalto lavar as mãos - o que foi qualificado pelo PTB como "uma sacanagem" e alimentou o desejo de migrar para a candidatura de Aécio Neves.
O tucano vinha mantendo conversas com Benito há meses. Nos últimos anos, ele também conversava sistematicamente com o ex-presidente da legenda Roberto Jefferson, preso por envolvimento no mensalão. Segundo petebistas, pesou na decisão, agora, a desidratação de Dilma e a relação difícil estabelecida com as bancadas do PTB no Congresso Nacional. Na maioria dos estados, a decisão foi um alívio porque havia muita resistência ao apoio à reeleição.
Questionado se haveria algum tipo de constrangimento em receber apoio de um mensaleiro, já que historicamente o PTB é comandado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, condenado e preso no processo do mensalão, Aécio minimizou.
— É uma aliança de partido. Não cabe a mim fazer avaliações individuais — afirmou Aécio.
A convenção petista, que acontece neste sábado em Brasília, e está homologando a candidatura de Dilma Rousseff à presidência, foi alvo do tucano.
— Recebo informações de que na convenção do PT a palavra que mais se fala é mudança. Chego a conclusão que esse governo é tão ruim que até o PT quer mudar — afirmou Aécio.
As especulações sobre quem vai ser o vice na chapa do senador Aécio Neves ( PSDB) à presidência da República também marcou a convenção do Solidariedade, que confirmou o apoio aos tucanos. A aproximação entre PSDB e PSD conduzida nas últimas semanas por aliados de Aécio esfriou. Aumentou a especulação sobre o nome do ex-senador Tasso Jereissati caso os tucanos optem por uma chapa puro-sangue. O PSDB, disse Aécio, já acertou o apoio do PTB, que deverá fazer o anúncio oficial.
— Deixo para as lideranças do PTB se pronunciarem sobre isso - afirmou Aécio Neves, sem deixar de esconder o sorriso no rosto.
Segundo líderes do Solidariedade e de tucanos próximos a Aécio, a provável escolha de Márcio França (PSB) para vice do governador Geraldo Alckimin (PSDB) inviabilizou a aproximação com o PSD, que queria indicar o vice na chapa tucana ao governo paulista.
— Estávamos otimistas com a possibilidade de ter o PSD na nossa chapa, mas a escolha do PSB para a vice do Alckimin inviabilizou a aproximação — afirmou o presidente nacional do PSD, o deputado federal Paulinho da Força.
Apesar de ter declarado apoio público a presidente Dilma Rousseff (PT), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, vinha negociando o apoio da legenda aos tucanos nas últimas semanas.
— Mas ainda há chances — afirmou um tucano próximo a Aécio.
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